segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2014 - A nova fronteira

Portugal não é autossustentável. É um ponto assente que não produzimos o suficiente para o país sobreviver sem se endividar. As políticas mercantilistas, de betão e de PPP's, iniciadas ainda nos governos de Cavaco, que trocou as pescas, a agricultura, as minas e o sector industrial pelos dinheiros da Europa, apostando nos produtos não transaccionáveis e na grande distribuição feita de hipermercados e centros comerciais. A prosperidade e modernidade tornou-se efémera num país que continuou a política da obra feita ainda que à custa de onerar por décadas o futuro. A protecção dos grandes interesses pelos sucessivos governos, da energia à construção civil e à especulação imobiliária, da banca às celuloses, com nomeações garantidas a inúmeros políticos saídos dos governos como se fosse um mero trampolim, arruinou o que restava da produção nacional e garantiu que o país fosse apanhado com as calças na mão ao chegar a crise internacional. A quebra abrupta da natalidade, a emigração com níveis só comparáveis aos anos 60 do século passado, tornando insustentável a médio prazo o pagamento de pensões, porque quem trabalha é em menor número do que quem não trabalha ou já trabalhou, o enterrar do interior do país, abandonando-o à sua sorte, com encerramento de tribunais, postos de correio, repartições de finanças e mais que possa existir, a mentalidade de que o Estado chega para todos e a todos tem que amparar, sem que o critério seja o do mérito mas sim o tráfico de influências e a corrupção.
Como se não bastasse, este governo arruinou a economia em nome da salvação das contas públicas, e a pequena retoma a que agora se assiste mais não é senão a certeza de que batemos no fundo, aliada ao ligeiro aumento de poder de compra que o TC proporcionou ao impedir os cortes nos subsídios dos funcionários públicos. Quando se chega ao fundo do poço é impossível descer mais. Um povo que passou de piegas ao melhor povo do mundo, num memorando troikiano mal calibrado (Passos Coelho dixit ao fim de dois anos), ele que quis ir além do memorando, pondo em cena todo um plano de terra queimada numa cartilha vingativa contra o Estado social em nome de uma ideologia que sacrificou uma geração. A tão apregoada reforma do Estado continua por fazer, o tal objectivo que era suposto atingir-se com os sacrifícios de todo um país. O barco navega ao sabor do vento, sem rumo nem estratégia que não seja a de agradar à troika, e nem que isso signifique matar o pouco que resta do sector público estratégico e lucrativo do país. Uns quantos cortes na despesa, cegos e aleatórios foi tudo o que se fez nestes últimos dois anos, com o PIB a recuar 8 mil milhões de euros, a dívida não parou de crescer, assim como o desemprego, as taxas de juro não baixam e as desigualdades são cada vez maiores. O coma induzido será substituído a breve trecho pelos cuidados intensivos de longo prazo, Portas até já tem um relógio em contagem decrescente para com pompa e circunstância poder anunciar que continuaremos hospitalizados. O bom aluno aleijou-se nas aulas, e o professor é um espécime a extinguir. A tragédia e a devastação continuarão a trilhar o seu caminho com a muleta da UE e o olhar paternal de um governo incompetente e miserável, que se ajoelha sempre que lhe falam mais alto. A troika não pode nem quer aceitar um falhanço, e irá impor um segundo resgate, mudando-lhe o nome sob a supervisão do BCE. 2013 foi um ano para esquecer em Portugal, e não espero melhor em 2014 ou nos anos seguintes, porque Portugal continuará sem conseguir autossustentar-se e porque nenhuma reforma de fundo foi feita. Espero que em 2014 ninguém esqueça que a vitória de Pirro que o governo anunciará, não passará de uma nova e longa etapa que representará a mesma austeridade e o mesmo caminho. No léxico de Portas, será uma vitória irrevogável...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Três laranjinhas menos duas laranjinhas é igual a uma laranjinha

