terça-feira, 30 de setembro de 2014

O primeiro dia

Na semana em que o caso Tecnoforma/Passos Coelho dominou as atenções, o PS conseguiu-lhe somar a vitória de Costa nas primárias. Primárias que tinham tudo para correr mal. Inventadas à pressão por Seguro na ânsia de ganhar tempo no ataque ao carácter e à imagem de Costa e enjeitadas por este, revelaram-se um sucesso, quer na organização, quer na participação, quer ainda na legitimação inquestionável do novo líder. O seu a seu dono. Seguro é o responsável, ainda que na sua origem pudesse não ter o mais nobre dos motivos.
A questão da liderança do PS está resolvida, mas Costa tinha palco suficiente para no discurso de vitória olhar para o país. O país anseia por um novo olhar, e Costa tem agora que arrepiar caminho. E olhar para o país implica, antes de mais, fazer um balanço da actual governação, uma análise retrospectiva do que foram os últimos três anos em Portugal. O saldo não poderia ser mais negativo. Eis o que Costa poderia ter dito e que espero que ainda venha a dizer. Para além, obviamente, de referir como vai fazer diferente, nomeadamente no que respeita à dívida, ao défice e à despesa.
Poderia ter dito, entre outras coisas, que este foi um governo sem palavra, ideologicamente radical de cartilha e agenda, incompetente, sem visão de futuro, sem preocupações sociais, descarado, trapalhão. Que jurou que a austeridade seria só sobre o Estado, não sobre as pessoas. Este foi o governo do primeiro Ministro que, em campanha, afirmou que cortar salários era um disparate, e, mal chegou ao poder, cortou a eito subsídios a toda a gente, cortando depois, dois ordenados à função pública. Este foi o Governo que iria fazer o ajustamento em 2/3 pelo lado da despesa, e que, na verdade, procedeu ao maior aumento de impostos alguma vez visto no nosso país, e que o próprio ex-ministro das Finanças apelidou de "brutal".
Que quis "ir mais longe que a troika". Que impôs a austeridade "custe o que custar". Que, com a proposta de alteração da TSU, pretendia retirar dinheiro aos trabalhadores para o entregar directamente aos patrões. Que impeliu a diminuição das indemnizações por despedimento ilícito, tornando-as baratas para os patrões, promovendo a discricionariedade e a trapalhada nos critérios de avaliação. Que mandou para o desemprego milhares de famílias sem qualquer protecção. Que martelou os números vezes sem conta e sem qualquer pudor. Que quis dividir para reinar, pondo polícias contra polícias, professores contra professores, etc.
Este foi um governo sem qualquer respeito pelos princípios basilares do Estado de Direito. Que violou reiteradamente a Constituição, pondo em causa valores como a igualdade ou a confiança. Que tentou pressionar descaradamente o Tribunal Constitucional. E que legislou às escondidas (com a conivência de Cavaco), nas costas dos portugueses, algo nunca antes visto.
Que proclamou que o tempo da impunidade tinha acabado, mas o melhor que conseguiu foi paralisar por completo os tribunais, instalando o caos no sistema judicial. Que, uma vez mais, não conseguiu colocar os professores a tempo e horas, colocou os outros mal, e deixou milhares de alunos sem aulas. Que impôs uma lei das rendas muitas vezes injusta, e quase sempre confusa. Que pediu desculpas sem se demitir, nem apurar responsabilidades. Que tinha um impulso jovem, mas despediu-o.
Este foi um governo que insultou os portugueses chamando-lhes piegas e aconselhando-os a emigrar.
Que admitiu que a sua solução para o país passava por "empobrecer". Que destruiu ou paralisou todas as iniciativas de modernização que estavam em curso, como o Plano Tecnológico, a aposta nas renováveis, o carro eléctrico, a reconversão do Parque Escolar, etc. Que praticamente matou a ciência em Portugal.
Que piorou as condições de vida dos mais desfavorecidos. Que quis evitar um "cisma grisalho", mas mais não fez senão dificultar a vida aos reformados.
Que, para se justificar, inventou um "desvio colossal" nas contas que vinham de trás, o qual nunca foi demonstrado. Cujo ex-ministro das Finanças, do alto da sua arrogância nos tratava a todos como atrasados mentais. E que cuja ministra das Finanças contratou swaps, e cujo ex-Secretário de Estado vendeu swaps, mentindo ao país e à AR, e como sempre, empurrando responsabilidades para o anterior governo.
Um governo que inventou os briefings, autênticos tiros nos pés que criaram mais problemas do que resolveram, tendo desaparecido tão depressa quanto surgiram. Um governo do ministro Portas, que transformou uma demissão irrevogável em revogável e que transpôs inúmeras linhas vermelhas que jurara não transpor.
Este foi o governo do ministro Miguel Relvas e do secretário de estado Marco António Costa. Este foi um governo desgovernado na política externa, sem voz na Europa e com vários incidentes à mistura (lembram-se de Rui Machete?, que pediu desculpas a Angola por causa de uma investigação do nosso MP e do caso de ter ocultado do seu currículo a sua participação na SLN, pois ele anda por aí). Este foi o governo que vendeu o país a retalho, empresas estratégicas e bancos a preço de saldo e que não previu a situação do BES.
Destruíram quase tudo o que estava a correr bem e deixaram-nos muito pior do que estávamos. A boa notícia é que, como ontem disse, e bem, António Costa, estamos a viver o primeiro dia dos últimos dias deste governo.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Estado de citius

