segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2014 - A nova fronteira

Portugal não é autossustentável. É um ponto assente que não produzimos o suficiente para o país sobreviver sem se endividar. As políticas mercantilistas, de betão e de PPP's, iniciadas ainda nos governos de Cavaco, que trocou as pescas, a agricultura, as minas e o sector industrial pelos dinheiros da Europa, apostando nos produtos não transaccionáveis e na grande distribuição feita de hipermercados e centros comerciais. A prosperidade e modernidade tornou-se efémera num país que continuou a política da obra feita ainda que à custa de onerar por décadas o futuro. A protecção dos grandes interesses pelos sucessivos governos, da energia à construção civil e à especulação imobiliária, da banca às celuloses, com nomeações garantidas a inúmeros políticos saídos dos governos como se fosse um mero trampolim, arruinou o que restava da produção nacional e garantiu que o país fosse apanhado com as calças na mão ao chegar a crise internacional. A quebra abrupta da natalidade, a emigração com níveis só comparáveis aos anos 60 do século passado, tornando insustentável a médio prazo o pagamento de pensões, porque quem trabalha é em menor número do que quem não trabalha ou já trabalhou, o enterrar do interior do país, abandonando-o à sua sorte, com encerramento de tribunais, postos de correio, repartições de finanças e mais que possa existir, a mentalidade de que o Estado chega para todos e a todos tem que amparar, sem que o critério seja o do mérito mas sim o tráfico de influências e a corrupção.
Como se não bastasse, este governo arruinou a economia em nome da salvação das contas públicas, e a pequena retoma a que agora se assiste mais não é senão a certeza de que batemos no fundo, aliada ao ligeiro aumento de poder de compra que o TC proporcionou ao impedir os cortes nos subsídios dos funcionários públicos. Quando se chega ao fundo do poço é impossível descer mais. Um povo que passou de piegas ao melhor povo do mundo, num memorando troikiano mal calibrado (Passos Coelho dixit ao fim de dois anos), ele que quis ir além do memorando, pondo em cena todo um plano de terra queimada numa cartilha vingativa contra o Estado social em nome de uma ideologia que sacrificou uma geração. A tão apregoada reforma do Estado continua por fazer, o tal objectivo que era suposto atingir-se com os sacrifícios de todo um país. O barco navega ao sabor do vento, sem rumo nem estratégia que não seja a de agradar à troika, e nem que isso signifique matar o pouco que resta do sector público estratégico e lucrativo do país. Uns quantos cortes na despesa, cegos e aleatórios foi tudo o que se fez nestes últimos dois anos, com o PIB a recuar 8 mil milhões de euros, a dívida não parou de crescer, assim como o desemprego, as taxas de juro não baixam e as desigualdades são cada vez maiores. O coma induzido será substituído a breve trecho pelos cuidados intensivos de longo prazo, Portas até já tem um relógio em contagem decrescente para com pompa e circunstância poder anunciar que continuaremos hospitalizados. O bom aluno aleijou-se nas aulas, e o professor é um espécime a extinguir. A tragédia e a devastação continuarão a trilhar o seu caminho com a muleta da UE e o olhar paternal de um governo incompetente e miserável, que se ajoelha sempre que lhe falam mais alto. A troika não pode nem quer aceitar um falhanço, e irá impor um segundo resgate, mudando-lhe o nome sob a supervisão do BCE. 2013 foi um ano para esquecer em Portugal, e não espero melhor em 2014 ou nos anos seguintes, porque Portugal continuará sem conseguir autossustentar-se e porque nenhuma reforma de fundo foi feita. Espero que em 2014 ninguém esqueça que a vitória de Pirro que o governo anunciará, não passará de uma nova e longa etapa que representará a mesma austeridade e o mesmo caminho. No léxico de Portas, será uma vitória irrevogável...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Três laranjinhas menos duas laranjinhas é igual a uma laranjinha

A falta de vergonha na cara é um problema sério que se está a transformar numa pandemia. No nosso país e no mundo.
Resumir o ano de 2013 torna-se fácil após a mensagem natalícia de Passos Coelho. A bandalheira e a chico-espertice foi ao cúmulo de, fazendo de todos nós parvos, afirmar que em 6 meses o governo criou 120 mil postos de trabalho. Mais uma vez os números choram e tremem nas mãos de Passos. São torturados até atingirem os propósitos do seu carcereiro. Se eu produzir 3 laranjinhas e papar 2 laranjinhas, só tenho uma laranjinha para vender. A matemática é exacta e universal. Se ocultarmos que enchemos a barriga com 2 laranjinhas, podemos anunciar aos crentes que produzimos 3 laranjinhas sem que seja necessário mostrá-las. A tristeza da coisa, é que tal como Tomé também nós quisemos ver para crer. E quando fomos ver faltavam 2 laranjinhas. E assim descobrimos, os que quiseram ver, que no primeiro trimestre se destruíram 100 mil postos de trabalho. E que nos últimos 2 anos se destruíram 500 mil postos de trabalho. Aplicando a difícil equação ao terço de Passos Coelho, chegamos à conclusão que este ano foram criados 20 mil postos de trabalho. Eu ajudo: 120-100=20... E se formos aos últimos 2 anos, já com a fórmula correcta aplicada dá: 500-20=480... Ou seja, Passos destruiu 480 mil postos de trabalho com a sua política de empobrecimento, ajustamento, austeridade, o que lhe queiram chamar. No final das contas não dá nem um gomo da laranja para espremer. E bem espremido não há sumo que se veja. Quando mexemos com as laranjinhas e com a tabuada, tal como nos ensinaram na primária, a verdade matemática é como o azeite. O governo já tinha tentado fazer o mesmo com os números do desemprego, ocultando da equação os números da emigração. Andam sempre ás turras e ás apalpadelas, como um cego sem bengala.
Aliás, 2013 ficou marcado pela crise irrevogável de Julho, e que sabe-se agora, custou ao país 2300 milhões de euros. Pois é, a rapaziada revogável que anda a brincar à política e aos tribunais esqueceu-se deste número e da brincadeira.
Assim como esquecem amiúde que em plena comissão de inquérito aos swaps, o próprio governo negociou um swap que nos onera em mais uma década. Comissão de inquérito cujo relatório final foi ardilosamente concluído pela maioria e seus pajens.
A democracia armodaçada de 2013 com que nos querem convencer que a dívida é insustentável e impagável sem o caminho da austeridade extrema, da privatização de todos os nossos recursos e sectores estratégicos é um caminho fraudulento assente na repetição populista e exaustiva do martelar dos números, do empobrecimento para além da troika, da chantagem e da pressão, ainda que seja exercida sobre um órgão de soberania como ainda é o nosso TC.
A falta de vergonha na cara não tem limites, principalmente se tiver a cara do primeiro Ministro e do seu vice...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Querido Pai Natal...

Imbuído do espírito natalício, escrevi ao Pai Natal, e nessa missiva pedi paz e amor para todo o mundo, como uma miss qualquer coisa faria, e num derradeiro ato de puro altruísmo pedi para oferecer uma Constituição ao Passos Coelho e outra ao Paulo Portas...

P.S.- Boas festas para todos sem exceção...

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Que violência

O Papa Francisco atacou o capitalismo sem limites como “uma nova tirania” e advertiu que a desigualdade e a exclusão social "geram violência" no mundo e podem provocar "uma explosão".
E pergunto eu: ninguém acusa o homem de incitamento à violência?

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Nadir Afonso


As coisas que nos fazem recordar, identificar em silêncio, um aperto do estômago, com um nó da garganta. As memórias, saudade de um lugar, a felicidade da pertença, os risos gargalhantes ou um sorriso entusiasmante, corajoso, tímido, cheio de esperança, prometedor de suspiros soluçantes.
Numa inocência partilhada por séculos de distância, olhados com ternura após anos de vivências ébrias de esquinas e recantos. Sussurros escondidos nas portas e janelas, varandas de encantamento e nostalgia pintadas de paisagens de emoção. As lágrimas que fazem crescer, ali naqueles sítios, naquelas ruelas, naquelas casas. A existência comum e a comunidade que existe. A paixão da alma e o amor à terra.
Assim são os quadros de Nadir Afonso quando os vejo. São os quadros do Mestre que nasceu em Chaves. O Mestre flaviense que pintou a cidade como ninguém. Que levou Chaves a Le Corbusier e Niemeyer. Que percorreu as mesmas ruelas que eu. Que conheceu como eu o mistério de amar uma cidade. A nossa...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nelson Mandela

Não deixem de partilhar e de divulgar até à exaustão o legado de Mandela, para que sobreviva por muitos e bons anos, e para que ninguém deixe de saber o que a política pode fazer de bom quando ao serviço do povo, e feita por políticos que a sabem usar para esse fim. 
E porque traduz fielmente aquilo que penso, e porque não o escreveria melhor, aqui deixo a minha homenagem a Nelson Mandela, nas palavras de Daniel Oliveira, hoje, no Expresso Online:


