sexta-feira, 25 de julho de 2014

Justiça para o povo palestiniano

"O exército israelita atacou 15 dos 27 hospitais de Gaza, uma trintena de ambulâncias, matou 16 membros do pessoal médico. A AI não encontrou indício algum de que os combatentes do Hamas ou doutros grupos armados tenham utilizado os hospitais para se esconder ou para conduzir ataques, e as autoridades israelitas não forneceram provas dessas alegações; impediram deliberadamente a ajuda humanitária e as equipas de socorro (da Agência das Nações Unidas para os Refugiados e da Cruz Vermelha) de entrar em Gaza, ou obstaculizaram a sua circulação, atacaram veículos, centros de distribuição e pessoal médico.”
(Amnistia Internacional, Relatório Anual 2010).


A reacção israelita aos rockets lançados a partir de Gaza é um crime, realizado perante o voyeurismo do resto do mundo. Obama invoca o direito de Israel a defender-se, já nem sequer (mal) disfarçando o interesse estratégico que o aliado Israel representa no contexto do Médio Oriente e do petróleo. Israel há 47 anos que ocupa Gaza (e a Cisjordânia, e Jerusalém Oriental) ilegalmente, e a bloqueia por terra, ar e mar, contra todas as deliberações e recomendações da ONU.
De todo o quadro de ilegalidades cometidas por Israel e que a UE e os EUA toleram, o bloqueio a Gaza supera tudo. Nada há neste planeta mais próximo de um gueto, no qual se fecham, até à exasperação total, quase dois milhões de pessoas. Os israelitas, e esta coisa lúgubre e híbrida a que cinicamente se chama comunidade internacional, comportam-se como se eles fossem todos 'terroristas' do Hamas.
Os ataques a hospitais e civis, na sua maioria crianças, é uma infâmia que só tem castigo com o fogo do inferno. A resposta por ora só chega em forma de pedras arremessadas, e uns poucos rockets, que não fazem o Golias estremecer. Mas haverá um dia, em que a justiça para quem mata crianças e dispara sobre hospitais será um punho esmagador que arrancará membro por membro até o sangue abandonar o corpo por completo. Desses e dos que nada fazem senão contabilizar as possíveis perdas de uma decisão firme e a favor da lei, da justiça, e da humanidade. Tal como na Síria, no Iraque ou na Ucrânia.
Os anos de impasses, de guerras e de vítimas, em que dois povos se digladiam por um pedaço de terra não terão solução enquanto os interesses mundanos se sobrepuserem aos interesses das populações. Enquanto muros e religiões dividirem pessoas e enquanto as outras pessoas fecharem os olhos quando passa uma imagem na televisão com um pai ou uma mãe carregando o corpo dilacerado de um filho ou de uma filha. 
Não há inocentes dos dois lados, mas suprema ironia, Israel impõe um genocídio a um povo semelhante ao sofrido na II Guerra Mundial. Não aprenderam nada. Não aprendemos nada. E a história repete-se perante a complacência mundial.
Vejam bem as imagens que se seguem, com a certeza porém, que enquanto as vêem, elas estão neste preciso momento a repetir-se...









terça-feira, 22 de julho de 2014

Aposta

Julgo não ter os privilégios suficientes para por um contador no blog.
- Rogério, can you manage that?
A aposta será (gosto mesmo desta cena dos Ingleses de fazer apostas sobre tudo):
- Guiné Equatorial na CPLP ? Sim ou Não?
Claro que para quem quiser ganhar uma bela maquia, a aposta deve ser no "Não" já que a proporção será bem mais favorável, em virtude do risco.  Será caso para dizer que, o poder do negócio obscuro e a hipocrisia são uma certeza ou, dirão outros, uma aposta ganha.
O mais irónico é que esta decisão passe por um país e uma capital (Dili), cuja libertação moveu uma grande franja dos portugueses e do mundo, pelas mesmas razões que devem afastar a Guiné Equatorial da CPLP.
Por isso, senhor PR e PM, aguardo com curiosidade....

Quase a propósito e já o devia ter feito antes, saúdo o regresso a Portugal do General D.
- PROPS D!
Alguns já não se recordam e outros não sabem, mas  Sérgio Matsinhe, ou melhor, General D foi o principal percursor do Rap e Hip Hop em Portugal  foi também um dos que mais se notabilizou na luta contra o racismo no início dos 90. Sem dúvida um dos que muito contribuiram para que se vivesse melhor neste rectângulo. Espero mesmo que este possa ser um regresso premonitório.

Deixo-vos com um ultimo apontamento.
Quando puderem e como puderem vejam a esposição de VHILS:  "Dissecação/Dissection"  no museu da electricidade em Lisboa.






quarta-feira, 9 de julho de 2014

O meu quarto

Os sítios onde fui feliz deixam-me a nostalgia de tempos passados que não têm a mesma magia de um regresso. Volto amiúde ao meu quarto em casa de meus pais. O meu quarto, de solteiro, de criança e de adolescente, mas raras vezes reparo nele. Onde tantas vezes esperei e imaginei ansioso, ri e chorei. As penas e paixões. O castigo. O meu quarto guarda toda a minha infância e juventude. O meu quarto está como o deixei. O meu quarto guarda a inocência e a ingenuidade das minhas memórias. Guarda os meus sonhos e buscas. Talvez por isso, não tenha saudades do meu quarto. E isso é o maior elogio que lhe posso fazer. O meu quarto cumpriu o seu papel, e entre as paredes permitiu que esses sonhos alcançassem a sua busca. O quarto onde tantas vezes sonhei com ela é hoje o quarto onde ela brinca e dorme ocasionalmente. E como ela é linda. Como nunca o meu quarto conseguiu imaginar. Melhor que nos meus sonhos. Espero que o quarto dela seja tão feliz como foi o meu...