Na senda do que aqui escrevi ontem, assisti incrédulo no programa Prós e Contras da RTP a uma tentativa miserável do senhor secretário de Estado da Justiça de fazer passar uma propaganda baseada em arrogância e fuga para a frente. Já nem sequer discuto os factos falsos que o ministério tutelado por Paula Teixeira da Cruz insiste em lançar para cima da mesa. Não é por acaso que a ministra mais populista deste governo tem sido protagonista do maior caos na Justiça em Portugal. Com pedido de desculpas ou sem pedido de desculpas, as asneiras e o falsear de factos notórios para qualquer operador judiciário, ou mesmo para o cidadão comum, como aldrabar as distâncias entre tribunais e populações, ou garantir o pleno funcionamento do sistema informático que suporta os tribunais (citius), são uma atitude desesperada de justificar o que não tem base de poder ser justificado. Com uma agenda ideológica assente na propaganda, a justiceira que não mais deixaria ninguém impune, insiste na enumeração de princípios sem base de aplicação concreta no terreno, criando assimetrias e injustiças difíceis de engolir por populações cada vez mais abandonadas à sua sorte. O caso do colapso do sistema Citius é só mais uma acha para a fogueira processual e da celeridade justiceira da ministra. Os casos em catadupa na aplicação concreta do novo mapa judiciário que se conhecem e se vão conhecendo, desmentem categoricamente todo o enunciado de propaganda que nos é repetido até à exaustão por pessoas sem preparação técnica e com falta evidente de conhecimento do sistema e principalmente do território. A arrogância e a teimosia são as armas usadas na defesa do indefensável recorrendo em muitos casos ao falseamento de factos baseando-se na propaganda para leigos. Estas são as armas usadas pelo populismo, sempre irresponsável e mentiroso, de quem quer ficar na história a todo o custo, mesmo que para isso tenha que atropelar uns quantos milhares de cidadãos e sempre à custa das populações.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O assalto dos idiotas