"Não matem de novo Mandela

A melhor forma de anular um homem, e em especial um político, é torná-lo consensual. Depois da morte física mata-se, pelo elogio desmesurado e vazio de conteúdo, a memória política. É isso e apenas isso que me irrita no kumbaia internacional em torno de Mandela, transformado numa personagem romântica de Hollywood, com a vida quase resumida ao apoio que deu à seleção nacional de Rugby e ao olhar bondoso dum velhinho simpático.
Mandela foi um revolucionário. Considerado um radical e um terrorista por grande parte do ocidente e pela generalidade da direita europeia. Isto quase até às vésperas de ser libertado - ou seja, durante quase toda a sua longa existência. Constou, por decisão da administração Reagan, na lista de terroristas do Departamento de Estado norte-americano. Não se enganavam ao não o verem como um moderado. Foi contra a linha tradicional de resistência passiva do ANC, influenciada pelo pensamento de Gandhi, que, também ele, vivera muitos anos na África do Sul. Defendeu e usou a violência, tendo dirigido o grupo armado próximo do ANC, que ele criara em 1961, depois do massacre de Sharpeville. O MK (Umkhonto we Sizwe, Lança de uma Nação) contou com enormes resistências do pacifista e líder histórico do ANC, Albert Luthuli, que já se tinha confrontado com Mandela, ao defender o ingresso de não negros no ANC, que aconteceria em 1954, através do Congresso do Povo. Foi também Mandela o obreiro da aliança que dura até hoje com Partido Comunista da África do Sul, importante para conquistar apoios do bloco socialista. E conseguiu algum, no plano financeiro, político e militar.
A opção de Mandela pela luta armada não resultou duma posição de principio ou dum temperamento bélico, assim como não foi uma posição de principio ou um temperamento conciliador que justificaram sua posterior política de apaziguamento. Foi por puro pragmatismo, ao perceber que o regime e as potências ocidentais seriam insensíveis à via pacifica de resistência, durante uma guerra fria que o deixava a ele do "lado errado da história" e fazia do regime do Apartheid um mal menor para uns EUA, eles próprios com pouca sensibilidade para temas como a igualdade racial. Por isso, aceitou que a guerra civil, sendo indesejada, poderia vir a ser inevitável. E que teria como aliados internacionais aqueles que estavam dispostos a sê-lo.
Depois de 27 anos de prisão, Mandela não se deixou cegar pelo rancor, que aparentemente desconhecia. Essa é talvez a sua mais admirável qualidade humana. Mas seria bom não simplificar estas coisas. Não é apenas por um espírito vingativo que as mudanças nas sociedades degeneram em violência. Nem por descontrolo ou falta de visão. É também, e quem o escreve é um pacifista, porque a paz, e não apenas a guerra, tem um preço. Se assim não fosse, não encontraríamos um homem bom e justo com uma arma na mão. E história está cheia deles.
Por causa da escolha da via do apaziguamento e reconciliação (apenas possível porque a queda do muro de Berlim tornava Mandela aceitável aos olhos do ocidente), o fim do apartheid não correspondeu ao fim da segregação social, da miséria, da violência, da criminalidade e da desigualdade extrema. Na realidade, pouco as atenuou. Porque aceitar que a estrutura social não se alterava radicalmente era a única forma de impedir uma reação da minoria branca. E era a única forma de travar as aspirações de milhões de negros, apenas alcançáveis, pelo menos numa geração, por uma autêntica revolução social necessariamente violenta. Só a autoridade histórica de Mandela, que nascia da sua luta, dos anos de prisão e da sua radicalidade - e não de ser um velhinho bondoso -, podia travar as alas mais radicais do ANC (de que ele fizera parte). Muitos elogios ao espírito de reconciliação de Mandela ignoram que para haver reconciliação é preciso ter havido luta. Só negoceia quem combateu. Só modera quem teve a coragem de ser radical quando a realidade contra a qual lutava era radicalmente injusta. E que autoridade de Mandela para, aos olhos dos que então se libertavam do apartheid, ser o pai dessa reconciliação eram as suas credenciais de vigoroso combatente.
A verdade é que o apaziguamento implicou cedências, e o preço foi bem alto: não se rompeu com a injustiça social do passado. Não digo que tenha sido errado. Parece-me mesmo que era a única solução sensata. Mas preferia que não se reduzisse esta escolha tremenda às qualidades humanas de quem sabe perdoar. Esta capacidade é necessária, mas não é suficiente nem prevalece sobre tudo o resto. Mandela fez, antes de tudo, uma escolha política que, sendo na minha opinião acertada, teve grandes custos e era pelo menos discutível.
E estas escolhas tiveram também um preço político. Só era possível manter este rumo com um ANC coeso, sob a batuta moral e simbólica de Mandela, que foi apadrinhando as sucessivas lideranças, sem grande intervenção nas suas escolhas fundamentais. Graças a essa tutela de Mandela, o ANC manteve, de facto, o peso que antes tinha, com raras dissidências que acabaram por se revelar pouco relevantes. O resultado foi que à ditadura do apartheid sucedeu um sistema partidário em que apenas um partido ambiciona a vitória e onde tudo se decide nas suas violentas lutas intestinas. E isso contribuiu de forma decisiva para que permanecessem os níveis de corrupção que o ANC não só não combateu como deles se alimentou e que salpicam de lama quase todos as principais figuras da organização. À velha elite branca juntou-se uma elite negra que orbita em torno do ANC e que dele se serve.
Sobre esta transição, aconselho vivamente um documentário de Jihan El-Tahri (trailer no início). A realizadora libanesa é autora de outros documentários sobre o envolvimento cubano em África - demasiado simpático para Havana, na minha opinião - e um excelente trabalho sobre a Arábia Saudita. Em "Behind the Rainbow", El-Tahri, que parece ter simpatia por Mandela, abandona as imagens românticas e faz uma análise política rigorosa da África do Sul e da história do ANC. São relatados os conflitos e tensões no interior do ANC, mesmo antes da prisão de Mandela. Conflitos que acabariam por desaguar, mais recentemente, na vitória de Jacob Zuma, que era visto como um "radical" dentro do movimento.
O filme é denso, contraditório e sem respostas fechadas. Tudo ao contrário do enjoativos panegíricos que tenho lido sobre Mandela. É que nenhum panegirico é merecido, porque reduz o homenageado à sua própria caricatura. Jihan El-Tahri faz o esforço contrário. Não sei mesmo se não se torna, na vontade de ser rigorosa, demasiado severa com Mandela, que quase acusa de demissão na fase de consolidação da democracia, entregando de forma acrítica o poder a um Thabo Mbeki, tratado, com toda a justiça, como o padrinho da nova elite negra, que não parece ser mais sensível ao sofrimento dos sul-africanos mais pobres do que era a elite branca.
Justa ou injusta, a realizadora contraria um olhar sobre a África do Sul que se fica sempre pela questão racial e pelo risco de guerra civil. Recorda-nos que, como em todo o lado, há outras esferas do confronto político. Começando pelo esfera social, onde os mesmos debates que aqui temos são centrais: desigualdade, distribuição da riqueza, direitos sociais, papel do Estado e do mercado. Isto num país que vive numa desigualdade extrema. E a diferença entre um político e um líder religioso, é que o político, tendo de lidar com estas escolhas práticas, nunca pode aspirar, se quer agir, à santidade.
Na África do Sul, porque a vida continuou depois do fim do sistema formal de segregação racial, quando o mundo suspirou de alivio por ali não ter havido um banho de sangue, algumas escolhas que Mandela fez, e outras tantas que não fez, foram determinantes. E quase todas esbarraram com o mais difícil de todos os dilemas políticos: devemos aceitar a desigualdade extrema para ter a paz ou temos a obrigação de escolher a guerra para conquistar a justiça? Resumir estas escolhas à bondade de um homem, despindo-o de todos os dilemas morais e cálculos políticos, é pura e simplesmente infantil.
Pode parecer o contrário com este texto, mas tenho por Mandela uma infinita admiração que não divido, na mesma dimensão, com nenhum político vivo. Mas ela baseia-se na paixão pela política, que tem sempre uma dimensão ética e moral, mas que nunca se fica por aí. Não no desprezo pela ação política, típico em quem procura santos e heróis românticos entre governantes. Mandela foi um homem bom e, pela sua combatividade e contenção, foi e será sempre um herói. Mas foi um herói político. Fez escolhas difíceis e discutíveis. No momento em que o ANC era frágil e não contava com o apoio do ocidente, escolheu a violência quando outros teriam preferido manter a linha pacifista. Quando o poder lhe estava quase nas mãos, escolheu o apaziguamento contra os que queriam correr todos os riscos para combater o legado social e económico do apartheid (e não apenas ou sobretudopara se vingarem), de que só uma pequena elite negra se viu livre.
As escolhas que fez tiveram muitas vantagens e grandes custos. Todos imaginam os rios de sangue e de ódio, tão comuns por aquelas e por outras paragens, se Mandela tivesse seguido o caminho oposto ao do apaziguamento. Mas também não podemos ignorar que o apaziguamento se pagou com uma interminável "guerra civil" de baixa intensidade, através do crime e da violência inerentes à desigualdade extrema. E na degradação moral de grande parte dos líderes do ANC (com Mandela de fora, como exemplo raramente seguido), mergulhados num sistema em que apenas uma pequena elite dirigente vive fora dum apartheid social ainda vigente.
O que interessa é saber que Mandela não foi uma estátua. Foi uma pomba e um falcão, foi um combatente, um negociador, um calculista e um pragmático. O que me custa, em quase tudo o que tenho lido e ouvido sobre ele, é o assassinato da sua vida e da sua história. Como se a política se resumisse à escolha entre o bem e o mal. Como se Mandela tivesse sido apenas um homem bom. Ao contrário do que pensam os cínicos, há muitos homens bons no mundo. O que é raro é, como Mandela, terem a coragem de dispensar a santidade e preferirem a política, esse mundo "sujo" repleto de escolhas perigosas e gestos calculados."

