sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Guinness

Mais um recorde do 'Guinness' para Portugal. Uma vez mais, o Tribunal Constitucional chumba uma lei do Governo. Um Governo fora-da-lei, insensível à lei e que insiste na sua violação. Vai por tentativas. Pode ser que se salve a dos dinossauros autárquicos. Ou não...
Já muito se tinha alertado para os perigos da mobilidade especial do sector público. A insegurança e discricionariedade, o factor aleatório dos despedimentos encapotados e a quebra de confiança. Obviamente que estes princípios estão consagrados na CRP. Haverá alguém que suporte a tese de que lá não deveriam constar? Passos Coelho já sabemos, dava-lhe jeito passar por cima dessas coisas.
Ainda não está em vigor a última alteração que reduziu a compensação por despedimento para 12 dias e o FMI já avisou que os salários do privado devem ser ainda mais reduzidos. O FMI pede um corte no salário mínimo e propõe cortes nos salários (abaixo do salário mínimo) dos jovens até 24 anos ou em alternativa nos três primeiros anos de contrato. Se não fosse a nossa velhinha Constituição que seria de milhares de pessoas. A exigência de redução de salários tem como fundamento um relatório com dados viciados, que oculta os cortes que em dois anos já foram feitos. A cartilha do FMI, livro de bolso deste governo e dos Borges que o compõem, é o que sempre foi, e se for necessário martelar números para pôr em prática a sua teoria ideológica, fazem-no sem qualquer pudor. É esta a desvalorização salarial que o programa de ajustamento pretende impor. A transferência de rendimentos do factor trabalho para o factor capital é essencial nesta verdadeira revolução neoliberal. Vítor Gaspar tinha razão quando disse que os portugueses eram "o melhor povo do mundo".
Os números enviados pelo Governo para o FMI sobre cortes salariais foram falsificados. Partindo dessa base, o FMI elaborou gráficos e um relatório no qual defende que Portugal precisa de ajustar ainda mais os salários. Os dados enviados que serviram de base para a elaboração do relatório ignoram milhares de casos. E o relatório, surpreendentemente, não foi corrigido.
Os números enviados assim, ou foram martelados negligentemente, o que também é uma característica deste governo, e então demonstra uma vez mais toda a incompetência de quem nos governa, ou foram martelados propositadamente, para servir a continuação da aplicação da cartilha ideológica e de facção governamental, e neste caso estaremos perante matéria do foro criminal. Por alguma razão esta medida foi antecipada e não constará da próxima proposta de Orçamento. Porque havia a suspeita da sua inconstitucionalidade e assim daria tempo para a emendar. Assim se governa em Portugal. Vai-se apalpando terreno e quando a bomba explode recua-se, não antes de pressionar as instituições e mandar às malvas a separação de poderes e o Estado de direito democrático.
Entre público e privado ninguém fica a rir. A canalhice não conhece limites e o que se anuncia será ainda pior...