Cresce um novo populismo na Europa e em Portugal. Hollande foi eleito nessa esteira, prometendo romper com o status quo maioritário. O seu exemplo de expectativas defraudadas e total fracasso na execução devia fazer pensar quem se alvitra numa lógica de mudança. Falar claro e para o povo não implica necessariamente ser populista ou demagógico. Marinho e Pinto fala claro e para o povo, mas as suas tiradas idiotas não conseguem esconder a sede do pote.
Noutra linha, Seguro tentou o mesmo com a sua proposta de revisão da lei eleitoral. Limitando-se a reduzir o número de deputados não consegue explicar mais nada que não seja a mudança da representatividade na lógica do deputado vizinho que supostamente temos obrigação de conhecer, com as nefastas consequências que se conhecem para os partidos mais pequenos. Para além das incompatibilidades: o facto de quase um terço da bancada socialista na AR ser advogado ou jurista, proporção igual ao total de deputados, logo determinou a sua não inclusão na proposta. A proposta apresentada agora em plena campanha das primárias é o indisfarçável sinal do desespero eleitoralista. Após três anos de auto-anulação, qual é a pressa agora?
Também Passos Coelho foi eleito nessa espiral demagógica. As suas promessas de campanha, misturadas com a ardil cilada ao governo socialista e o tiro ao Sócrates, proporcionaram um escalar demagógico de assalto ao poder. Portas é o exemplo máximo do populismo de feira. E assim lá chegaram. O que se passou depois é conhecido. Os extremos costumam crescer em tempos difíceis. As pessoas agarram-se a qualquer coisa que lhes dê esperança e os populistas grassam nesse campo. A história está cheia de exemplos. Responsabilidade e bom senso são por estes dias valores em franco retrocesso. Os expedientes contorcionistas de poder são até capazes de contornar uma qualquer constituição ou estatutos. Todo o cuidado é pouco, quando um qualquer idiota tem palco para dizer o que o povo mal tratado quer ouvir...

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Os porquês ou não da nova Lei da Cópia Privada

Tirado daqui:

"FAQ Lei da cópia privada #pl118
por jonasnuts, em 22.08.14


1 - O que é a lei da cópia privada?
A lei da cópia privada é uma excepção à lei do direito de autor. A lei do direito de autor diz que uma obra é do seu autor (ou do seu representante), e que mais ninguém pode fazer absolutamente nada com uma obra que adquira. A lei da cópia privada é uma excepção, diz que qualquer pessoa que COMPRE uma obra (ou que lhe tenha acesso legal) pode fazer uma cópia dessa obra, para uso privado. Exemplo prático: eu compro um cd com músicas, posso copiar as músicas para o meu leitor de MP3. A lei da cópia privada permite-me fazer isso.

2 - Mas se me permite copiar uma coisa que eu comprei, porque é que tenho de pagar outra vez?
Na realidade, os defensores da lei da cópia privada não conseguem explicar isto, mas o argumento é de que, ao fazer uma cópia para uso privado, está a prejudicar-se o autor da obra que deve, por isso ser compensado. Sim, bem sei, parece ridículo, porque a cópia privada não prejudica ninguém, e os que defendem esta lei não conseguem apresentar estudos que comprovem o prejuízo. Mas é isto que diz a lei.

3 - O que é que o direito de autor tem a ver com dispositivos móveis?
Nada, evidentemente. No entanto, na cabeça do legislador, como é impossível saber quem é que faz cópia privada e quem é que não faz, optou por taxar todos os dispositivos que permitam a fixação de obras. Isto é, tudo quanto possa servir para copiar obras protegidas por direito de autor é taxado. 

4 - Porque é que em vez de taxarem os dispositivos que permitem fixar as obras, não se lembraram de taxar as obras propriamente ditas?
Não sei. Ninguém sabe. É um mistério.

5 - A lei da cópia privada significa que eu posso fazer download do que me apetecer porque já estou a pagar direitos de autor no dispositivo onde vou guardar aquilo que saquei?
Não. A lei da cópia privada não tem nada a ver com pirataria. Apenas é válida para as obras a que tenha tido acesso legal. 

6 - Então porque é que tanta gente acha que tem a ver com pirataria?
Porque, na impossibilidade de justificar aquilo que a lei é de facto, muitos agentes interessados na aprovação (ou extensão, para ser mais correcta) desta lei, gostam de meter o conceito da pirataria ao barulho. É inteligente. Como a realidade é injustificável, e ninguém aceita pagar por algo que não causa prejuízo, eles metem a pirataria à mistura, porque assim se torna mais justificável.
Outra razão é porque, a realidade é tão inverosímil, que as pessoas caem facilmente na tendência de achar "não, não pode ser só isto, tem de incluir a pirataria senão não faz sentido nenhum".