A falta de vergonha na cara é um problema sério que se está a transformar numa pandemia. No nosso país e no mundo.
Resumir o ano de 2013 torna-se fácil após a mensagem natalícia de Passos Coelho. A bandalheira e a chico-espertice foi ao cúmulo de, fazendo de todos nós parvos, afirmar que em 6 meses o governo criou 120 mil postos de trabalho. Mais uma vez os números choram e tremem nas mãos de Passos. São torturados até atingirem os propósitos do seu carcereiro. Se eu produzir 3 laranjinhas e papar 2 laranjinhas, só tenho uma laranjinha para vender. A matemática é exacta e universal. Se ocultarmos que enchemos a barriga com 2 laranjinhas, podemos anunciar aos crentes que produzimos 3 laranjinhas sem que seja necessário mostrá-las. A tristeza da coisa, é que tal como Tomé também nós quisemos ver para crer. E quando fomos ver faltavam 2 laranjinhas. E assim descobrimos, os que quiseram ver, que no primeiro trimestre se destruíram 100 mil postos de trabalho. E que nos últimos 2 anos se destruíram 500 mil postos de trabalho. Aplicando a difícil equação ao terço de Passos Coelho, chegamos à conclusão que este ano foram criados 20 mil postos de trabalho. Eu ajudo: 120-100=20... E se formos aos últimos 2 anos, já com a fórmula correcta aplicada dá: 500-20=480... Ou seja, Passos destruiu 480 mil postos de trabalho com a sua política de empobrecimento, ajustamento, austeridade, o que lhe queiram chamar. No final das contas não dá nem um gomo da laranja para espremer. E bem espremido não há sumo que se veja. Quando mexemos com as laranjinhas e com a tabuada, tal como nos ensinaram na primária, a verdade matemática é como o azeite. O governo já tinha tentado fazer o mesmo com os números do desemprego, ocultando da equação os números da emigração. Andam sempre ás turras e ás apalpadelas, como um cego sem bengala.
Aliás, 2013 ficou marcado pela crise irrevogável de Julho, e que sabe-se agora, custou ao país 2300 milhões de euros. Pois é, a rapaziada revogável que anda a brincar à política e aos tribunais esqueceu-se deste número e da brincadeira.
Assim como esquecem amiúde que em plena comissão de inquérito aos swaps, o próprio governo negociou um swap que nos onera em mais uma década. Comissão de inquérito cujo relatório final foi ardilosamente concluído pela maioria e seus pajens.
A democracia armodaçada de 2013 com que nos querem convencer que a dívida é insustentável e impagável sem o caminho da austeridade extrema, da privatização de todos os nossos recursos e sectores estratégicos é um caminho fraudulento assente na repetição populista e exaustiva do martelar dos números, do empobrecimento para além da troika, da chantagem e da pressão, ainda que seja exercida sobre um órgão de soberania como ainda é o nosso TC.
A falta de vergonha na cara não tem limites, principalmente se tiver a cara do primeiro Ministro e do seu vice...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Querido Pai Natal...

Imbuído do espírito natalício, escrevi ao Pai Natal, e nessa missiva pedi paz e amor para todo o mundo, como uma miss qualquer coisa faria, e num derradeiro ato de puro altruísmo pedi para oferecer uma Constituição ao Passos Coelho e outra ao Paulo Portas...

P.S.- Boas festas para todos sem exceção...

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Que violência

O Papa Francisco atacou o capitalismo sem limites como “uma nova tirania” e advertiu que a desigualdade e a exclusão social "geram violência" no mundo e podem provocar "uma explosão".
E pergunto eu: ninguém acusa o homem de incitamento à violência?

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Nadir Afonso


As coisas que nos fazem recordar, identificar em silêncio, um aperto do estômago, com um nó da garganta. As memórias, saudade de um lugar, a felicidade da pertença, os risos gargalhantes ou um sorriso entusiasmante, corajoso, tímido, cheio de esperança, prometedor de suspiros soluçantes.
Numa inocência partilhada por séculos de distância, olhados com ternura após anos de vivências ébrias de esquinas e recantos. Sussurros escondidos nas portas e janelas, varandas de encantamento e nostalgia pintadas de paisagens de emoção. As lágrimas que fazem crescer, ali naqueles sítios, naquelas ruelas, naquelas casas. A existência comum e a comunidade que existe. A paixão da alma e o amor à terra.
Assim são os quadros de Nadir Afonso quando os vejo. São os quadros do Mestre que nasceu em Chaves. O Mestre flaviense que pintou a cidade como ninguém. Que levou Chaves a Le Corbusier e Niemeyer. Que percorreu as mesmas ruelas que eu. Que conheceu como eu o mistério de amar uma cidade. A nossa...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nelson Mandela

