sexta-feira, 21 de junho de 2013

Música

No solstício de Verão com a música. Alta e envolvente. A que apeteça. A das memórias, recordações doces cheias de nostalgia. Deixe-a alta e deixe abanar a cabeça no estilo mais ridículo que surja, ébrio de vibração, de desejo, euforia. A música que aquece a alma, põe os pêlos de pé, dá um nó na garganta e põe o coração nas mãos. Que acalma, que excita, que vibra e se sente como só a arte consegue. De preferência com amigos, numa mesa redonda, com a família ou sozinho/a, a música é imprescindível. A dança que se dança ao som da música. O baile e a festa. A romaria e o hino. O despertar da rádio. A saudade, ah! a saudade... A gritaria e as melhores actuações. Ao vivo. Ou não. As lágrimas reprimidas e o sorriso escondido. Há sempre uma música. A lembrança, a história e as estórias, uma viagem que se fez e a que se quer fazer, programada na que se vai fazendo. A tristeza, enfim. As lágrimas, emoção, a alma cá fora, sentida por dentro. O amor... Tudo. Tudo é música, e fado. E fado é música. E intervir é cantar intervindo. E sentir é ouvir e ouvir e cantar é sentir música. E quando se canta o mal espanta e a vida pode ser resumida na música e cantada noutra lembrada por todos. Corajosa e imponente. A música que nos persegue a vida toda e toda a música que marca uma vida.
Quem já se sentiu assim ao ouvir uma música tem os meus parabéns. É humano.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A greve que alguns professores deviam fazer

Formávamos uma fila à entrada da sala de aula, um pré-fabricado em madeira, onde a D. Maria Celeste, ainda não sei bem como, dava aulas à terceira e à quarta classe em simultâneo. A terceira classe entrava ordenadamente, um por um. A seguir, a quarta classe, afinal a idade é um posto. Ás segundas, quartas e sextas era dia de matemática. Ficava sempre para o fim da fila, receoso. Como detestava matemática! É daquelas coisas sem explicação. Os números nunca me fascinaram. Mas a D. Maria Celeste era exigente. Entrava cabisbaixo e sentava-me no lugar habitual. Mesas redondas com cinco ou seis colegas. Tinha o horror estampado nos olhos. Corria o ano de 1986. A sala de aula, ornamentada com os desenhos e trabalhos mais meritórios era um espaço que na altura me parecia do tamanho do mundo e albergava cinquenta a sessenta alunos. O pequeno almoço e o lanche ia na lancheira. A régua e as palmadas faziam-me engolir à força os números e as contas, e o português, a história de Portugal (em que ficava hipnotizado com a sua forma de a contar) e o Meio Social. Por vezes tinha pavor da D. Maria Celeste. A matemática, por minha teimosia ou defeito, tinha os dias contados.
Anos mais tarde, já depois de licenciado, e após dezenas de professores pelo caminho, reconheci-lhe o mérito de ter sido a mais marcante e melhor professora que apanhei no meu percurso. Não pelo respeito ou medo que incutia, mas porque ensinava a pensar, a calcular meios alternativos, a raciocinar, ao invés de se limitar a debitar informação (como a grande maioria fez nestes anos todos). O método podia ser por vezes questionável, mas vos garanto que era eficaz e sempre justo. Preparou-me para o resto da minha vida e nunca tive a oportunidade de lhe fazer a justiça que merecia. 
Existem mais D. Marias Celestes por esse país fora. Infelizmente, como em todo o lado, também existe o professor calão (não, não é exclusivo dos alunos), e num país em que a meritocracia é inexistente, essas maçãs podres contaminam o resto, tal como em todas as profissões. Conheci inúmeros professores calões, conheci alguns que me foram indiferentes, outros não o foram pelos piores motivos (qual dos dois o pior), e também tive o privilégio de ser ensinado (na verdadeira acepção da palavra) por outros que me ajudaram, de uma forma ou de outra, a moldar a minha personalidade. Estes, infelizmente, foram poucas excepções à regra.
A minha experiência pessoal pode ser a de muitos ou a de poucos, mas, uma coisa é certa, os professores que se manifestaram contra a política de avaliações de Maria de Lurdes Rodrigues, ao tempo do executivo socrático, foram, na sua maioria, os professores calões. Contra o mérito, contra a avaliação, contra os seus colegas que mereciam uma diferenciação positiva. O resto foram fait-divers.
Porque a minha memória não é curta, recordo o apelo de Cavaco para que os professores viessem em força para a rua.
E hoje? Hoje sim, tem razão de ser a greve e a manifestação dos professores. A mobilidade especial, a ameaça de desemprego, a redução salarial, a perda de direitos e garantias, o atropelo da Constituição com ameaças ao direito à greve, etc. Mas, tal como os professores, todos os funcionários públicos têm razões de queixa, a maior fatia de austeridade vai para eles.
Em nome da coerência, também devo dizer que há professores a mais, e funcionários públicos a mais. De quem é a culpa? Certamente não será deles, as políticas eleitoralistas dos últimos 30 anos levaram o país a basear toda a sua economia nos serviços. Em nome da verdade, o horário zero dos professores é insustentável, inadmissível e injusto para os professores de quadro a isso obrigados. A classe está macificada e nivelada por baixo. As políticas de educação, no ensino superior e afins, delimitaram uma fronteira larga demais, em que o acesso à profissão se tornou prejudicial para toda a classe. A meritocracia baseada na avaliação iria pôr um travão e maior justiça quer no acesso à profissão, quer no seu desempenho. Os calões e os sindicatos, por vezes ávidos de protagonismo bacoco não deixaram. Hoje por hoje a sua luta é justa mas só até certo ponto. Querer tudo, sem dar nada em troca é desleal. Quem sofre é a própria classe e principalmente os alunos.
Num outro campo, o verdadeiro responsável pela situação, Nuno Crato é o exemplo acabado da politiquice e do autoritarismo. A teimosia ditatorial representa sempre o desespero de quem não sabe comunicar, dialogar e não quer nem procura consensos. Obrigou milhares de alunos a fazer exame, não o desmarcando, enquanto outros tantos milhares não o fizeram, sendo, na mesma, obrigado a marcar nova data. Certamente que não estava à espera que os professores fizessem greve em Agosto ou no Natal? Ou estava? E agora, que foi obrigado, após uma lição democrática de humildade dada pelos professores em greve, a adiar o exame para quem não o fez, arranjou outro sarilho. Se o exame for mais fácil, esses alunos são beneficiados, se for mais difícil são prejudicados. Igual não pode ser. A igualdade de acesso à universidade ficou assim prejudicada por teimosia do ministro.