7 - Esta lei é nova?
Não. Esta lei é de 1998. Foi revista em 2004. Abrange, neste momento, CDs (virgens), DVDs (virgens), disquetes, K7, e mais uns pós.

8 - Esta ideia é deste governo?
Não. No passado o PS tentou fazer aprovar uma lei semelhante (nas premissas) de alargamento do tipo de dispositivos abrangidos pela lei, através da deputada Gabriela Canavilhas. Esta tentativa despoletou uma reacção agastada nos Blogs, redes sociais, e acabou por ser engavetada.

9 - Há mais países com este tipo de leis?
O conceito de cópia privada existe em alguns países. Inglaterra é o país que mais recentemente aderiu a esta lei. Tem meia dúzia de semanas a lei da cópia privada, em Inglaterra (sim, por estranho que pareça, era ilegal fazer uma cópia privada em Inglaterra até há umas semanas). Não é cobrada qualquer taxa porque o governo disse que o povo inglês nunca aceitaria pagar estas taxas, que eram injustas e burocráticas.
Em Espanha existe a cópia privada e a compensação, mas esta é feita directamente do orçamento de estado.

10 - Para onde vai o dinheiro da cópia privada?
O valor da lei da cópia privada é entregue à AGECOP - Associação para a Gestão da Cópia Privada. Esta associação recolhe uma parte substancial (quase 50%) distribuindo o restante pelas suas associadas. As associadas da AGECOP são entidades gestoras de direitos de autor. A SPA e a APEL são duas dessas entidades. Essas entidades pegam no dinheiro que lhes coube, reservam uma parte para pagar o seu funcionamento e o que restar é distribuído pelos artistas, de forma proporcional às "vendas declaradas".
Não há muita informação disponível sobre estas "vendas declaradas". Declaradas onde? Quem as declara? 

11 - A distribuição é feita por artistas portugueses ou vai para o estrangeiro?
80% do dinheiro distribuído vai para entidades gestoras de direito de autor estrangeiras, com quem as entidades portuguesas têm protocolos de representação.

Fonte: José Jorge Letria, da SPA, em declarações recentes, sobre a lei da cópia privada.

12 - Posso inscrever-me numa entidade gestora de direitos de autor para receber o valor referente à cópia privada das minhas obras?
Claro que sim. Terá de pagar a sua inscrição. Terá de inscrever individualmente cada uma das suas obras (pagando a respectiva inscrição, evidentemente), e depois esperar receber a proporção referente à percentagem de vendas que venha a fazer. 

13 - Quando compro numa loja de música online (iTunes, beatport, 7digital, traxsource, etc..) já estou a pagar pelo direito de copiar o ficheiro. Tenho de pagar taxa?
Sim. É a chamada dupla (pode até ser tripla) tributação.

14 - À taxa, acresce IVA?
Sim, à taxa é adicionado o IVA a 23%. O valor do IVA é para o estado.

15 - Quando compro no iTunes uma música de um músico não representado em PT como é q esta lei faz com q ele receba?
Não faz. Um músico que não seja representado, seja porque é estrangeiro e a entidade que o representa não tem um protocolo com uma entidade portuguesa, seja porque opta por se representar a si próprio, não recebe qualquer valor referente à cópia privada. Apenas autores representados por entidades gestoras de direitos de autor poderão vir a receber valores referentes à cópia privada.

16 - Podemos contornar esta taxa mandando vir equipamento do estrangeiro?
Nim. As grandes cadeias (tipo Amazon) são já obrigadas a cobrar algumas taxas do país de destino, naturalmente esta taxa será incluída nessa obrigatoriedade. Pode sempre ir a Badajoz e em vez de trazer caramelos, traz telemóveis. Ou então, aproveita-se a diáspora portuguesa (em franco crescimento) e pede-se a amigos que tenha a viver no estrangeiro (Atenção, França não serve, que as taxas de lá são ainda mais agressivas) para comprarem as coisas por lá e mandarem pelo correio. Mas isso deve ser considerado contrabando.