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Vão-se os anéis e os dedos

Entregar os Estaleiros Navais de Viana do Castelo a uma empresa falida é no mínimo estranho, não pondo em causa a legalidade do processo, é uma decisão que poderá ser a médio prazo irresponsável e reveladora da falta de estratégia a que infelizmente já nos habituaram.
Crato volta atrás e por causa da contestação, mais de 25 mil professores já não vão a exame. Um exame limitativo do acesso à profissão e portanto a roçar a inconstitucionalidade, semelhante ao exame que Marinho e Pinto tentou impor aos licenciados em Direito para acesso à Ordem dos Advogados.
Entretanto continua o desmantelamento do Estado e do sector público com a venda a retalho dos CTT, mais uma empresa lucrativa desbaratada e vendida por causa das metas do défice e da obsessão deste governo. Por duas razões, a vingança ideológica contra o sector público e a sua regulação e a incapacidade de baixar o défice e a dívida, que não seja em cortes nas pensões e reformas cegos e fáceis, aumento de impostos, baixa de salários e privatizações. Vão-se os anéis mas os dedos são amputados à razão de 10.000 por mês, pessoas bem entendido, forçadas a emigrar.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Um país que persiste e insiste

A degradação da política e dos seus valores resulta quase sempre da actuação dos seus intérpretes. Os limites da decência e da vergonha não conhecem, por estes dias, fronteiras nem linhas vermelhas. O relatório da Comissão Europeia sobre os resultados da 8ª e 9ª avaliações faz referência de forma inaceitável e depreciativa a decisões do Tribunal Constitucional de Portugal, um país independente e soberano, que tem instituições soberanas e onde impera o princípio da separação de poderes, entre muitos outros, garantidos, felizmente, por uma Constituição. Mas contém ainda conjeturas acerca da forma como o TC deverá agir e decidir, pressionando levianamente uma instituição democrática, independente e soberana, nunca é demais repetir. A chantagem dos agiotas, venham de Bruxelas, do FMI ou da Alemanha tem como único objectivo garantir que os credores recebem o seu dinheiro, com juros a contento, marimbando-se para o país, para as pessoas e para a economia. Veja-se como a Alemanha tem um superavit de 7%, com medidas restritivas de importações, violando os tratados, a confiança, a solidariedade e a cooperação da UE.
Durão Barroso, o empregado de mesa na célebre reunião da base das Lajes, que 'legitimou' a invasão do Iraque, foi pago e promovido a empregado de mesa da Alemanha, e como sempre passou a mão no lombo de Merkel. Cá dentro, Passos Coelho, Cavaco e seguidores, correlegionários bafientos, de cuspe sempre pronto para lamber sapatos, comem e calam, em silêncio, sem qualquer laivo de dignidade ou de responsabilidade institucional de defesa da soberania de um povo que os elegeu para representar as suas instituições e a sua identidade. Aos sermões humilhantes de burocratas de corredor, baixam as orelhas como os alunos impotentes que querem ser bons mas que são limitados à única causa que conhecem: arranjar um caminho alternativo de subjugação e bajulação. O governo que sistematicamente provoca o TC e teima em legislar contra a lei é um governo que está de má-fé. O governo que canta em coro, com toda a complacência, a música que se toca lá fora é um governo de lesa-pátria. Um Presidente da República que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição e se põe com especulações de custo-benefício não está a desempenhar as suas funções com rigor. O enxovalho só conhece travão se ofenderem o Ronaldo e o futebol. E não, nunca vi ninguém comentar os Tribunais ou as Constituições de outros países, em particular da Alemanha, e que já tomou medidas no passado de grande impacto na UE.
Ontem, na Aula Magna, uma reunião em nome da defesa da Constituição, da democracia e do Estado Social contrastou com uma reunião de desobediência civil por parte das... polícias.
Quanto à primeira, Mário Soares, apesar de demonstrar alguma fraqueza própria da idade, um tanto ou quanto desbocado, nomeadamente quanto ao uso de expressões que quase incitam à violência, faz mais pelo país numa noite que Seguro num mês inteiro de total ausência de ideias.
Faz sentido uma reunião de esquerdas (que não foi exclusivamente das esquerdas) em defesa da CRP, da democracia e do Estado Social? Quando se abalam as fundações do edifício que é o garante da democracia em Portugal, quando se pressiona de uma forma inqualificável um Tribunal, órgão de soberania do nosso país e bastião da defesa da Lei Fundamental, de direitos, liberdades e garantias; quando o princípio da confiança não se pode aplicar aos cortes nos salários, nas pensões e nas reformas mas já se pode aplicar aos contratos privados da energia, das privatizações e das PPP´s, então sim faz todo o sentido.
Quanto aos polícias, é caso para perguntar: quem guarda os guardas? Factualmente os agentes de segurança violaram um cordão de segurança, de facto houve uma desobediência por parte das polícias, e isso, comparando com outros cidadãos que ali se manifestaram e foram alvo de cargas policiais, é injusto e discriminatório. No entanto, registo com agrado, tanto nas escadarias da AR como na Aula Magna um país que persiste e insiste em defender os seus direitos, as suas garantias, as suas instituições, os seus tribunais, ainda que com algum excesso de liberdade. Mas dessas e doutras liberdades tratamos nós, nas nossas instituições. No Brasil, país emergente, as manifestações são pela exigência de mais Estado Social, aqui são pela sua defesa e manutenção. Já agora vale a pena pensar nisto.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sangue, suor e lágrimas

É oficial! Portugal saiu da recessão. A espiral recessiva acabou, o PIB cresce há dois trimestres consecutivos, as exportações batem recordes. O Ronaldo marcou à Suécia. O sol brilha. O país rejubila de satisfação. Nem segundo resgate, nem programa cautelar.
Temos que continuar a trilhar o caminho do bom aluno. Flexibilizar o trabalho, baixar os salários, despedir a função pública, principalmente esses professores todos que teem a mania que querem emprego. Nem que para isso se invente um exame, e, humilhação das humilhações, pago por eles.
Há que extinguir tribunais, estações de correios e repartições de finanças. Acabar com a escola pública, com os hospitais e pode ser que assim as pessoas emigrem e até a taxa de desemprego desça. Com o OE para 2014, cortando nas pensões, reformas, salários e em tudo o que mexa e seja público, pode ser que o PIB cresça quase 0,5%. E aí sim, a vitória do capital sobre o trabalho será total. A vingança será consumada e finalmente o Estado, social e não só, será reduzido à sua insignificância. O novo paradigma será enfim uma realidade. Afinal os países não precisam de pessoas para nada. É retirar-lhes a esperança e toda a migalha que se atirar será vista como uma benesse dos céus. Para completar o ramalhete só falta mesmo alterar a Constituição, esse chorrilho de direitos, liberdades e garantias que coarta toda a governação dos homens bem intencionados.
0,2 % de crescimento do PIB é ainda assim melhor que nada. Pena é que seja pago com sangue, suor e lágrimas. Keep calm, 2014 vai ser pior...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A cara e a careta

Congratular-se com a ténue descida da taxa de desemprego sem considerar o aumento sazonal, e como tal temporário, de empregabilidade e a descida abrupta da população residente por causa da debandada de emigração, com números semelhantes aos anos 60, é um exercício bacoco de aproveitamento demagógico e sobretudo falso.
Aliás, já nos habituámos ao constante martelar dos números, até os próprios chorarem de vergonha. Considerar a taxa de desemprego, ignorando todos os outros factores não deixa de ser uma falsidade e uma manipulação estatística.
Poiares Maduro tem tiques de Relvas e insiste em dizer que o pior já passou e pelos vistos o governo tem em Margarida Rebelo Pinto e em D. José Policarpo seguidores de grande gabarito. Aquele acaso em que a cara dá com a careta.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A FIFA no seu melhor

Será só impressão minha ou Blatter estava, em plena universidade de Oxford, alcoolicamente bem disposto, inebriado pela sua própria representação, resumindo, completamente bêbado...
Ronaldos à parte, não fora a forma injusta e ridícula como o distingue de Messi para justificar a sua preferência, o vídeo é hilariante, e bem podia ter acontecido à saída de um qualquer bar...