Não deixem de partilhar e de divulgar até à exaustão o legado de Mandela, para que sobreviva por muitos e bons anos, e para que ninguém deixe de saber o que a política pode fazer de bom quando ao serviço do povo, e feita por políticos que a sabem usar para esse fim. 
E porque traduz fielmente aquilo que penso, e porque não o escreveria melhor, aqui deixo a minha homenagem a Nelson Mandela, nas palavras de Daniel Oliveira, hoje, no Expresso Online:


"Não matem de novo Mandela

A melhor forma de anular um homem, e em especial um político, é torná-lo consensual. Depois da morte física mata-se, pelo elogio desmesurado e vazio de conteúdo, a memória política. É isso e apenas isso que me irrita no kumbaia internacional em torno de Mandela, transformado numa personagem romântica de Hollywood, com a vida quase resumida ao apoio que deu à seleção nacional de Rugby e ao olhar bondoso dum velhinho simpático.
Mandela foi um revolucionário. Considerado um radical e um terrorista por grande parte do ocidente e pela generalidade da direita europeia. Isto quase até às vésperas de ser libertado - ou seja, durante quase toda a sua longa existência. Constou, por decisão da administração Reagan, na lista de terroristas do Departamento de Estado norte-americano. Não se enganavam ao não o verem como um moderado. Foi contra a linha tradicional de resistência passiva do ANC, influenciada pelo pensamento de Gandhi, que, também ele, vivera muitos anos na África do Sul. Defendeu e usou a violência, tendo dirigido o grupo armado próximo do ANC, que ele criara em 1961, depois do massacre de Sharpeville. O MK (Umkhonto we Sizwe, Lança de uma Nação) contou com enormes resistências do pacifista e líder histórico do ANC, Albert Luthuli, que já se tinha confrontado com Mandela, ao defender o ingresso de não negros no ANC, que aconteceria em 1954, através do Congresso do Povo. Foi também Mandela o obreiro da aliança que dura até hoje com Partido Comunista da África do Sul, importante para conquistar apoios do bloco socialista. E conseguiu algum, no plano financeiro, político e militar.
A opção de Mandela pela luta armada não resultou duma posição de principio ou dum temperamento bélico, assim como não foi uma posição de principio ou um temperamento conciliador que justificaram sua posterior política de apaziguamento. Foi por puro pragmatismo, ao perceber que o regime e as potências ocidentais seriam insensíveis à via pacifica de resistência, durante uma guerra fria que o deixava a ele do "lado errado da história" e fazia do regime do Apartheid um mal menor para uns EUA, eles próprios com pouca sensibilidade para temas como a igualdade racial. Por isso, aceitou que a guerra civil, sendo indesejada, poderia vir a ser inevitável. E que teria como aliados internacionais aqueles que estavam dispostos a sê-lo.
Depois de 27 anos de prisão, Mandela não se deixou cegar pelo rancor, que aparentemente desconhecia. Essa é talvez a sua mais admirável qualidade humana. Mas seria bom não simplificar estas coisas. Não é apenas por um espírito vingativo que as mudanças nas sociedades degeneram em violência. Nem por descontrolo ou falta de visão. É também, e quem o escreve é um pacifista, porque a paz, e não apenas a guerra, tem um preço. Se assim não fosse, não encontraríamos um homem bom e justo com uma arma na mão. E história está cheia deles.
Por causa da escolha da via do apaziguamento e reconciliação (apenas possível porque a queda do muro de Berlim tornava Mandela aceitável aos olhos do ocidente), o fim do apartheid não correspondeu ao fim da segregação social, da miséria, da violência, da criminalidade e da desigualdade extrema. Na realidade, pouco as atenuou. Porque aceitar que a estrutura social não se alterava radicalmente era a única forma de impedir uma reação da minoria branca. E era a única forma de travar as aspirações de milhões de negros, apenas alcançáveis, pelo menos numa geração, por uma autêntica revolução social necessariamente violenta. Só