quinta-feira, 3 de julho de 2014

A crise da Europa, do país e do PS - Por uma narrativa alternativa

A construção europeia, foi, nos últimos anos, uma das maiores vítimas da crise internacional. A resposta da zona euro assente na austeridade e em políticas restritivas e depressivas subjugou o ideal europeu aos interesses de alguns países mais fortes, numa atitude defensiva que passou por cima das instituições e obedeceu aos ditames de tecnocratas, do CE e do diktat.
A presidência de Barroso, moço de recados dos referidos mandadores sem a legitimidade das urnas, permitiu sempre com total complacência que as decisões fossem tomadas por pessoas que apenas representam os interesses dos seus países, sem visão de conjunto e sem coragem.
A falta de democraticidade no seio da União, em que as decisões não são tomadas pelos organismos realmente eleitos pelos cidadãos europeus e a quem teriam que prestar contas, torna o eurocepticismo numa realidade profunda e ambígua, com os resultados desastrosos que se conheceram nas últimas eleições europeias, nomeadamente em França. Quando os cidadãos europeus viram as costas às suas instituições por entenderem, bem, que o seu voto não os representa nem tem qualquer utilidade, é a própria UE que está em risco. A falta de visão progressista (por oposição à do ritmo da austeridade) e a falta de legitimação dos órgãos da UE, açaimados por uns poucos em benefício próprio, estão a minar toda a construção europeia.
O actual estado da zona euro está assente na tal visão egoísta, neoliberal e monetarista que torna inviável o projecto social europeu, muitas vezes promovendo a sua destruição, que levou 50 anos a construir e permitiu cinco décadas de paz na Europa. Visão seguida pelos governos pobres de espírito, alunos engraxadores, ansiosos pelo reconhecimento dos seus mestres. Senhores de uma coluna vertebral elástica, de vénias contorcionistas aos fortes, e de braço de ferro com os fracos. Para defender o Estado social europeu, o caminho é o de romper com esta direita no poder, que não merece consenso. Nem no projecto europeu, nem na receita aplicada, muito menos na visão do futuro.
É essa a esperança que deposito em António Costa. Um líder forte, que não se anule durante 3 longos anos, precisamente quando todas estas questões estavam em cima da mesa. Que não use truques para se perpetuar no poder, que não se esconda nos estatutos que inventou para ele, que não ponha em causa o futuro do seu partido e por conseguinte o do seu país, trocando-o por ambições pessoais mesquinhas de poder. Que crie finalmente as pontes da esquerda, coxa anos a fio. E, que sobretudo, não se conforme com a narrativa que a direita vem apregoando. A narrativa segundo a qual Portugal não soube adaptar-se à moeda única, porque viveu acima das suas possibilidades, porque não fez as reformas necessárias, porque foi despesista, por causa da insustentabilidade do Estado Social, por causa das PPP's. Esta narrativa assenta na ideia que a nossa crise é interna e das finanças públicas. E esta é a narrativa que grassa na Europa. E assim sendo a austeridade é de facto a única solução. Seguro nunca foi capaz de desconstruir esta tese, seja por inabilidade, seja por nunca ter feito as pazes com o seu passado de opositor de Sócrates, visando sobretudo proveitos eleitorais.
Desde a década de 90 que Portugal tem acumulado dívida externa, sobretudo privada. Com a crise financeira internacional de 2008, o sistema através do qual essa dívida era financiada, com especial relevo na banca, implodiu. Após a intervenção dos estados, incentivados numa primeira fase pela zona euro (BPN e afins), o que era uma crise da balança comercial transformou-se numa crise das finanças públicas e das dívidas soberanas, com o aumento das taxas de juros exigidas pelo esbulho e pela ganância dos credores e dos mercados. A crise das finanças públicas não é uma causa, mas sim a consequência e o efeito da crise. Basta atentar que nos 3 anos anteriores ao início da crise, Portugal conseguiu atingir um défice público inferior a 3%. Portugal tem os seus pecados e exageros, é certo, tem vários problemas de nível estrutural, mas tem sobretudo fragilidades expostas por uma crise internacional que pôs a nu as contradições e a incompleta integração da moeda única, sem os mecanismos necessários que possam igualar os diferentes estados.
Seguro sempre jogou o jogo do adversário e por isso nunca foi capaz de se constituir como alternativa e desmontar a narrativa simplista do governo, que impõe aos prevaricadores (todos nós) a austeridade como castigo. Neste preciso momento arranjou um verão quente ao PS, de todo desnecessário, e que poderá trazer ainda mais surpresas desagradáveis (as primárias não constam dos estatutos e como tal poderão ser ilegais e impugnadas por qualquer militante). António Costa já se posicionou no terreno do combate à narrativa da direita, sem medo das consequências ou do passado do seu partido. E essa é a diferença, essa é a alternativa.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sophia

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


                         Sophia de Mello Breyner Andresen