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A alternativa impõe-se

Uma constipação, por mais ligeira que seja, deixa-me sempre incapacitado, e sobretudo irritado por me sentir incapacitado, e assim por diante numa espiral recessiva e viciosa. A minha mulher costuma dizer-me que se tivesse que parir não tinha filhos. Tem razão. Mas não há nada a fazer. Tirei o dia de quarta-feira para curar toda uma ressaca de ranho e de nojo. Não contente, resolvi assistir em directo ao debate quinzenal com o primeiro Ministro na AR. Enquanto assoava o nariz de 2 em 2 minutos, montando inadvertidamente um castelo de lenços virulentos, registei algo irritado e amiúde as desconcertantes e confrangedoras intervenções de Seguro. Obviamente que se discutia o Orçamento de Estado para 2014. O maior atentado aos cidadãos portugueses de que há memória impunha uma oposição determinada e sobretudo consistente. Mantendo o 'brutal' aumento de impostos feito em 2013 o Orçamento para 2014 acrescenta ainda o aumento de imposto para veículos a gasóleo e no IMI. Mas principalmente o que está em questão são os cortes em salários e pensões. Desta vez a partir de uns inimagináveis 600 euros. Sempre aos funcionários públicos e aos pensionistas. Onde é mais fácil. Quando o TC chumbar algumas destas medidas, e não vale a pena hostilizar o TC, porque assim vai acontecer, outra vez, o plano 'B' do governo será o aumento de impostos. Até ao momento o governo tenta vender o 'brutal' corte na despesa. Posto como inevitável, esquecem até que um dos principais responsáveis pelos chumbos do TC até é, imagine-se, o próprio PR. Sim, Cavaco, tem alimentado consistentemente as dúvidas que envia a posteriori para o TC. O único erro é não o fazer numa fase preventiva.
Mas voltando ao debate, Seguro bem tentou fazer de forma directa e limitativa, perguntas de uma só resposta, a que Passos Coelho respondeu conforme quis, tendo até a veleidade de afirmar que a reforma do Estado começou há dois anos e meio, distinguindo de forma abusiva reforma e guião, aquele que Portas terá em mãos indefinidamente e irrevogavelmente. Atreveu-se ainda, de forma descontraída e totalmente despudorada a fazer alusões e acusações ao governo anterior, sem que Seguro, pouco seguro e confortável, receando o nome que estava por detrás, tivesse o ânimo de o confrontar com o chumbo de lesa-pátria e falacioso do PEC IV, sem o confrontar com as promessas demagógicas e de má-fé que se sucederam à consequente queda do governo de Sócrates. Passos Coelho chegou a afirmar que não sabia o que sucederia a Portugal num futuro próximo, menosprezando um possível programa cautelar, que como não quer explicar, mantém a aplicação das mesmas medidas de austeridade, apenas com a ajuda 'assistida' da tão ansiada ida ao mercado. À pergunta de Seguro sobre o falhanço do défice, o primeiro Ministro ardilosamente referiu-se ao défice primário, ignorando o que estava em questão, e que são as metas do défice orçamental. Seguro deixou que assim ficasse e manteve a sua linha de ataque pessoalizado, sem fundo e vulgar, num discurso martelado como se tivesse sido memorizado. As respostas e perguntas memorizadas de Seguro não tiveram assim margem de manobra e golpe de cintura para contornar a estratégia de contra-ataque de Passos Coelho. A prova disso é que ao desafio de Passos para que a oposição nomeasse algumas medidas alternativas, Seguro refugiou-se e remeteu para um alegado documento que já teria enviado ao primeiro Ministro. Passos ripostou de imediato dizendo que não o conhecia e que nunca lhe foi entregue, e que as medidas que conhecia só aumentavam despesa. A resposta óbvia de quem não quer discutir coisa nenhuma. O problema foi que Seguro não nomeou uma única medida alternativa, nem desmentiu a teoria. Para quem não as conhece, fica com a dúvida de que assim será. Pelo menos a descida do IVA na restauração era óbvia, a tal que Pires de Lima e Portas não conseguiram aplicar por suposta imposição da troika, e que se sabe ser uma falácia imposta por Maria Luís Albuquerque.
Após tanto ranho, percebi porque é que o PS não tem maioria nas sondagens, assistindo-se até à quebra de intenção de voto. É porque o país não vê em Seguro uma alternativa.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Parceria estratégica? Com quem?

O governo de Angola é muito mal agradecido. Então não é que ao pedido de desculpas de Machete respondem com o fim da parceria estratégica com Portugal? Pois sim senhor ministro Rui Machete. É costume dizer-se em bom português 'quanto mais te baixas, mais se te vê o cu'...
Bem sei, que o dinheirinho angolano, assim como o chinês faz muita falta. Mas a que preço? Provavelmente ao preço de um BPN...
Quem é que no seu perfeito juízo, ainda para mais com as responsabilidades de um ministro dos Negócios Estrangeiros, tem a veleidade e a ligeireza de pedir desculpas a Angola porque os tribunais do seu país (Portugal) estão a funcionar? Porque há razões para desconfiar que altos quadros angolanos andam a lavar dinheiro em Portugal, diga-se de uma vez por todas, alto e bom som. Vou pôr a negrito para se perceber melhor.
Portugal não faz questão de lavar dinheiro sujo de Angola, assente na escravatura, violação de direitos humanos e numa ditadura muito bem paga com petróleo e diamantes de sangue!!!
Em que o as cúpulas do poder são milionárias, e o povo não tem estradas, saúde nem educação. Já nem sequer falo em rede de saneamento básico, comida e janelas nas casas (sim, a população mais pobre vive em prédios/casas em ruínas e sem janelas). País onde cada vez que chove mais que o previsto morrem centenas de pessoas afogadas e arrastadas pela enxurrada de lixo e de lama.
Ñão! Não queremos o vosso dinheiro e não queremos parceria nenhuma com um país assim, e principalmente com as pessoas que o governam!
Quanto ao senhor ministro, houve quem se demitisse por bem menos, mas já sabemos como anda a moral e a integridade deste governo. Simplesmente não existe...

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CHEGA!

Após ouvir Passos Coelho congratulo-me com o facto de a RTP ter abdicado de transmitir a entrevista em plena campanha eleitoral para as eleições autárquicas. Passo a explicar. É que o formato do programa permitiu ao primeiro Ministro fugir a quase todas as questões, dando até a imagem de alguma empatia com o público, e abdicando de qualquer comentário quando confrontado com as suas próprias incongruências, nomeadamente no que concerne ás falsas promessas que o levaram ao poder. Deu até para Passos Coelho se arvorar em salvador da pátria, dizendo que se a sua missão falhar, falha o país. Como se o país se resumisse nele. O tom paternalista do líder que responde aos súbditos sem direito a contraponto favorecem a dimensão demagógica de quem diz aquilo que quer dizer.
Resumindo, o programa é interessante, mas não serve para confrontar o primeiro Ministro com a real repercussão da sua política de terra queimada. Serviu ainda assim para o ouvirmos dizer quase entrelinhas que haverá um segundo orçamento rectificativo e que o empobrecimento dos portugueses é para continuar. A sério? E a classe média é que paga? A sério? E a banca? E a Madeira e os b(r)oches? Por falar nisso, há um novo mito urbano que diz que os alemães pagam as dívidas dos outros e tal e tal. Os alemães não pagam nada! Emprestam dinheiro, que lhes será devolvido com juros, e aproveitam a austeridade que impõem e defendem para se financiar a custo zero e até com juros negativos!!!
Assim, nesta esteira, ninguém confrontou Passos Coelho, com os cortes de pensões e salários, que sinceramente, já nem sei onde são e qual a sua dimensão. Mais de 600 euros, 10%, 5%, líquido, bruto, de sobrevivência, de viuvez, salários ou reformas. O guião que Portas prepara há 7 meses e que nunca sairá das 3 páginas escritas do seu bloco de notas vai agora ser aplicado no próximo Orçamento, e que cujos contornos só serão conhecidos na totalidade para a semana. Entretanto, as notícias vão saindo a conta-gotas sem qualquer explicação razoável e sem se saber ao certo as suas implicações e motivações. Num estrebucho de abano de consciências tentam tapar-nos os olhos com o corte de 15% nas subvenções vitalícias de ex-políticos. A título de exemplo, para quem recebe 600 euros e sofre um corte de 60 euros faz mossa. Para quem recebe 5000 euros e sofre um corte de 750 euros  fica com uns míseros 4250 euros para 'sobreviver'. Depois temos, as inconstitucionalidades do costume, carreiras e descontos contributivos, sobrevivência, pensões e desigualdades.
Assim sendo, e enquanto esperamos pelos cortes nas valências dos tribunais do interior, aguardam-se com expectativa o fecho de estações dos CTT com a sua privatização e o fecho de repartições de finanças. Aproveito para informar que a medida de encerrar repartições de finanças consta do memorando assinado com a troika que prevê um corte de 50%. Mas a forma como se aplica é da responsabilidade do governo. Assim, encerrarão 3 repartições de finanças na área metropolitana de Lisboa e 70% no distrito de Vila Real. Igualdade, proporcionalidade, descentralização e desconcentração. Muito obrigado... Mais uma vez lamento que as novas medidas não fossem conhecidas antes das eleições autárquicas. Já sei que nas autárquicas se vota nas pessoas e no poder local, mas se não houvesse repercussão nacional, o PSD não teria a pior votação de sempre em eleições autárquicas e o PS não teria a melhor de sempre. Facto.
Aproxima-se o dia da manifestação na ponte 25 de Abril, e se chegar a efectivar-se pondero estar presente e apelarei à DESOBEDIÊNCIA CIVIL!!! É um direito previsto na Constituição! Estou disposto a discutir a sua aplicação em tribunal como arguido...

