quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ode

Não vendam toda a luz do país
Deixem-nos o sol e a saudade
Saiam de mansinho! e de verdade
Não arrendem a nossa matriz.
 
Por rios e oceanos sobrefeitos
Não vendam as águas
Não deixem as mágoas;
Saiam de mansinho!
Vão e não voltem
Uns e outros contrafeitos
De conluio satisfeitos
Uns que vieram
Os que estão eleitos;
Feitos de usura costurada
Na margem da infâmia mais soturna
São as foices deste povo
De gente amargurada
São a machada, são a urna
São os coveiros de novo.
 
Ide de mansinho!
E se memória houver um dia de tudo o que cobrastes
Ficará em pergaminho
A morte cruel que enfrentastes...
 


terça-feira, 22 de abril de 2014

A minha viagem a 'Lesboa' e um novo mapa judiciário

Entrámos na Assembleia da República por volta das 13h. após 6 horas de viagem. Levávamos a esperança de alertar as consciências dos deputados dos vários grupos parlamentares com quem tínhamos reuniões agendadas. Assunto: o novo mapa judiciário. Dividimos o nosso grupo de 30 advogados para atender a todas as reuniões, uma vez que eram espaçadas por meia hora. Havia colegas das comarcas de Chaves, Boticas e Montalegre. Após o 'check in', e já com as reuniões marcadas e as divisões feitas fomos ao bar. Calhou-me (escolhi) reunir com o PS, CDS e PCP.
Olhava para aqueles corredores e pensava como era fácil inebriar-me com toda aquela ostentação. Afinal cabia ali Chaves inteiro. Era capaz de viver disto, dizia meio a brincar. Passámos pelo restaurante 5 estrelas 'reservado a deputados' antes de chegar ao bar. Uma tosta mista, um sumo e um café. Um euro e vinte cêntimos! Não me queixei do preço. Dei comigo a pensar no mundo à parte em que me encontrava e em como devia ser difícil ter uma noção da realidade lá fora. Os assessores e empregados, seguranças e funcionários eram ás dezenas atropelando-se nos corredores. Vários deputados a falar ao telemóvel revezando-se na função. E como eram largos os corredores... A alcatifa vermelha, os móveis antigos e trabalhados, os espelhos e os quadros gigantes, os lustres e as escadarias balaustradas, os bancos acolchoados tipo sofá. A casa da democracia é verdadeiramente um palácio.
A primeira reunião foi com o PS. Argumentos e dossiers em cima da mesa. As distâncias, o volume processual dos tribunais em causa, os custos agravados das populações e respectivas deslocações para Vila Real, a desertificação e abandono do interior, a perda de valências e dos símbolos da República, etc. Muita compreensão e assentimento, normal para quem é oposição. Saí com a sensação de tempo perdido. Não eram aqueles que precisavam de ser convencidos. O mesmo com o PCP, BE e Os Verdes relatado horas mais tarde pelos outros colegas.
Chegou a vez do CDS-PP. Entramos na sala com uma mesa comprida no meio. Parecia uma sala de jantar, não fosse estar desprovida de qualquer outro ornamento que não fossem livros antigos dos tempos áureos do CDS dispersos por um armário a fazer de estante. Distribuímo-nos pelas cadeiras em volta da mesa enquanto observávamos lá fora a manifestação dos estivadores. Também nós tínhamos organizado uma manifestação em Chaves, e vínhamos de uma 'greve' de 40 dias, coisa nunca vista em Portugal, sem contudo termos qualquer apoio da população ou do poder local. Hão-de sentir na pele quando for tarde demais.
Entram os dois deputados escalados pelo CDS. O homem gordo não abriu a boca durante toda a reunião, não escondendo amiúde trejeitos de frete. A mulher era a Teresa Anjinho. Assim que entrou na sala a justiça pareceu-me iluminada por um anjo. Os causídicos masculinos trocaram olhares cúmplices. A deputada transformara-se no objecto do nosso objectivo. Argumentos e dossiers em cima da mesa. A deputada abria a boca de espanto à medida que nos ouvia. A distância para Vila Real, a meteorologia, a falta de transportes públicos em tempo útil, os gastos, etc. Enquanto ouvia, a deputada, espantada e admirada, fazia comentários do género "como é que é possível?!?!", e "isso não pode ser!"... E variadas vezes, como que muito interessada no assunto, interpelava-nos como se não soubesse que aquilo estava para acontecer, lá em cima, no norte interior do país. E eu ia-me perguntando como era possível que a deputada que supostamente acompanhava as questões da justiça num dos grupos parlamentares que apoia o governo (responsável pelo novo mapa judiciário) não soubesse mesmo do que estávamos a falar! Convidámos os dois deputados a visitar a nossa região. A Teresa disse que já lá tinha estado uma vez. Que adorou a zona de Entre-Os-Rios. A justiça caiu-me aos pés. E com ela os tomates... A Teresa deixou de ser um anjo e passou a representar a centralidade bacoca de 'Lesboa'. Os arredores são mesmo paisagem para quem está enfiado naquelas paredes e corredores. O mapa é desenhado a régua e esquadro por assessores enfiados nos gabinetes. É depois apresentado aos deputados como solução infalível, que sem qualquer espírito critico a defendem até à morte, alicerçados em estudos ridículos desenhados por imbecis ás ordens de ignorantes que nem o próprio país conhecem.
Não, não era capaz de fazer vida naquele palácio.
A reunião com o PSD foi presidida por outra Teresa (Leal Coelho) e pela deputada eleita natural de Chaves e é aqui inenarrável. A deputada de Chaves mais tarde votaria a favor deste mapa judiciário, escudando-se na disciplina de voto. Acobardou-se a traidora. E assim deveria ser tratada sempre que saísse de 'Lesboa' e quisesse entrar em Chaves. Mas as boas graças de uma deputada sobrepõem-se sempre aos saloios dos seus conterrâneos e ao bafio dos bajuladores do partido.
O poder local em Chaves, esse, continua entregue aos calculistas do costume. A política é o rosto do povo, e aqui como noutros lados, tem o que merece. 
Quanto às Teresas da AR, deixo-lhes a sugestão de que quando estiverem a discutir ou a tentar alterar um mapa, tenham um por perto.
O interior do país e a minha cidade têm os dias contados...
Quanto à AR, jurei nunca mais lá entrar...