a autoridade histórica de Mandela, que nascia da sua luta, dos anos de prisão e da sua radicalidade - e não de ser um velhinho bondoso -, podia travar as alas mais radicais do ANC (de que ele fizera parte). Muitos elogios ao espírito de reconciliação de Mandela ignoram que para haver reconciliação é preciso ter havido luta. Só negoceia quem combateu. Só modera quem teve a coragem de ser radical quando a realidade contra a qual lutava era radicalmente injusta. E que autoridade de Mandela para, aos olhos dos que então se libertavam do apartheid, ser o pai dessa reconciliação eram as suas credenciais de vigoroso combatente.
A verdade é que o apaziguamento implicou cedências, e o preço foi bem alto: não se rompeu com a injustiça social do passado. Não digo que tenha sido errado. Parece-me mesmo que era a única solução sensata. Mas preferia que não se reduzisse esta escolha tremenda às qualidades humanas de quem sabe perdoar. Esta capacidade é necessária, mas não é suficiente nem prevalece sobre tudo o resto. Mandela fez, antes de tudo, uma escolha política que, sendo na minha opinião acertada, teve grandes custos e era pelo menos discutível.
E estas escolhas tiveram também um preço político. Só era possível manter este rumo com um ANC coeso, sob a batuta moral e simbólica de Mandela, que foi apadrinhando as sucessivas lideranças, sem grande intervenção nas suas escolhas fundamentais. Graças a essa tutela de Mandela, o ANC manteve, de facto, o peso que antes tinha, com raras dissidências que acabaram por se revelar pouco relevantes. O resultado foi que à ditadura do apartheid sucedeu um sistema partidário em que apenas um partido ambiciona a vitória e onde tudo se decide nas suas violentas lutas intestinas. E isso contribuiu de forma decisiva para que permanecessem os níveis de corrupção que o ANC não só não combateu como deles se alimentou e que salpicam de lama quase todos as principais figuras da organização. À velha elite branca juntou-se uma elite negra que orbita em torno do ANC e que dele se serve.
Sobre esta transição, aconselho vivamente um documentário de Jihan El-Tahri (trailer no início). A realizadora libanesa é autora de outros documentários sobre o envolvimento cubano em África - demasiado simpático para Havana, na minha opinião - e um excelente trabalho sobre a Arábia Saudita. Em "Behind the Rainbow", El-Tahri, que parece ter simpatia por Mandela, abandona as imagens românticas e faz uma análise política rigorosa da África do Sul e da história do ANC. São relatados os conflitos e tensões no interior do ANC, mesmo antes da prisão de Mandela. Conflitos que acabariam por desaguar, mais recentemente, na vitória de Jacob Zuma, que era visto como um "radical" dentro do movimento.
O filme é denso, contraditório e sem respostas fechadas. Tudo ao contrário do enjoativos panegíricos que tenho lido sobre Mandela. É que nenhum panegirico é merecido, porque reduz o homenageado à sua própria caricatura. Jihan El-Tahri faz o esforço contrário. Não sei mesmo se não se torna, na vontade de ser rigorosa, demasiado severa com Mandela, que quase acusa de demissão na fase de consolidação da democracia, entregando de forma acrítica o poder a um Thabo Mbeki, tratado, com toda a justiça, como o padrinho da nova elite negra, que não parece ser mais sensível ao sofrimento dos sul-africanos mais pobres do que era a elite branca.
Justa ou injusta, a realizadora contraria um olhar sobre a África do Sul que se fica sempre pela questão racial e pelo risco de guerra civil. Recorda-nos que, como em todo o lado, há outras esferas do confronto político. Começando pelo esfera social, onde os mesmos debates que aqui temos são centrais: desigualdade, distribuição da riqueza, direitos sociais, papel do Estado e do mercado. Isto num país que vive numa desigualdade extrema. E a diferença entre um político e um líder religioso, é que o político, tendo de lidar com estas escolhas práticas, nunca pode aspirar, se quer agir, à santidade.