sábado, 5 de outubro de 2013

Machete

Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, é, em poucas semanas o novo 'Relvas' do governo. Após a mentira sobre as ações que detinha no BPN e na SLN, que não deu queixa crime porque a maioria parlamentar assim não quis, veio agora, num ato perfeitamente provinciano, pedir desculpa ao governo de Angola por causa de alegadas investigações a altos dirigentes daquele país africano.
Se pedir desculpa porque os nossos meios de investigação e os nossos tribunais funcionam, para todos, sejam eles quem forem, já era suficientemente grave, mais grave se torna a violação de vários princípios (constitucionais como não podia deixar de ser), entre eles o da separação de poderes, que como se sabe, é coisa que os angolanos não conhecem. A ditadura encapotada que rege Angola, resolveu lavar o seu dinheiro em Portugal. Em nome do investimento e do provincianismo tacanho, alicerçado no pedantismo, o governo português permite tudo, desde que caiam uns trocos a favor da redução do défice, e ainda que isso signifique vender o país a estrangeiros cujos valores assentam no respeito pelos direitos humanos e democráticos, como sejam a China e Angola. É por isso normal que num país nivelado pela mediocridade, angolanos e chineses, pensem que podem fazer como nos seus países, em que impera a corrupção e a desigualdade, e em que a liberdade de expressão e de imprensa simplesmente não existem e a justiça só é aplicável a quem tente contrariar o status quo. Aliás, neste momento a política que este governo prossegue e persegue já esteve mais longe de conseguir equiparar Portugal ao que de melhor se faz nos países nossos 'amigos investidores'. A memória é curta entre nós, mas lembro-me dos rios de tinta que correram com o 'escândalo' da venda de computadores à Venezuela (computadores! e não empresas).
Machete, é uma marioneta nas mãos de rapazolas insensíveis à pátria e aos valores do primado da lei e da constituição. É um oportunista, que depois de reformado, quer a todo o custo, pôr mais uma medalha ao peito. A medalha vai assentar-lhe mal no fato. É uma medalha verde e viscosa, vinda da expectoração mais nojenta que a política portuguesa cuspiu após o 25 de Abril...
Fazia falta o verdadeiro Machete para aliviar e esventrar toda a porcaria...

P.S.- Hoje é dia 5 de Outubro, mas como não houve bandeira hasteada ao contrário, e nem sequer é feriado, deixou de ser notícia. Assim vai a República...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Não foi V. Exa. que disse?...

Cavaco veio acusar políticos e comentadores de serem masoquistas quando se referem à insustentabilidade da dívida... mas espere Sr. Presidente! Não foi V. Exa. que disse o mesmo na mensagem de Ano Novo???

A ver a partir dos 2m50s...


Será Cavaco agora sádico?

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Autárquicas 2013 - Chaves

Bem sei que as eleições autárquicas, como o próprio nome indica, dizem respeito à eleição dos órgãos das autarquias. Do poder político local. Freguesias, Assembleias Municipais e Câmaras Municipais. Mas é sempre indissociável desta realidade a conjuntura nacional. E essa, em abono da verdade, é muito pouco recomendável. Escuso-me neste momento a enunciar todas as vicissitudes, trapalhadas e atropelos da governação atual. Não existe, desde o 25 de Abril de 1974, governo tão incompetente e lesivo dos direitos e interesses dos cidadãos e do próprio Estado. É costume dizer-se por esta altura que necessário se torna mostrar um cartão amarelo ao governo e ao estado a que conduziu o país. Na óptica do utilizador é urgente mostrar um cartão vermelho directo por indecente e má figura! Se esse for o critério, dúvidas não restam... até porque toda a política do neoliberalismo de Passos se reflecte em maior ou menor grau nas pessoas e nos concelhos onde residem. A forma como o processo é gerido é que difere consoante o autarca que está ao leme dos destinos do seu concelho. Dois ou três exemplos emergem de imediato. Rui Rio no Porto tem as contas em dia, trabalho excepcional na actual conjuntura económico-financeira, mas tem a cidade a ruir, literalmente, a cultura não faz parte do seu léxico e a única 'obra' que se lhe conhece é a demolição de duas torres do bairro do Aleixo. Menezes do outro lado da ponte tem a câmara mais endividada do país, mas com obra feita. Costa em Lisboa conseguiu o pleno, contas equilibradas e gestão para e a favor dos seus residentes.
Analisarei agora em particular, Chaves, a minha cidade natal e escolha de uma vida, e que é gerida há doze anos pelo PSD.
Comecemos pelo princípio. O executivo camarário liderado por João Batista, tem no arquivo municipal e na biblioteca municipal as suas únicas bandeiras. O resto, bom o resto é mau de mais. Têm outra obra emblemática concretizada, as nossas Freiras. O projecto do Largo General Silveira (Freiras), cartão de visita da cidade, é sempre arma de arremesso entre as várias candidaturas. Facto: existia um projecto elaborado pelo executivo anterior do PS, mas a execução da obra foi responsabilidade e é obra do atual executivo. Está à vista de todos o 'buraco' e o lugarejo em que foi transformado o mais belo postal de Portugal e arredores.
Os arranjos das margens, jardins e espaços contíguos ao Tâmega, são obra de José Sócrates!, e do 'seu' programa 'POLIS', ao contrário do que muitos pensam, e do que outros querem fazer crer. Mas o rio, nossa identidade, continua sujo e abandonado.
O PSD de João Batista e António Cabeleira, o segundo, candidato ao lugar do primeiro, que por sua vez se candidata a Presidente da Assembleia Municipal, (eu sei é confuso), prometeu, nos vários atos eleitorais a que concorreu, obras mediáticas, megalómanas e até pouco sérias, como sejam as piscinas olímpicas, o pavilhão multiusos com capacidade para não sei quantos milhares de pessoas e uma zona desportiva única no país, com direito a construção de um novo estádio, e tudo, e tudo. Pois...
A cultura ficou confinada às bandas do concelho, que atuam na Feira dos Santos e no dia da cidade, que por sua vez se resume a uma pequena cerimónia protocolar, sem mais nada que o recomende, e a uma 'invenção' maneirinha de uma pseudo-eurocidade sem qualquer retorno, que não seja a normal interação de populações transfronteiriças.
E por falar em Feira dos Santos. Alguém me consegue dizer qual é a diferença entre a feira que se realiza semanalmente à quarta-feira e a Feira dos Santos? Eu só encontro uma diferença. Nos dias da realização da Feira dos Santos, a feira semanal é um 'estenderete' alargado a mais umas quantas ruas da cidade, num caos desorganizado, sempre da mesma maneira. O que muda são as diversões, que nunca ninguém sabe onde estão localizadas. É, por assim dizer, uma feira grande.
Os produtos da região, o presunto, o folar, o pastel, a batata, entre outros, são espécies desprotegidas e em vias de extinção, pelo menos em Chaves. As tentativas inócuas de organizar certames de divulgação dos nossos produtos endógenos são sempre mal organizadas, nada divulgadas e muito pouco procuradas, por isso mesmo. A constante mudança do nome também não ajudará. Há pouco tempo descobriram que Chaves já foi uma importante cidade romana, e organizaram, (nem sei se esta é a expressão mais correta) à pressão, uma intitulada Feira dos Povos, como se houvesse mais algum que não o Romano que melhor nos identifique. É que os Celtas não construíram a Ponte, as Termas e o Balneário... Enfim...
E as contas? Pois bem, a autarquia de Chaves investiu milhões de euros numa plataforma logística, que está, digamos de forma mais 'soft', às moscas. Abandono é uma expressão pouco assertiva para conseguir classificar o estado da coisa. Coisa pública... Se o objectivo era preservar ervas daninhas, então, parabéns! Se o objectivo era criar emprego, fixar pessoas e empresas, oferecendo condições de exceção na cidade linda deste nosso Portugal.., ora bolas... fica para uma outra oportunidade.
E então que dizer da grande obra que foi a construção do acesso da A-24 ao centro da cidade. Grandes avenidas, com duas faixas de rodagem para cada lado... e que depois desemboca num caminho em que o alcatrão é a exceção e em que dois automóveis se cruzam com grande dificuldade. São as boas vindas à Eurocidade, a grande metrópole do Alto Tâmega idealizada por um executivo que tem um arquiteto como vice-presidente.
Mas há mais. E que tal 250 mil euros atribuídos a uma associação chamada 'A Voz da Juventude', em que a juventude tem como única atribuição ser militante da JSD, com direito a uma sede cujo prédio, alvo de recente reconstrução e ampliação, custou ao erário da autarquia 1 milhão de euros? Porquê, com que fundamento, quem?
E mais. Várias indemnizações foram pagas a construtores e empreiteiros, quase 1 milhão de euros, porque a Câmara Municipal adjudicou a obra e depois não teve dinheiro para as levar a efeito.
E que tal 50 milhões de euros de dívida para uma autarquia da dimensão da de Chaves. E mais de 6% de perda de população ainda antes da crise nos atingir, por falta de políticas de fixação de pessoas, de juventude, desporto e educação.
Não espanta portanto, que dos 308 municípios existentes em Portugal, Chaves seja um dos 50 que teve de recorrer ao PAEL (Programa de Apoio à Economia Local). Eu troco por miúdos, imaginem que Chaves é Portugal e o Estado e o governo são a troika. Chaves teve que recorrer à ajuda externa, neste caso, interna, porque o executivo do PSD pôs o concelho na falência. Sem obra que se veja...
Mais ainda, metade das freguesias do concelho teem os protocolos com a Câmara Municipal por cumprir, já com ações em Tribunal por parte dos particulares a quem devem, porque o executivo desta autarquia não honrou os seus compromissos. Porque a gestão foi ruinosa e está a arruinar o concelho e as suas gentes. Tem uma dívida de curto prazo asfixiante e que asfixia as empresas aqui sediadas, que dependem, como se sabe, do investimento público, inexistente ou em dívida.
Não chega? Há mais. Deixaram cair por inércia e incompetência, as valências e a classificação do hospital. Culpa do governo Sócrates? Se bem me lembro, a única valência que perdemos então foi a obstetrícia, entretanto já foram, com o atual governo em funções, mais algumas e as urgências estiveram por um fio. A falta de poder argumentativo e de reivindicação do executivo municipal é gritante. Não quero afirmar que seja porque simplesmente se estão borrifando, mas numa escala, deve vir no verbo a seguir. Que é feito da proposta aprovada em Assembleia Municipal e na Assembleia da República acerca da Unidade Local de Saúde tão apregoada e desejada? Agora o governo é da mesma cor. Porque é que a deixaram cair? Por inércia e incompetência!
E o tribunal? Também desclassificado e com perda de valências. De quem é a responsabilidade pela total ausência de ação e de interesse, numa questão que tanto vai custar aos Flavienses? Também é do governo, mas o executivo camarário do PSD ignorou e ignora por completo o assunto. Não se consegue perceber. Ou então a explicação mais simples é a que se aplica, não querem saber, não se informam e não se mexem!!!
Também é costume neste tipo de eleições, dizer-se que se vota nas pessoas e não nos partidos. Mas também necessariamente, é preciso analisar a atuação das pessoas. Principalmente, quando são as mesmas que também são responsáveis pelo marasmo, pelo descalabro e pelo definhamento de todo um concelho que era suposto liderar o Alto Tâmega. António Cabeleira disse em recente entrevista que "não era necessário mudar nada. É só dar continuidade ao projeto anterior". Mais valia seguir o ensinamento do seu presidente de partido e aconselhar as pessoas a emigrar, porque salta à vista que a continuidade é a rotura total e a falência da possibilidade de um futuro no concelho de Chaves.
Passemos finalmente ao MAI (Movimento Autárquico Independente). Liderado por um dissidente 'dinossauro', boçal e ignorante, quer o que sempre quis. Desde que há democracia em Portugal sempre soube fazer o que fez e faz: caciqueirsimo e politiquice de tasca. Continua em funções, eleito pelo PSD local como presidente da junta da freguesia de Santa Maria Maior, e desdiz e contradiz, tudo o que e que para que, também contribuiu, numa candidatura revanchista e tudo menos independente. Apoiado por outros tantos dissidentes, carneirinhos obedientes e esperançosos numa vingança de tira-tacho ao amigo, transformado em arqui-inimigo. O MAI, embelezado por umas figuras que até há pouco tempo lambiam botas nos partidos, surge agora como o movimento anti-político. Pena é que muito boa gente se tenha deixado enganar, inebriados por algum mediatismo assente numa campanha despesista, a léguas dos orçamentos dos partidos que tanto odeiam, com direito a autocarro personalizado e tudo. Não enxergam que a populaça em tempos de crise e de fome, já não aprecia o show-off, a encenação. Não passam de caricaturas dos próprios partidos que dizem desprezar.
O único partido e tendência sem qualquer responsabilidade na gestão danosa do concelho de Chaves, e o único que não apresenta uma solução de continuidade, apostando nas pessoas e no desenvolvimento sustentado de toda uma região é o PS liderado por Paula Barros. Para recuperar a esperança.