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Telegramas

1- Eu sei que é uma piada fácil e será muito repetida, mas não resisto à tentação: Jesus (J.J.) vai ressuscitar no domingo de Páscoa...

2- Ainda no futebol, Bruno de Carvalho vai exigir à UEFA e à FIFA o título de campeão europeu para o Sporting do ano de 2013...

3- Os militares de Abril queriam discursar na AR nas comemorações do 25 de Abril. 'O problema é deles' respondeu Assunção Esteves. Se é verdade que tal nunca sucedeu e nem sequer me escandaliza que tal não lhes seja permitido (apesar de também não vislumbrar nenhuma razão para que não o façam), já a resposta da presidente da AR, uma segunda escolha depois da rábula Fernando Nobre, veio confirmar o que já suspeitava, Assunção Esteves tem momentos alucinados, e fico-me por aqui. Ao menos algum respeito, algum respeito...

4- Que se lixem as eleições? Não! Nada como a campanha eleitoral para se pensar em subir o salário mínimo nacional. Com as devidas exigências de contrapartidas (v.g. indemnizações por despedimentos ainda mais baratas). Este governo só conhece uma forma de negociar: a chantagem.

5- Os juízes que vão presidir às novas comarcas já estão envoltos em polémica. Segundo o Conselho Superior da Magistratura, os critérios para a escolha foram tudo menos objectivos e transparentes, e selecionados por uma comissão ad hoc sem competência para o efeito. O juiz presidente, figura também saída do novo mapa judiciário tem toda uma nova panóplia de funções e competências, como por exemplo atribuir ou não a determinado juiz determinado processo. Torna-se agora mais fácil ao poder político influenciar o caminho da justiça, porque o poder judicial está mais concentrado nas mãos de apenas 23 juízes, correspondentes às 23 novas comarcas. A insídia ganha terreno perante o silêncio de quem acha que não adianta fazer nada. O controlo do poder judicial é um passo fundamental para que os fantasmas regressem. A porta vai-se abrindo. Frincha a frincha. Após o PREC, nunca a democracia viveu tempos tão perigosos, com o maior ataque de que há memória em Portugal ao Estado social, a tudo o que é domínio público e ao interior do país...