17 - Porque é que o governo quer que eu pague uma taxa pelo meu direito a fazer Cópias Privadas, quando permite que os autores impeçam que a dita cópia, seja efectuada, recorrendo ao DRM?
É mais um mistério. Teoricamente existem mecanismos que permitem a quem compra pegar no recibo e pedir o código de desbloqueio que as editoras têm de depositar obrigatoriamente algures. Mas não depositam, o que inviabiliza o processo. É suposto que, quem publica obras com DRM, faça um depósito na Inspecção Geral de Actividades Culturais. Mas desde 2004, que só houve um depósito. Como não existe penalidade para quem não efectua depósito, isto nunca irá mudar.

18 - Porque é que os autores de software, não têm o direito de receber uma "compensação", como os autores de música?
Mais um mistério. Vai-se a ver e esta lei é bastante misteriosa. Provavelmente porque não são artistas. Provavelmente a ANSOLpoderá contribuir para esta resposta.

19 - Esta lei não pode ser enviada para o Tribunal Constitucional?
A lei já passou pelo TC em 2004.
Na altura foi feita apenas uma alteração. O TC obrigou a que alterações nos dispositivos e nas taxas passassem obrigatoriamente pela Assembleia da República, razão pela qual a aprovação em conselho de ministros desta semana não entrou de imediato em vigor.
Com a evolução dos modelos de negócio da indústria do entretenimento e com a evolução da tecnologia é possível que algo tenha mudado. Sei que há um grupo de trabalho a dedicar-se ao estudo dessa hipótese.

20 - O que é que se pode fazer para combater isto?
Em 23 de Agosto o projecto de lei foi aprovado em Conselho de Ministros, e vai dar entrada na Assembleia da República."

P.S.- A óbvia discordância (minha e da autora) com a nova lei da cópia privada implícita nas respostas, foi a razão pela qual escolhi postar aqui estas FAQ.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Round 2

No primeiro debate na TVI, António Costa foi displicente e achou que bastava aparecer com pose de estadista. Pensou que ia para a Quadratura do Círculo e deu-se mal com as queixinhas de Seguro. A moderação de Judite de Sousa também não ajudou, porque a TVI ainda prefere as zangas de comadres aos problemas sérios do país. Vende mais.
No segundo debate, como se previa, Seguro abandonou o tom de ataque pessoal e isso bastou para que perdesse o debate e este melhorasse substancialmente.
E melhorou, não por causa da suposta "reindustrialização" e "fisioterapia", um tipo de chavões que qualquer político gosta de usar para resumir quase um tratado de teoria política ou de programa governamental. Melhorou porque desde o início desta crise, o PS debateu alguma coisa de relevante, nomeadamente a relação que o país deveria ter com a Europa. Apesar de tudo ter sido aflorado muito superficialmente, também pela escassez de tempo.
Seguro apresentou propostas sobre as taxas de juro da dívida. Mas quanto ao défice deixou no ar a suspeita que não sabe o que lhe há-de fazer.
António Costa acusou Seguro de ser refém da narrativa da direita e por isso estar manietado nas suas alternativas. Apresentou e defendeu a ideia da reestruturação da dívida, apoiando-se no manifesto dos 70. Claro que são tudo ideias que dependem do sim dos credores externos, e que como se sabe são muito fechados nesse campo. Faltou a alternativa para um não da troika.
Mas foi um primeiro passo muito importante no debate interno do PS, que se quer traduzido para o país.
Costa ganhou o debate por causa da postura, porque soube reagir à "janela do município", porque finalmente enfrentou Seguro no seu próprio jogo e deu-lhe os parabéns por deixar discutir os problemas do país. Mas o debate não termina aqui, espero. Falta explicar de que forma se poderá sustentar o Estado Social, pôr a economia a crescer e com ela o emprego. Desmistificar o discurso do empobrecimento, por causa do vivermos acima das possibilidades. Falta denunciar o caos da justiça e na educação. Falta enterrar o mito da despesa tão alardeado pela direita, dizendo de forma concreta que a despesa pública não são só salários e pensões, há muito por onde cortar, desde as rendas da energia, juros, capitais públicos em fundações ou instituições privadas, centenas de institutos públicos sem qualquer interesse público ou social, etc., e depois de uma vez por todas, assumir medidas concretas que sustentem tudo isto, sem se limitar a frases soltas e chavões. Costa no entanto, marcou pontos, no que concerne a ter uma ideia de coesão territorial e combate ao desertificar do interior. Em Lisboa pode não ser importante, mas no resto do país é crucial. Para Seguro, as regiões e freguesias só importam quando se anda a cacicar...
No terceiro debate, espero que Costa descole definitivamente, e ganhe o debate a Passos Coelho...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