Errar é próprio do homem. Persistir no erro é próprio dos loucos. (Cicero)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Importa-se de repetir?

Agora que se sabe qual ou quais as medidas que o governo liderado por Passos Coelho se prepara para pôr em prática para dar a volta ao chumbo do TC, é caso para perguntar: 'Ainda haverá alguém que acredite nele?'. E o que aí vem é mais um roubo aos reformados, imoral, sádico e desumano, mais uma palmada de 10% a todos que recebam mais de €600 p/mês. E chegaram a equacionar um ataque às pensões de reforma de €300. A linha vermelha que separa a existência da sobrevivência. A tal linha vermelha que Portas dizia inultrapassável. É normal para o Vice primeiro Ministro que o que hoje é verdade amanhã seja mentira, utilizando uma expressão do futebolês.
O que o governo está a fazer não é a convergência entre sistemas. E muito menos garantir a sustentabilidade da CGA. O governo está apenas a ir ao bolso de quem tem menos capacidade para se defender. Esta redução de 10% é, por isso, um ato de cobardia. Um imposto extraordinário como lhe chamou Cavaco... As presas fáceis do costume são utilizadas como isco para o peixe graúdo. Abandonando saúde, educação e segurança social. Abandonando tudo e todos à sua sorte. Um ataque brutal estritamente ideológico a tudo que seja ou represente Estado. A tudo que represente sector público.
E também não se trata de uma requalificação de funcionários públicos. Uma artimanha que encapota um despedimento colectivo sem qualquer critério. De forma aleatória, ao doce sabor do director geral de esquina, e da chantagem.
Vou escusar-me de elencar todas as trapalhadas dos últimos dois anos, já todos sabemos os seus contornos. Apelo por isso a um esforço de memória e com certeza identificaremos de imediato uma dúzia: desde Relvas (que tem direito logo à partida a uma boa meia dúzia), passando pela TSU e pela rábula do último mês de Julho de demissões, umas mais irrevogáveis que outras, até às inconstitucionalidades teimosas.
Um governo à deriva, que falhou em toda a linha, navega à vista, dia a dia, sem planificação nem estratégia, que não seja a de cortar a eito e vender às cegas o Estado, o SNS e tudo que não derive da linha neoliberal.
Deixo um resumo do que foi dizendo Passos Coelho antes de ser eleito, naquele que representa o maior atentado ao sistema político e democrático. Relembro ainda que o famoso PEC IV foi chumbado com o argumento de que os portugueses não aguentavam mais austeridade. Importa-se de repetir?




quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A imprensa da empresa

Existe uma entidade em Portugal (CNE-Comissão Nacional de Eleições) que limita a liberdade editorial da comunicação social. E estou a falar, como é óbvio, da cobertura da campanha das próximas autárquicas. Não é exequível, nem sequer sensato, pedir à comunicação social que faça a cobertura da campanha de todos os movimentos que agora pululam por aí, representativos alguns de pouco mais que uma família e quiçá uns primos afastados a viver na América. A CNE extravasou os seus poderes, sobrepondo-se à liberdade de imprensa. O resultado está à vista: ninguém vai ser notícia durante a campanha. Bem sei que para muitos isto representa um alívio, mas também representa para muitos outros a ausência de esclarecimentos e de informações por que ansiavam. A campanha também serve para informar  e ajudar a tomar uma decisão mais ou menos esclarecida. Quanto à entrevista de Passos Coelho na RTP, o bom senso aconselhava a que se realizasse após as eleições, ou então há 15 dias atrás. Passos fez bem em desistir. No entanto, e mais uma vez, a CNE 'censurou' a linha editorial de um canal de televisão.
Entretanto, e porque a nossa comunicação social, cada vez mais sobrevive sobre brasas, disputando audiências e quotas de mercado, sob uma concorrência atroz, a informação vai sofrendo as consequências, e com isto, quem é informado, ou desinformado. Não me refiro aqui, ao Correio da Manhã, porque esse não entra na minha definição de comunicação social.
Uma redução de 51 mil vagas, menos 40419 candidatos, apenas 37415 alunos colocados, o número mais baixo de candidatos ao ensino superior dos últimos anos e o quarto menor de colocações desde 2003. As universidades viram a sua taxa de ocupação cair 4 pontos percentuais, de 91 para 87 por cento, e nos politécnicos a queda foi ainda maior, de 61 para apenas 55%. Cerca de 30% dos 1090 cursos superiores receberam dez ou menos alunos e em 66 deles não foi colocado um único aluno. Os números sugerem que no futuro o ratio licenciados/população em Portugal será ainda mais baixo que aquele já é actualmente, ocupando a cauda da Europa. E quais são as parangonas em todos os jornais? "Mais candidatos conseguem colocação à primeira e 60% são colocados na sua primeira opção". Bruxo! Com estes números. Portanto, no pasa nada.
Notícia no Sol e no JN: "Estimativas apontam para menos 800.000 alunos que em 2012-2013" e assim por aí fora em vários sítios noticiosos. Desapareceu, num ano, cerca de 40% do universo escolar, para além da população. Houve em Portugal um acidente nuclear, seguido de terramoto e quase 10% da população foi dizimada e ninguém me disse nada. Quando se lê com mais atenção, lá vem a conclusão que se está a falar de redução ao longo de vários anos no futuro...
Portugal tem os políticos que merece, como soe dizer-se, mas também tem tudo o resto, jornalistas pouco escrupulosos incluídos e editores apenas preocupados em 'vender'. Reflexo da crise, ou o reflexo de tudo o resto. Porque de boas intenções... A nossa comunicação social é cada dia que passa mais refém do resultado, do 'share', da audiência e do lucro. A informação é filtrada segundo linhas editoriais do 'vende'/'não vende'. E vende sempre o rabo da Rita Pereira, o crime ainda por provar, não interessa, desde que haja suspeitos famosos, o mediatismo, o título popularucho ou escandaloso que chama a atenção, ainda que depois a cara não bata bem com a careta.