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pessoas inconvenientes

Não gosto da companhia de pessoas mais estúpidas que eu. Deixam-me desconfortável. E não gosto, em definitivo, da arrogância do novo rico do poder, refiro-me ao poder do chefe, que exige que o tratem por chefe apesar de ser um bardamerdas que sem qualquer esforço é chefe há dois dias sem nada que o recomende. Detesto as pessoas inconvenientes. As que gostam de intimidar, e que sem nunca terem feito nada na vida, assim que se apanham numa posição superior esquecem tudo o resto e trepam em todos sem qualquer pudor. As que esquecem as raízes porque têm vergonha das origens, da província ou da proveniência. Detesto pessoas que apregoam aos sete ventos que dizem sempre o que pensam, em qualquer circunstância, porque geralmente nunca dizem o que sabem, nem sabem o que dizem, e quase sempre a circunstância não o aconselha. Não gosto de pessoas que me agarram e puxam chamando a atenção, não se dando conta que essa necessidade de agarrar e puxar é porque são chatos e o interlocutor está farto de os ouvir. Não gosto da gente que paga para ser notícia, nem de quem lhes paga. A futilidade nestes casos é sempre o mote. Veja-se a futilidade da entrevista de Judite de Sousa a Lorenzo (que não sabia quem era até aquela data).
Não gosto dos graçolas que lançam graçolas à custa dos outros para serem notados. A realidade é que não sabem fazer mais nada. Vivem do expediente. Não gosto de criminosos indignados com o sistema. A culpa é sempre do Estado ou do estado das coisas.
Não suporto oportunistas, os de ocasião e os corredores de fundo. Detesto mal agradecidos e que não sabem reconhecer um erro. Falta de humildade, de carácter e de personalidade. Não gosto de lambe botas, sempre sem opinião própria, macacos imitadores que se limitam a reproduzir o que ouvem dizer.
Não gosto de bisbilhoteiros, sejam americanos ou não, dos que promovem o big brother mundial e dos que espiam e julgam em causa própria.
Irritam-me principalmente os ateus políticos que têm sempre opinião sobre tudo e que são incapazes de se definir. Os cobardes anti-sistema são da pior espécie e andam sempre ligados ao extremismo.
Não gosto de pessoas mesquinhas, tacticistas, sempre a promover a intriga à espera de dividendos. As egoístas que usam o próximo para o seu próprio lucro, indiferentes à condição humana tiram-me do sério. António Borges era um deles e a sua morte é-me indiferente por isso mesmo.
Depois não gosto dos que apregoam a verdade, e que sempre com grande descaramento, demagogia e alguma dose de prosaica tentam escamotear a real situação e a sua real posição acerca dos assuntos que geriram de forma incorrecta e muitas vezes negligente.
Não gosto de independentes que nunca o foram, não o são, nem serão. Não gosto de antipolíticos só porque está na moda e não têm qualquer ideia ou princípio, não sabem distinguir o A do B, e usam a independência para aparecer na fotografia. Mais egocêntricos que qualquer político egocêntrico, afinal este último está habituado. Não gosto da independência com motivos revanchistas e sempre com motivos políticos. Quer se queira quer não. Vira casacas sem vergonha na cara, e sem respeito próprio que me embaraçam quando me imagino na sua posição. E estes são a regra nas próximas eleições. Não esqueçamos o 'flop' Fernando Nobre.
Gosto muito de pessoas, mas só de algumas...
Admito que haja pessoas que não gostem de mim. Tenho é a arrogância de pensar que essas pessoas só podem ter as 'características' acima referidas...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As cinzas do dia