New Gin or old Whisky?

Estive a ver o 2º round entre os Tós.... um bocado da análise do Sousa Tavares e demais aspirantes...é incrível, a cama ainda está quente e já se lava a roupa suja. 
Mas do que me apetece mesmo falar é da Escócia.
Não há muitos anos eu era um fã incondicional do gin tónico. Sempre me fascinou aquela que diziam ser a bebida predilecta da Rainha,  o facto de conter uma dose de quinino importante no combate à malária, acrescentava-lhe aquele toque colonial  que caía lindamente em dias e noites de calor (também consumia durante o inverno...gostava mesmo daquilo).
E era simples: gin, àgua tónica, limão e gelo.
Porém e de um dia para o outro, sou confrontado num estabelecimento dedicado à preparação de tão distinta bebida, com uma lista interminável de marcas de gin e com a sacramental pergunta feita pelo barman:
- Qual o meu tipo de gin?!?!?
Mas, isso tem resposta?
É suposto eu já ter experimentado as cento e tais marcas de gin propostas na lista, no curto espaço de tempo desde que o tasco abriu e já ter adoptado o meu estilo de gin?
Já nem falo das misturas, que se afastam tanto do gin como o Castelo Branco de um homem….
Isto me leva a defender o SIM à independência da Escócia!
Até há bem pouco sempre convivi com maus whiskys, a maioria “blendados” nas “highlands” of Sacavém. Porém eis que surge diante de mim uma garrafa imaculada destinada a ser consumida em UK only e que vos posso dizer… é a mesma coisa que achar que vinho é Gatão.
Também tive essa confirmação de um velho amigo, embarcado na nova diáspora de emigração para terras de Isabel.
- Lá o Whisky é diferente… Bem malandros estes ingleses.
No dia 18 espero poder comemorar com um bom scotch a independência da Escócia.
- That God save the good old Scotch Whisky.

 

António bom e António mau

Aguardo com alguma ansiedade que Costa não deixe Seguro fazer o papel de 'calimero lacrimejante' e se lhe imponha com naturalidade. Com a naturalidade que se impõe aos pobres de espírito. Que arrastaram o seu partido para uma guerra interna de mais de três meses, agarrando-se ao lugar como pôde. Só até finais de Setembro, por muito que chore. Seguro não entende ou não quer entender que qualquer liderança está sempre debaixo de escrutínio. Desde o mais reles simpatizante ao mais alto barão ou notável. A figura triste de puto queixinhas a quem tiraram o chupa foi um péssimo serviço ao PS e ao país. Contudo, devo dizer que a bonomia de Costa se tornou confrangedora. Costa que já sabia que Seguro ia fazer o papel de coitadinho traído, para não dizer mais, não soube dar a volta à narrativa pré-concebida do seu adversário, e isso foi para mim, uma grande desilusão. Seguro que não tem discurso coerente há 3 anos, auto-anulado, e que nunca fez as pazes com o passado do seu próprio partido, que nunca ganhou um debate a Passos Coelho. Espero muito mais de Costa nos dias e debates que se seguem. Impondo a sua agenda, que é a que verdadeiramente interessa ao país, e não se deixando guiar pela lamúria da roupa suja de Seguro, cujo único interesse é atacar pessoalmente o carácter de Costa. Se Costa se voltar a deixar enredar no jogo de Seguro, pode até ganhar o partido, mas terá que correr mais para ser primeiro-Ministro...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Vá passear sra. ministra