P.S. - A greve é um direito constitucionalmente garantido. Bem sabemos como este governo lida mal com a Constituição, mas definitivamente, não pode haver datas em que a greve não dá jeito e portanto não se pode exercer.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Chega de brincadeira

Quando Vítor Gaspar diz que a recessão no 1º trimestre se deve à chuva está a brincar com os portugueses. Quando Gaspar pede para terem pena dele por causa da sua alma benfiquista dorida está a brincar com os benfiquistas.
Quando o FMI admite que se enganou na receita de austeridade aplicada à Grécia está a brincar com os gregos. Quando a mesma receita foi a aplicada em Portugal é óbvio que o FMI admite que também se enganou na receita aqui aplicada, e portanto também brinca com os portugueses. Quem quis ir além da receita, como afirmou Passos Coelho, andou a brincar este tempo todo.
Quando Passos Coelho afirma a sua intenção de vender ainda este ano os CTT e a TAP está a brincar com os trabalhadores e com os portugueses. Quando Mexia diz que já não é aumentado há mais de 8 anos, depois de se saber que recebe €600 mil por ano mais prémios, está a brincar com a esmagadora maioria dos portugueses. Quando Nuno Crato põe em causa a greve anunciada pelos professores e depois vê chumbada a hipótese de serviços mínimos e ainda assim insiste, um tanto ou quanto ditatorialmente, está a brincar com milhares de professores. Quando Passos Coelho diz que não há dinheiro para pagar o subsídio de férias a milhares de funcionários públicos, apesar de assim ter sido ordenado pelo TC, está a brincar com eles. Quando dezenas de municípios, em ano de autárquicas!, ao arrepio das instruções do governo pagarem, e bem, aos seus funcionários o dito subsídio, o pagode está instalado.
Sobra a pergunta: QUANDO É QUE ACABA A PUTA DA BRINCADEIRA?

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Consensual

Não há nada melhor para assinalar os dois anos deste governo do que as notícias sobre o recuo da economia no 1º trimestre do ano e o défice fora de controlo. A recessão atingiu 4% e o défice para já está nos 8%. As metas para este ano já foram à vida e para o ano, provavelmente, também. O consenso está pela hora da morte com o anúncio de greves gerais conjuntas da UGT e da CGTP e dos professores, apesar do apelo de Portas. Os despedimentos anunciados e a mobilidade especial como caminho disfarçado para o desemprego não permitem consensos. O desemprego, bom, o desemprego lá continua o seu caminho para o abismo, levando com ele o país. O balanço não podia ser pior. Legitimidades à parte, dúvidas não restam, e é quase consensual, que este governo é o mais incompetente de sempre, feito alcançado em apenas dois anos, se bem que se entenda que foi alcançado bem antes. 
Não vou aqui repetir tudo o que já disse e se disse, os resultados estão à vista de todos...
Quanto ao consenso da esquerda, o único interessado parece ser o Bloco, se bem que, a sua matriz ideológica, de romper com a Europa e com o memorando da troika, não é para já, a mais adequada para poder gerar esse consenso. Para já... O PC já se sabe, é do contra porque é, e o PS de Seguro, não arrisca um milímetro na sua linha cautelosa e mediana de esperar que o poder lhe caia no colo. Infelizmente... Quando Soares (desbocado, por vezes) e Alegre se vêm forçados a andar com eles ao colo algo vai mal. E quando se lhes junta Pacheco Pereira então é porque o caldo está mesmo entornado...

P.S.- Este governo já vai em mais de 4400 nomeações. Em dois anos já superou as nomeações do governo anterior que, como se sabe, durou seis anos.