terça-feira, 26 de agosto de 2014

É o crescimento, estúpido!

O défice continua a derrapar. A dívida pública continua a aumentar. Dados da última execução orçamental conhecidos no dia de ontem. Não vejo qual seja a novidade. O 'inconseguimento' deste governo para cortar na despesa é atroz. E não me venham dizer que foi por causa do TC. Há muita muita mais despesa para além dos salários e das pensões. As rendas na energia continuam quase inalteradas, os institutos e fundações públicas às centenas que servem apenas para nomear um boy qualquer lá continuam, a despesa de funcionamento da máquina do Estado (corrente e efectiva) não pára de aumentar, e os cortes são nas Universidades, nos tribunais, e na saúde, nas pessoas e no essencial. Não me espantaria um novo aumento do IVA, afinal nesse campo o governo faz e faz bem.
A grande novidade para mim são as taxas de juro terem atingido mínimos históricos, baixando dos 3% nas maturidades a 10 anos. E tudo por causa das declarações de Mario Draghi, presidente do BCE, que apelou à adopção de medidas e políticas de estímulo económico na zona Euro. O crescimento e o emprego, pois. E não é que os mercados aplaudem???

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Para o pessoal dos baldes

NIB da Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica: 000703690003046000616 (link).

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O economês da treta





José Gomes Ferreira, Medina Carreira, Camilo Lourenço (cito apenas estes porque são a nata do comentário económico/político), fazem da economia a sua praia. Explicam por A + B como se pode atingir um valor de X, e porque é que só foi atingido o valor de Y quando se podia ter perfeitamente um Z... Vendem livros a granel com títulos catastróficos do género 'A bomba atómica que rebentou com o país' ou 'Sócrates e os outros mentirosos que enganaram não sei quem mas que pouco interessa para o caso'. As capas dos livros chegam a apresentar as fotografias dos 'culpados' do último século e meio. Como nunca abri nenhum desses livros, só posso imaginar as invectivas que por lá grassam.
Têm em comum no seu comentário económico/político, tão em voga nos tempos que correm, uma narrativa sempre muito assertiva, feita com a convicção dos génios produtores de teorias que vão revolucionar o mundo e a forma como o pensamos. São os defensores das teorias do Estado mínimo, em que a turba tem que se sujeitar ao corte de pensões, salários, reformas, etc. São os visionários do novo paradigma neoliberal, por oposição ao social, fanáticos dos mercados e acérrimos seguidores das medidas auto-infligidas de austeridade, em que a base sustentadora obedece à narrativa do viver-se acima das possibilidades, a justificação de todo o mal. São capazes de abater com o olhar qualquer primeiro-Ministro que se cruze no tema do dia. A não ser que, como no caso de Gomes Ferreira, tenha mesmo a hipótese de entrevistar o primeiro-Ministro em funções, e olhos nos olhos, lhe faça um frete político, sem direito a perguntas incómodas e sem direito a confrontos com atitudes e declarações do presente e do passado (afinal não se trata do vilão do Sócrates). Gomes Ferreira, muito recentemente, e a escassos 15 dias do colapso do BES, esclareceu perante o país que o banco era seguro, chegando mesmo, com toda a sua frontalidade e saber de experiência feito, a incentivar os portugueses a investir no BES, alvitrando benesses ao nível das de Cavaco no BPN e dizendo que ele próprio (se dúvidas pudessem restar), tinha lá dinheiro investido e estaria mesmo a pensar investir todo o seu património no dito banco. É realmente penoso ver como Gomes Ferreira perdeu milhões ao não chegar a fazer o investimento prometido...
Já quanto a Medina Carreira as frases que utiliza classificam-no na perfeição, um ditador populista ultrapassado no tempo e com tempo de antena: "Os portugueses têm que optar - ou querem ser pobrezinhos ou têm que trabalhar mais e melhor, porque, se quiserem ter dezenas de feriados e de pontes, não se podem queixar que são pobres.", "Salazar foi um bom gestor. Era bom termos hoje um bom gestor", "Se o TC pudesse desaparecer o país só beneficiaria".
Camilo Lourenço (o tal do livro com a capa dos políticos em modo presidiário), foi, na sua ânsia de protagonismo boçal e fácil, ao estilo de João Jardim, o autor da frase da semana: "Os princípios constitucionais são uma treta".
Independentemente das críticas que se possam fazer às decisões do TC, dizer que os princípios constitucionais são uma treta, revela uma ignorância atroz e desprezo total por princípios e valores que devem reger qualquer sociedade dita civilizada. Em nome de quê? Da sua vaidade de grande comentador e fazedor de opinião no país, mas também em nome da estratégia de defesa do 'seu governo' seguidor da ideologia neoliberal que lhes é comum. E nesse caso, o TC continua a ser um inimigo, e com ele a Constituição. Mas como para Camilo, a igualdade, a liberdade e a democracia são uma treta, sugiro que censurem todos os livros da sua autoria, como já fizeram com outros no passado. Amordaça-lo também podia ser uma opção viável e já agora obrigando-o a ler repetidas vezes toda a obra de Keynes e de Marx... Como no tempo em que os princípios constitucionais eram mesmo uma treta...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Aconteceu nas férias

Não vou escalpelizar todo o imbróglio do BES, bom ou mau, porque para além de não possuir toda a informação (à semelhança de Cavaco, Passos Coelho, Maria Luís ou Carlos Costa quando asseguraram que o BES estava sólido e sem motivo para alarme, escassos 15 dias antes da sua falência), também não tenho competência para o efeito. Deixo só umas considerações acerca do que julgo ser o maior pecado do capitalismo, a falta de regulação e de controlo dos mercados que geraram esta e toda a crise.
Desde o nome do novo banco, já registado por outros, à solução remendada e apressada. Desde a trapaça do aumento de capital afiançado por todos, jornalistas, comentadores e economistas incluídos, à acta escondida e divulgada com o empréstimo de capitais públicos.
Passando pela forma como o Conselho de Ministros, sem quórum e ilegal amanhou à pressa os decretos de que apenas alguns privilegiados tiveram conhecimento. Entre eles o 'porta-voz' governamental e comentador televisivo Marques Mendes, que deu as 'informações' sobre a 'solução' do BES e cujas únicas preocupações evidentes, foram a justificação e defesa do Governador do Banco de Portugal e a elaboração de uma "narrativa" propagandística destinada a impedir que se diga o que aconteceu: o BES faliu e foi nacionalizado. Lembram-se do que diziam do BPN e do que disseram da então actuação de Vítor Constâncio? Pois...
O Banco de Portugal ao funcionar como um instrumento directo do governo põe em causa a autonomia da instituição. O Governador Carlos Costa com a sua proximidade excessiva ao governo e a colagem da actuação do Banco em relação ao governo traz sérias consequências para a autonomia pressuposta do banco central. E com ela, mais uma novela do empurra responsabilidades entre o BdP e a CMVM. Carlos Costa e o governo entraram mesmo na pele da D. Inércia no último ano, e não fizeram nada como a própria garantia.
O caso da PT é mais um caso de polícia, o Goldman Sachs é-o desde 2008, já não me espanta.
As trapaças e a ganância dos Espírito Santos, a incompetência e ineficácia dos reguladores, em particular do Banco de Portugal, e as hesitações do Governo, que segundo a ministra das Finanças acompanha o caso há um ano, estiveram na origem de mais um case study do falhanço do capitalismo de banca e de casino, que havemos de pagar, outra vez...