sábado, 8 de fevereiro de 2014

Direita ou esquerda? Ultra!

Direita e esquerda não podem viver uma sem a outra. A supressão de uma delas implica directamente a negação da outra. Em termos axiológicos, históricos, económicos e até culturais faz sentido a distinção e sobretudo a dicotomia que estimula o debate. Enquanto ele for mantido na esfera democrática, bem entendido. Ignorando os extremos de um lado e de outro, toda a última semana serviu para demonstrar de forma cabal as diferenças entre os dois, sem subestimar o carácter da crise e o estado de necessidade a esta anexado, a coligação de direita no governo e a própria matriz ideológica dos seus intérpretes.
Quando falamos de políticas intervencionistas do Estado, igualdade social, liberalização individual, mobilidade social, estamos, obviamente, na esfera de uma política de esquerda. É a direita que defende a política do mercado livre, o laissez-faire, a mão invisível. A esquerda é também favorável a uma redistribuição da riqueza e da receita, ao passo que a direita apresenta uma política de aceitação das diferenças provocadas pelo próprio mercado livre.
Claramente, a direita apela à importância das tradições e da ordem comportamental impostas pela história, pelos valores, pela religião e pela cultura já estabelecidos. A esquerda é muito mais dada à liberalização dos modos de vida dos indivíduos. Por isso mesmo, a esquerda é muito mais favorável à mudança enquanto que a direita apresenta-se muito mais conservadora. As questões fracturantes como a liberalização do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e agora a co-adopção são oriundas da esquerda. São fracturantes porque rompem com as tradições.
A direita defende que apenas através do trabalho e do mérito será possível conseguir a ascensão social, ao passo que à esquerda se acredita que naturalmente essa ascensão ocorrerá, nem que seja pela mão do próprio Estado.
A esquerda prefere o apoio à autonomia cultural e económica das nações e, pelo contrário, a direita surge como favorável à globalização e partilha à escala.
Ambos lados têm pontos em comum e naturais virtudes e defeitos, e na evolução natural do mundo de hoje, muito difícil se torna governar num só sentido.
O sector económico e financeiro que disputa com a política a luta pelo poder, e que com esta crise internacional nitidamente o suplantou, não permite um governo unicamente guiado pela esquerda. O centro, é, há uns anos a esta parte, o espaço ocupado pelos partidos que almejam ganhar eleições, de direita ou de esquerda, apesar de serem identificáveis vários exemplos que permitem distingui-los quando no poder. Na sua raiz histórica (com toda a evolução desde o séc. XIX que seria demasiado exaustivo estar a aqui a expor), direita e esquerda são liberais. A tendência é colocar o liberalismo na direita quando se fala da relevância que esta dá à propriedade e ao mercado. Mas o liberalismo situa-se à esquerda sempre que se opõe ao gosto pelas hierarquias e pelas tradições que são próprias do conservadorismo.
O problema situa-se noutro plano. Cingindo-me agora à situação portuguesa, o problema surge quando o governo da nação, intervencionada por credores ultra-liberais de direita (coniventes com os causadores da crise internacional), se identifica também ele com esse caminho. O caminho do ultra-liberalismo ou neo-liberalismo, tende a aproximar-se do extremo, desvirtuando as virtudes (passo o pleonasmo) da ideologia de direita norteadora deste governo. E assim, o capital e as empresas ocupam o discurso demagógico e populista de quem necessita de fazer dinheiro a qualquer custo, prescindindo do individuo e assente numa retórica de números em que o que interessa é o preço das coisas e não o seu valor, negligenciando os procedimentos legais como temos visto com o TC. Aliás, a judicialização da política é hoje em dia uma defesa intrínseca contra a desregulação e a ilegalidade.
É por isso, que este governo nada tem a ver com a matriz ideológica e histórica dos partidos que o compõem, a não ser nas tais questões fracturantes. O exagero das suas opções ideológicas, seguindo a tendência cega dos usurários credores e fazedores de Estados, adulteram os valores da direita no poder. E é por isso também que a crença cega e exotérica no mercado livre, já por si pernicioso (como se provou), levada ao exagero pode gerar perversões de difícil retorno. A venda de património, de empresas do sector estratégico estadual, de espólios culturais encaixa nesta visão da ditadura do capital. Esta direita no poder não é sensível ao individuo, não tem qualquer preocupação social e não se interessa por qualquer tipo de presença estadual na sua vida, contanto que apareçam números que justifiquem a sua actuação. Assim, a venda de espólios culturais (Miró), a razia na educação e na ciência (bolsas de investigação), a venda de empresas do Estado, estratégicas ou não para o país (PT, CTT, ANA, seguros da CGD, EDP, REN, etc.), o abandono da coesão territorial e do Estado na vida das pessoas (SNS, tribunais), o desprezo pelas instituições ao serviço do Estado (TC), a política mercantilista que impõe os números ao indivíduo (cortes nas pensões, salários, subsídios com o consequente brutal aumento de impostos), ignorando os números da emigração com o objectivo de esconder a real situação do desemprego, a desvalorização do factor trabalho (despedimentos e mais baratos) em benefício do factor capital, tudo junto, fazem deste governo um factor desestabilizador da paz social e das conquistas da democracia como o estado social com implicações graves por décadas. E não, a narrativa da culpa do governo ou governos anteriores já não pega, geralmente empregada à míngua de argumentos. 'Atrás de mim virá, quem de mim bom fará.'

1 comentário:

Anónimo disse...

eu só vejo é gente que fala fala critica esquerda direita centro e sindicato só fazem é miar mas ainda não vi nenhum a dizer vamos montar fabricas ou procurar empresários para ter neste pais menos desemprego ,mas naõ o estado é que tem que dar de comer a tantos gulosos que não fazem nada e recebiam ordenados for do normal só porque trabalhava pro estado ,preguntem as pessoas que trabalham no campo ao frio ou quando esta muito calor se tem as mesmas regalias que os do estado ou o pessoal das obras ou pescadores ou os empregados de caixa , o estado naõ pode ser o pai de todos porque senão são os nossos impostos e pagamentos a seg social altissimos que fazem que muitos pequenos empresarios fechem as portas ,mas como se sabe 99 por cento das pessoas que criticam a situação são empregados do estado e não conhecem a realidade dos privados porque viveram num mundo de fantasia em que agora se enconta perante a rialidade