Já se sabe que um político, por muito que não queira, tem de ocultar certas coisas e dourar a pílula noutras. Mas deixar que se minta descaradamente como esta ministra da Justiça faz, é um crime de lesa-pátria. A falta de honestidade intelectual da ministra é aberrante e evidente de cada vez que abre a boca. A senhora é capaz de inventar de tudo em nome da defesa da sua mega remodelação de tribunais, que esperou por ela 200 anos. É capaz até de redesenhar o mapa do país, com régua e esquadro, afirmando categoricamente, e sem se rir, que Montalegre fica a menos de 60 km de Vila Real. E a jornalista deixou. Foi capaz de assegurar que tudo estava a funcionar normalmente no passado dia 1, para estupefacção de todos os operadores judiciários. A senhora, que sabia que não era bem assim, foi até capaz de dizer que os contentores não são contentores, são monoblocos ou coisa que o valha, como se isso, só por si, significasse um acréscimo extra de dignidade à justiça e aos tribunais. O novo mapa judiciário e a sua implementação é um caos.
E a lata continua. Sem apresentar um único dado ou estatística, estudo ou parecer, é capaz de defender com unhas e dentes uma lista pública de condenados por crimes sexuais contra menores. Uma coisa que só existe nos EUA, com todas as boas práticas e ensinamentos que de lá decorrem, como se sabe. Uma coisa atroz, violadora de quase todos os princípios de que me lembro, do direito, da justiça e claro, da Constituição.
Alguém que explique de uma vez por todas à senhora ministra, que é muito feio mentir, escudando-se cobardemente em falsos pressupostos à míngua de outros argumentos. Alguém que a faça sentar-se num sítio qualquer, e lhe dê uma bofetada do tipo wake up call. Alguém que lhe ensine o que são os tribunais, a justiça e os princípios que é suposto regerem a coisa. E por fim, peguem na mulher e abandonem-na à sua sorte em Montalegre, apenas com 50 euros no bolso (que assim não dá para o táxi) e sem a ajuda do telefone e façam-lhe o desafio de se apresentar às 9h30 do dia seguinte em Vila Real, utilizando apenas transportes públicos...

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

'Recapitulando'

Nem sempre concordo com tudo o que diz ou escreve, mas desta vez não tiro uma vírgula... Já agora vale a pena pensar nisto:


Miguel Sousa Tavares, Recapitulando [in Expresso]:

"Espero bem que o país não se esqueça de ajustar contas com essa gente um dia. Esses economistas, esses catedráticos da mentira e da manipulação, servindo muitas vezes interesses que estão para lá de nós, continuam por aí, a vomitar asneiras e a propor crimes, como se a impunidade fizesse parte do estatuto académico que exibem como manto de sabedoria.
Essa gente, e a banca, foram os que convenceram Passos Coelho a recusar o PEC 4 e a abrir caminho ao resgate, propondo- -lhe que apresentasse como seu programa nada mais do que o programa da troika — o que ele fez, aliviado por não ter de pensar mais no assunto. Vale a pena, aliás, lembrar, que o amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço incomportável a pagar. Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos estava a acontecer foi Sócrates — o culpado de vinte anos sucessivos de défice das contas públicas, o culpado da ordem vinda de Bruxelas em 2009 para gastar e gastar contra a recessão (que, curiosamente, só não foi cumprida pela Alemanha, que era quem dava a ordem), e também o culpado pela vinda da troika. Mas, tanto o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC 4, o país ficaria sem tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate. Sabiam-no, mas o apelo do poder foi mais forte do que tudo, mesmo que, benevolamente, queiramos acreditar que não mediram as consequências.
E também o sabia o PCP e a CGTP, que, como manda a história, não resistiram à tentação do quanto pior, melhor. E sabiam-no Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda, que, por razões que um psicanalista talvez explique melhor do que eu, se juntaram também à mais amoral das coligações direita/extrema-esquerda, com o fim imediato e mais do que previsível de obrigar o país ao resgate e colocar a direita e os liberais de aviário no poder, para fazer de nós o terreno de experimentação económica e desforra social a que temos assistido."