PS- Entretanto a campanha mais bem sucedida é a de Judite de Sousa... Para Seara ver.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Guinness

Mais um recorde do 'Guinness' para Portugal. Uma vez mais, o Tribunal Constitucional chumba uma lei do Governo. Um Governo fora-da-lei, insensível à lei e que insiste na sua violação. Vai por tentativas. Pode ser que se salve a dos dinossauros autárquicos. Ou não...
Já muito se tinha alertado para os perigos da mobilidade especial do sector público. A insegurança e discricionariedade, o factor aleatório dos despedimentos encapotados e a quebra de confiança. Obviamente que estes princípios estão consagrados na CRP. Haverá alguém que suporte a tese de que lá não deveriam constar? Passos Coelho já sabemos, dava-lhe jeito passar por cima dessas coisas.
Ainda não está em vigor a última alteração que reduziu a compensação por despedimento para 12 dias e o FMI já avisou que os salários do privado devem ser ainda mais reduzidos. O FMI pede um corte no salário mínimo e propõe cortes nos salários (abaixo do salário mínimo) dos jovens até 24 anos ou em alternativa nos três primeiros anos de contrato. Se não fosse a nossa velhinha Constituição que seria de milhares de pessoas. A exigência de redução de salários tem como fundamento um relatório com dados viciados, que oculta os cortes que em dois anos já foram feitos. A cartilha do FMI, livro de bolso deste governo e dos Borges que o compõem, é o que sempre foi, e se for necessário martelar números para pôr em prática a sua teoria ideológica, fazem-no sem qualquer pudor. É esta a desvalorização salarial que o programa de ajustamento pretende impor. A transferência de rendimentos do factor trabalho para o factor capital é essencial nesta verdadeira revolução neoliberal. Vítor Gaspar tinha razão quando disse que os portugueses eram "o melhor povo do mundo".
Os números enviados pelo Governo para o FMI sobre cortes salariais foram falsificados. Partindo dessa base, o FMI elaborou gráficos e um relatório no qual defende que Portugal precisa de ajustar ainda mais os salários. Os dados enviados que serviram de base para a elaboração do relatório ignoram milhares de casos. E o relatório, surpreendentemente, não foi corrigido.
Os números enviados assim, ou foram martelados negligentemente, o que também é uma característica deste governo, e então demonstra uma vez mais toda a incompetência de quem nos governa, ou foram martelados propositadamente, para servir a continuação da aplicação da cartilha ideológica e de facção governamental, e neste caso estaremos perante matéria do foro criminal. Por alguma razão esta medida foi antecipada e não constará da próxima proposta de Orçamento. Porque havia a suspeita da sua inconstitucionalidade e assim daria tempo para a emendar. Assim se governa em Portugal. Vai-se apalpando terreno e quando a bomba explode recua-se, não antes de pressionar as instituições e mandar às malvas a separação de poderes e o Estado de direito democrático.
Entre público e privado ninguém fica a rir. A canalhice não conhece limites e o que se anuncia será ainda pior...

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pessoas inconvenientes

Não gosto da companhia de pessoas mais estúpidas que eu. Deixam-me desconfortável. E não gosto, em definitivo, da arrogância do novo rico do poder, refiro-me ao poder do chefe, que exige que o tratem por chefe apesar de ser um bardamerdas que sem qualquer esforço é chefe há dois dias sem nada que o recomende. Detesto as pessoas inconvenientes. As que gostam de intimidar, e que sem nunca terem feito nada na vida, assim que se apanham numa posição superior esquecem tudo o resto e trepam em todos sem qualquer pudor. As que esquecem as raízes porque têm vergonha das origens, da província ou da proveniência. Detesto pessoas que apregoam aos sete ventos que dizem sempre o que pensam, em qualquer circunstância, porque geralmente nunca dizem o que sabem, nem sabem o que dizem, e quase sempre a circunstância não o aconselha. Não gosto de pessoas que me agarram e puxam chamando a atenção, não se dando conta que essa necessidade de agarrar e puxar é porque são chatos e o interlocutor está farto de os ouvir. Não gosto da gente que paga para ser notícia, nem de quem lhes paga. A futilidade nestes casos é sempre o mote. Veja-se a futilidade da entrevista de Judite de Sousa a Lorenzo (que não sabia quem era até aquela data).
Não gosto dos graçolas que lançam graçolas à custa dos outros para serem notados. A realidade é que não sabem fazer mais nada. Vivem do expediente. Não gosto de criminosos indignados com o sistema. A culpa é sempre do Estado ou do estado das coisas.
Não suporto oportunistas, os de ocasião e os corredores de fundo. Detesto mal agradecidos e que não sabem reconhecer um erro. Falta de humildade, de carácter e de personalidade. Não gosto de lambe botas, sempre sem opinião própria, macacos imitadores que se limitam a reproduzir o que ouvem dizer.
Não gosto de bisbilhoteiros, sejam americanos ou não, dos que promovem o big brother mundial e dos que espiam e julgam em causa própria.
Irritam-me principalmente os ateus políticos que têm sempre opinião sobre tudo e que são incapazes de se definir. Os cobardes anti-sistema são da pior espécie e andam sempre ligados ao extremismo.
Não gosto de pessoas mesquinhas, tacticistas, sempre a promover a intriga à espera de dividendos. As egoístas que usam o próximo para o seu próprio lucro, indiferentes à condição humana tiram-me do sério. António Borges era um deles e a sua morte é-me indiferente por isso mesmo.
Depois não gosto dos que apregoam a verdade, e que sempre com grande descaramento, demagogia e alguma dose de prosaica tentam escamotear a real situação e a sua real posição acerca dos assuntos que geriram de forma incorrecta e muitas vezes negligente.
Não gosto de independentes que nunca o foram, não o são, nem serão. Não gosto de antipolíticos só porque está na moda e não têm qualquer ideia ou princípio, não sabem distinguir o A do B, e usam a independência para aparecer na fotografia. Mais egocêntricos que qualquer político egocêntrico, afinal este último está habituado. Não gosto da independência com motivos revanchistas e sempre com motivos políticos. Quer se queira quer não. Vira casacas sem vergonha na cara, e sem respeito próprio que me embaraçam quando me imagino na sua posição. E estes são a regra nas próximas eleições. Não esqueçamos o 'flop' Fernando Nobre.
Gosto muito de pessoas, mas só de algumas...
Admito que haja pessoas que não gostem de mim. Tenho é a arrogância de pensar que essas pessoas só podem ter as 'características' acima referidas...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As cinzas do dia

O céu negro anuncia trovoada, mas não é de trovoada que se trata. É fumo negro, que, nebuloso, se abate sobre a cidade. Chovem cinzas! As cinzas da minha terra... A lua avermelhada e incandescente parece sangrar a terra que arde.
Os pirómanos, dizem, são na sua esmagadora maioria, alcoólicos anónimos, débeis mentais, desempregados depressivos ou indigentes.
As investigações a isso conduzem, os interrogatórios assim o ditam, os julgamentos assim determinam. Esquecem sempre é o porquê das coisas. No processo penal urge encontrar os culpados de tão alarmante crime. Nos meandros perde-se o porquê. E na esmagadora maioria dos casos, o porquê está nas entrelinhas, nos pormenores e na falta de tempo da justiça, cada vez mais pressionada, vasculhada e criticada. O tempo da justiça não é, nem pode ser, o tempo da opinião pública, mas no mundo global em que vivemos, em que a informação e a sede de retribuição, ainda que popular e populista se sobrepõe ao bem comum, em troca dos bens pessoais, a justiça não dispõe de meios nem do senso que aprofunde as questões. Os meios não permitem uma justiça célere que permita uma célere justiça... A opinião pública exige linchamentos, quanto mais mediáticos melhor, e pelo meio, as circunstâncias vão-se perdendo, em nome da justiça.
Isto para dizer, que a razão principal para os pirómanos serem quem e como são, como acima referi, reside na sua condição de alvos fáceis de manipular, e para quem 50 euros para pegar fogo a uma mata pode representar uma semana de desafogo. Os principais culpados são os mandantes, seres mesquinhos e gananciosos, que encaram tudo e todos como um obstáculo, e não olham a meios para atingir os seus fins. O aproveitamento das fraquezas dos outros já por si, diria tudo de um qualquer individuo, mas a sua avidez sem limites, e desprezo pelas consequências que todos conhecemos torna-os no mais desprezível que pode haver num ser humano.
A investigação, o processo e a condenação perde-se na espuma dos dias. Oferecer condenados ao povo é tudo o que realmente interessa. Não querendo com isto deixar de responsabilizar quem directamente põe em perigo e ameaça bens e pessoas, transformando com o seu ato uma paisagem verdejante num inferno, apenas quero deixar um alerta para quem realmente são os principais responsáveis por um dos maiores crimes a que assistimos todos os dias no Verão.
Já agora, vale a pena pensar nisto: em vez de pagar milhares de milhões a ladrões de bancos, como no BPN, BPP, Banif e afins, não seria melhor profissionalizar de vez e em condições o corpo de bombeiros nacional, dando-lhes efectivamente meios aéreos e humanos para o combate heróico que travam todos os dias? Em chamas ou inundações, acidentes e transporte de doentes? Quantos mais terão que morrer em nome da estupidez e da ganância dos seus pares? Em vez de ter que pedinchar meios aéreos a Espanha ou a França?
O meu louvor e todo o respeito aos verdadeiros heróis, os bombeiros!!!

sábado, 17 de agosto de 2013

Dará para esquecer?