Na África do Sul, porque a vida continuou depois do fim do sistema formal de segregação racial, quando o mundo suspirou de alivio por ali não ter havido um banho de sangue, algumas escolhas que Mandela fez, e outras tantas que não fez, foram determinantes. E quase todas esbarraram com o mais difícil de todos os dilemas políticos: devemos aceitar a desigualdade extrema para ter a paz ou temos a obrigação de escolher a guerra para conquistar a justiça? Resumir estas escolhas à bondade de um homem, despindo-o de todos os dilemas morais e cálculos políticos, é pura e simplesmente infantil.
Pode parecer o contrário com este texto, mas tenho por Mandela uma infinita admiração que não divido, na mesma dimensão, com nenhum político vivo. Mas ela baseia-se na paixão pela política, que tem sempre uma dimensão ética e moral, mas que nunca se fica por aí. Não no desprezo pela ação política, típico em quem procura santos e heróis românticos entre governantes. Mandela foi um homem bom e, pela sua combatividade e contenção, foi e será sempre um herói. Mas foi um herói político. Fez escolhas difíceis e discutíveis. No momento em que o ANC era frágil e não contava com o apoio do ocidente, escolheu a violência quando outros teriam preferido manter a linha pacifista. Quando o poder lhe estava quase nas mãos, escolheu o apaziguamento contra os que queriam correr todos os riscos para combater o legado social e económico do apartheid (e não apenas ou sobretudopara se vingarem), de que só uma pequena elite negra se viu livre.
As escolhas que fez tiveram muitas vantagens e grandes custos. Todos imaginam os rios de sangue e de ódio, tão comuns por aquelas e por outras paragens, se Mandela tivesse seguido o caminho oposto ao do apaziguamento. Mas também não podemos ignorar que o apaziguamento se pagou com uma interminável "guerra civil" de baixa intensidade, através do crime e da violência inerentes à desigualdade extrema. E na degradação moral de grande parte dos líderes do ANC (com Mandela de fora, como exemplo raramente seguido), mergulhados num sistema em que apenas uma pequena elite dirigente vive fora dum apartheid social ainda vigente.
O que interessa é saber que Mandela não foi uma estátua. Foi uma pomba e um falcão, foi um combatente, um negociador, um calculista e um pragmático. O que me custa, em quase tudo o que tenho lido e ouvido sobre ele, é o assassinato da sua vida e da sua história. Como se a política se resumisse à escolha entre o bem e o mal. Como se Mandela tivesse sido apenas um homem bom. Ao contrário do que pensam os cínicos, há muitos homens bons no mundo. O que é raro é, como Mandela, terem a coragem de dispensar a santidade e preferirem a política, esse mundo "sujo" repleto de escolhas perigosas e gestos calculados."

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Vão-se os anéis e os dedos

Entregar os Estaleiros Navais de Viana do Castelo a uma empresa falida é no mínimo estranho, não pondo em causa a legalidade do processo, é uma decisão que poderá ser a médio prazo irresponsável e reveladora da falta de estratégia a que infelizmente já nos habituaram.
Crato volta atrás e por causa da contestação, mais de 25 mil professores já não vão a exame. Um exame limitativo do acesso à profissão e portanto a roçar a inconstitucionalidade, semelhante ao exame que Marinho e Pinto tentou impor aos licenciados em Direito para acesso à Ordem dos Advogados.
Entretanto continua o desmantelamento do Estado e do sector público com a venda a retalho dos CTT, mais uma empresa lucrativa desbaratada e vendida por causa das metas do défice e da obsessão deste governo. Por duas razões, a vingança ideológica contra o sector público e a sua regulação e a incapacidade de baixar o défice e a dívida, que não seja em cortes nas pensões e reformas cegos e fáceis, aumento de impostos, baixa de salários e privatizações. Vão-se os anéis mas os dedos são amputados à razão de 10.000 por mês, pessoas bem entendido, forçadas a emigrar.