O céu negro anuncia trovoada, mas não é de trovoada que se trata. É fumo negro, que, nebuloso, se abate sobre a cidade. Chovem cinzas! As cinzas da minha terra... A lua avermelhada e incandescente parece sangrar a terra que arde.
Os pirómanos, dizem, são na sua esmagadora maioria, alcoólicos anónimos, débeis mentais, desempregados depressivos ou indigentes.
As investigações a isso conduzem, os interrogatórios assim o ditam, os julgamentos assim determinam. Esquecem sempre é o porquê das coisas. No processo penal urge encontrar os culpados de tão alarmante crime. Nos meandros perde-se o porquê. E na esmagadora maioria dos casos, o porquê está nas entrelinhas, nos pormenores e na falta de tempo da justiça, cada vez mais pressionada, vasculhada e criticada. O tempo da justiça não é, nem pode ser, o tempo da opinião pública, mas no mundo global em que vivemos, em que a informação e a sede de retribuição, ainda que popular e populista se sobrepõe ao bem comum, em troca dos bens pessoais, a justiça não dispõe de meios nem do senso que aprofunde as questões. Os meios não permitem uma justiça célere que permita uma célere justiça... A opinião pública exige linchamentos, quanto mais mediáticos melhor, e pelo meio, as circunstâncias vão-se perdendo, em nome da justiça.
Isto para dizer, que a razão principal para os pirómanos serem quem e como são, como acima referi, reside na sua condição de alvos fáceis de manipular, e para quem 50 euros para pegar fogo a uma mata pode representar uma semana de desafogo. Os principais culpados são os mandantes, seres mesquinhos e gananciosos, que encaram tudo e todos como um obstáculo, e não olham a meios para atingir os seus fins. O aproveitamento das fraquezas dos outros já por si, diria tudo de um qualquer individuo, mas a sua avidez sem limites, e desprezo pelas consequências que todos conhecemos torna-os no mais desprezível que pode haver num ser humano.
A investigação, o processo e a condenação perde-se na espuma dos dias. Oferecer condenados ao povo é tudo o que realmente interessa. Não querendo com isto deixar de responsabilizar quem directamente põe em perigo e ameaça bens e pessoas, transformando com o seu ato uma paisagem verdejante num inferno, apenas quero deixar um alerta para quem realmente são os principais responsáveis por um dos maiores crimes a que assistimos todos os dias no Verão.
Já agora, vale a pena pensar nisto: em vez de pagar milhares de milhões a ladrões de bancos, como no BPN, BPP, Banif e afins, não seria melhor profissionalizar de vez e em condições o corpo de bombeiros nacional, dando-lhes efectivamente meios aéreos e humanos para o combate heróico que travam todos os dias? Em chamas ou inundações, acidentes e transporte de doentes? Quantos mais terão que morrer em nome da estupidez e da ganância dos seus pares? Em vez de ter que pedinchar meios aéreos a Espanha ou a França?
O meu louvor e todo o respeito aos verdadeiros heróis, os bombeiros!!!

sábado, 17 de agosto de 2013

Dará para esquecer?


E pronto! Assim de repente 1,1% de crescimento do PIB no último trimestre dá para esquecer 10 trimestres de recessão. Dá para esquecer uma reforma do Estado inexistente, feita à base de cortes cegos na saúde, educação e segurança social, despedimentos aleatórios e desemprego brutal. Dá para tudo, até dá para pressionar mais uma vez o Tribunal Constitucional, numa avalanche chantagista que se dá mal com as instituições democráticas, base de soberania e independência. Passos Coelho não sabe o que é separação de poderes, o pilar fundamental da democracia, e se não sabe é incompetente, irresponsável e ignorante; se sabe, após os chumbos do TC, é fascista, sem qualquer medo do apodo.
Dá para esquecer Relvas, Borges, Gaspar e Portas, Albuquerques e todos aqueles secretários de Estado que mal aqueceram a cadeira. Dá para esquecer espiões pouco recomendáveis, pressões a jornalistas, equivalências e rendas no sector da energia, para os amigos e para os chineses. Álvaros e companhia, Catrogas, os buracos de Jardim, do BPN e dos Machetes, dos Cavacos e comparsas e limitações de mandatos pouco limitados. Troikas e avaliações mal feitas e por concluir. Jogos de politiquice irrevogáveis, contas sempre erradas e previsões logradas. Dá para esquecer a realidade de um país definhado, afinal é Agosto e o país foi a banhos.
1,1% de crescimento no último trimestre dá para esquecer a novela vergonhosa do último mês, até dá para as sondagens serem favoráveis, e no Pontal as previsões foram mais uma vez de esperança e de demagogia. Dá para esquecer austeridade em cima de austeridade, a venda do país a retalho (os CTT's são já a seguir), as demissões sem ética, e as nomeações habilidosas.
Esquece a Lei das Rendas, o novo mapa judiciário, o novo Processo Civil, a extinção das freguesias, todas contra as populações, contra as pessoas e contra a interioridade. Esquece o diálogo, os pensionistas, reformados, desempregados, professores e funcionários públicos, como sempre. O que interessa são os números, 1,1%. Ainda que no fim do ano a recessão continue a ser uma realidade, o desemprego um flagelo e a pobreza e a dívida uma calamidade. Só esquece a quem não quiser ver... Oxalá esteja enganado!
1,1% de crescimento no último trimestre e finalmente atingimos os valores de há 13 anos. Parabéns!