terça-feira, 8 de abril de 2014

Durão baixa as orelhas e mostra os dentes

Durão Barroso não tem nada que o recomende. Patrocinou na Base das Lajes a fotografia histórica que permitiu a invasão do Iraque baseada nas célebres armas de destruição maciça, um pressuposto errado e enganador. Abandonou o país em nome de um cargo europeu para o qual e após 10 anos de exercício provou não ter qualquer competência. Um 'job' que com Durão ficou esvaziado ao doce balançar do fantoche de Merkel. Ganhou ódios em quase todos os sectores decisórios da União e chegou mesmo enquanto tal a dar-se à lata de criticar uma instituição soberana do seu país (falo claro do Tribunal Constitucional). Lambe as botas de Berlim como um cão amestrado, sem demonstrar qualquer respeito pelo cargo que ocupa. Não se lhe conhece qualquer contributo positivo para a resolução da crise financeira e económica que grassa na Europa, antes pelo contrário. Não tem opinião sobre nada que não seja o ámen reverencial ao diktat troikiano. E quer agora regressar impoluto ao país que deixou entregue nas mãos de Santana Lopes. Mas não regressa sem antes tentar limpar a imagem de um PSD obscuro que se afundou no BPN. E tenta fazê-lo atacando o regulador da época, na figura de Constâncio. Diz agora que houve falhas na regulação e que perguntou por ela aquando da sua fugaz passagem por primeiro Ministro. Esquece todavia que faria um melhor favor ao seu partido se calasse para sempre o maior escândalo financeiro de que há memória em Portugal. Esquece que foi o seu partido e o cavaquismo de que ele é fiel seguidor, os únicos e principais responsáveis pelos crimes perpetrados no BPN e que custaram aos portugueses 7 mil milhões de euros. Esquece que nomeou Dias Loureiro para órgão dirigente do PSD 2 anos depois de ter alertado Constâncio. E alertou sobre o quê e em que termos? Falava de crimes? Se sim, também alertou as autoridades policiais? É que uma coisa são as irregularidades que são da responsabilidade do BdP, outra coisa são os crimes que por lá se cometeram, até hoje sem castigo, como é apanágio português quando se trata da alta criminalidade financeira. E porquê só agora? Porque é que só 10 anos depois se lembrou do BPN?
Quer o lugar de Constâncio ou quer o de Cavaco?

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O jornalismo acéfalo

A raiva bacoca assente em fugazes trechos ideológicos do 'que se ouve dizer' de José Rodrigues dos Santos, que não consegue disfarçar um imbecil ódio a Sócrates, é na verdade uma defesa acéfala do governo. E na tentativa de ferir o animal, só conseguiu acordar a sua ferocidade. Na verdade, a vã tentativa de confrontar Sócrates com tudo o que se vai dizendo, sem qualquer interpretação própria ou estudo prévio leva a que JRS seja confrontado com a sua própria falta de honestidade intelectual. O animal feroz transformou o caçador em vítima, pois Sócrates, com todos os seus defeitos, é reconhecido por 'quase' todos como o mestre da política e da retórica em Portugal. E devo dizer também, que em minha opinião, o tiro saiu ao lado, porque, tal como já referi, Sócrates não se deixou caçar. 'Safou-se' muito bem há uma semana, e arrasou ontem.
Contudo, em anos de missa dominical de Marcelo, ou de Marques Mendes (o 'ministro' espião do governo), não vi em lado nenhum os defensores do papel activo do jornalista no espaço de opinião. O clubismo hipócrita, de que Sócrates é a maior vítima, não se coaduna com as suas próprias contradições. Os comentadores que por aí grassam (alguns há muito mais tempo), acompanhados de fantoches inanimados que lhes dão as deixas, nunca foram postos em causa.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Aldrabices de Abril



Este tempo de antena usado pelo PS no passado dia 1 de Abril (dia das mentiras ou enganos), e com direito a recorde de audiências na RTP, faz mais em 7 minutos do que todas as intervenções diárias de Seguro. Um tempo de antena por semana, com Seguro muito calado e sossegadinho dava-lhe maioria absoluta no espaço de um mês. E também mete num bolso qualquer pseudo-entrevista do José Rodrigues dos Santos.