E pronto! Assim de repente 1,1% de crescimento do PIB no último trimestre dá para esquecer 10 trimestres de recessão. Dá para esquecer uma reforma do Estado inexistente, feita à base de cortes cegos na saúde, educação e segurança social, despedimentos aleatórios e desemprego brutal. Dá para tudo, até dá para pressionar mais uma vez o Tribunal Constitucional, numa avalanche chantagista que se dá mal com as instituições democráticas, base de soberania e independência. Passos Coelho não sabe o que é separação de poderes, o pilar fundamental da democracia, e se não sabe é incompetente, irresponsável e ignorante; se sabe, após os chumbos do TC, é fascista, sem qualquer medo do apodo.
Dá para esquecer Relvas, Borges, Gaspar e Portas, Albuquerques e todos aqueles secretários de Estado que mal aqueceram a cadeira. Dá para esquecer espiões pouco recomendáveis, pressões a jornalistas, equivalências e rendas no sector da energia, para os amigos e para os chineses. Álvaros e companhia, Catrogas, os buracos de Jardim, do BPN e dos Machetes, dos Cavacos e comparsas e limitações de mandatos pouco limitados. Troikas e avaliações mal feitas e por concluir. Jogos de politiquice irrevogáveis, contas sempre erradas e previsões logradas. Dá para esquecer a realidade de um país definhado, afinal é Agosto e o país foi a banhos.
1,1% de crescimento no último trimestre dá para esquecer a novela vergonhosa do último mês, até dá para as sondagens serem favoráveis, e no Pontal as previsões foram mais uma vez de esperança e de demagogia. Dá para esquecer austeridade em cima de austeridade, a venda do país a retalho (os CTT's são já a seguir), as demissões sem ética, e as nomeações habilidosas.
Esquece a Lei das Rendas, o novo mapa judiciário, o novo Processo Civil, a extinção das freguesias, todas contra as populações, contra as pessoas e contra a interioridade. Esquece o diálogo, os pensionistas, reformados, desempregados, professores e funcionários públicos, como sempre. O que interessa são os números, 1,1%. Ainda que no fim do ano a recessão continue a ser uma realidade, o desemprego um flagelo e a pobreza e a dívida uma calamidade. Só esquece a quem não quiser ver... Oxalá esteja enganado!
1,1% de crescimento no último trimestre e finalmente atingimos os valores de há 13 anos. Parabéns!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Chafurdanço de Big Brother

Eis que, regressado de férias, termina a novela da política portuguesa. Em vários episódios, durante um mês, também o governo e o país tiraram férias, e saciaram-se à grande a assistir ao entra e sai em directo. Com prefácio de Gaspar, e o fica/não fica irrevogável de Portas, as personagens foram desenvolvendo uma trama digna de uma qualquer série do big brother.
Veja-se o exemplo dessa personagem que dá pelo nome de Rui Machete, um histórico do PSD, recauchutado e vendido como novo. A exemplo da refundação do governo, a refundação do Estado ganha assim um novo significado. Então não é que não chegava o secretário de Estado Franquelim Alves, a quem eliminaram do currículo a sua passagem pelo BPN, agora também o 'novíssimo' ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros oculta da sua biografia os rabos de palha na SLN/BPN e quando questionado sobre essa passagem, acusa todos os outros de podridão! O pântano do BPN e a sua ligação íntima ao cavaquismo permite toda a perfídia, em nome da vassourada para debaixo do tapete de qualquer resquício que possa aparecer no futuro. A podridão de que fala Machete é a maior nojeira e o maior escândalo da democracia portuguesa e cada vez mais se percebe a necessidade de certas nomeações, não vá alguém descobrir ainda mais do que aquilo que já se sabe...
Outra personagem chave do enredo é a ministra das Finanças, sim a dos swaps, a que mentiu na comissão de inquérito, a que Portas não queria no governo e não se sabe porque artes mágicas vai coordenar. Mas coordenar o quê? Como e até quando? Vale tudo em nome do poder comesinho e da fruta no fim da refeição... É este o padrão de honestidade do governo? O mais pequeno de sempre, em nome da falsa moralidade, que tornou os 11 ministérios iniciais ingovernáveis e que em 2 anos já saltou para 14? Até quando?
Mas esta falsa moralidade, este jogo do empurra vai mais longe, veja-se o que tem feito Cavaco Silva, a personagem principal do final da novela. Paulo Portas tentou fugir do desastre para tentar salvar o partido mas um Passos Coelho quase a afogar-se deu-lhe tudo para poder continuar agarrado ao poder. O que fez o presidente? Inventou uma manobra para ocultar as responsabilidades do 'seu' governo, de há muito a esta parte de sua iniciativa presidencial. Usou o país e as dificuldades dos portugueses para uma pérfida e engendrada tática de salvação nacional, tentando colar o PS a este governo miserável, incompetente e moribundo, tudo para acabar a dar posse a uma remodelação já pronta há 15 dias e deixando no ar a culpa do PS por não lhe ter feito o frete. Ou esquece-se do seu discurso no 25 de Abril último, sectário e mesquinho. Feito de ajuste de contas. Ou esquece-se que este governo ignorou o PS e os seus parceiros sociais, pelo menos desde há 1 ano a esta parte? As manobras de Belém tiveram como único objectivo ocultar, adiar e escamotear a verdadeira trapalhada que é e continuará a ser este governo. Um governo dado como morto por 3 vezes, ressuscitou pela mão atrás do arbusto. A mesma mão que o tinha ligado à máquina por mais um ano. Em que ficamos? Há 15 dias este governo, recauchutado ou não, só servia para um ano, e isto porque eleições antecipadas poriam o país em suspenso durante muito tempo, as avaliações da troika, o orçamento para 2014, blá, blá, blá. E agora, passados que foram 15 dias, dá posse a uma remodelação governamental, que já pode servir até ao final da legislatura. Durante estes 15 dias Cavaco lembrou-se que afinal este governo é maioritário. Façam o que fizerem. Até quando?
Entretanto, temos no executivo, dois governos distintos, o da economia de Portas e Pires de Lima, que quer crescimento económico, e o de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque que quer continuar a senda neoliberal e de austeridade castrantes como até aqui. Até quando?
Estes 15 dias foram uma tentativa de prova de vida do PR, numa manobra suja de arrastar o PS para o lamaçal e atirar poeira para os olhos de alguns portugueses mais incautos, na esperança de esquecerem as cartas de Gaspar e de Portas, de esquecerem os 'swaps' da ministra das Finanças e o afundanço na lama da política portuguesa e de Portugal. Por causa de um governo mentiroso, impreparado, incompetente e premeditado na sacanice e na trampa ideológica que os faz chafurdar como moscas no meio da m...
 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A semana do Pedrinho e do Paulinho


Vítor Gaspar dixit:

"O incumprimento dos programas originais para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração da sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto Ministro das Finanças. (...) o nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves. (...) Pela nossa parte exigem a rápida transição para uma nova fase do ajustamento: a fase do investimento!"

Paulo Portas dixit:

"Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.
São conhecidas as diferenças políticas que tive com o ministro das Finanças. A sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo político e económico diferente. A escolha feita pelo primeiro-ministro teria, por isso, de ser especialmente cuidadosa e consensual.
O primeiro-ministro entendeu seguir o caminho da mera continuidade no Ministério das Finanças. Respeito mas discordo.
Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao primeiro-ministro, que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível.
Ao longo destes dois anos protegi até ao limite das minhas forças o valor da estabilidade. Porém, a forma como, reiteradamente, as decisões são tomadas no Governo torna, efectivamente, dispensável o meu contributo."

Como se percebe são excertos da carta e do comunicado de Gaspar e Portas, respectivamente, aquando da apresentação das suas demissões do governo.
Como também se percebe elas encerram fortes críticas ao rumo e à política seguida pelo governo. Se Gaspar faz uma autocrítica e aponta o caminho do investimento, Portas torna irrevogável a sua continuação neste governo e com estas políticas. E essas são as conclusões maiores que se tiram desta semana, em que não esteve suspensa a democracia, como alguém um dia disse que seria necessário, mas esteve suspenso o governo. Em dois dias o país assistiu incrédulo a uma novela mexicana em que o amor-ódio faz sempre parte do guião. Um arrufo de rapazolas, putos imberbes que comandam um país, deu para os gregos poderem dizer que a Grécia não é Portugal.
O que sobra da semana é a confirmação daquilo que já se sabia, mas que muitos não queriam ver. A política de cartilha pseudo-imbecil neo-liberal seguida por Passos Coelho e Gaspar resultou numa recessão de 2,3% com estimativas de atingir 4% no fim do ano, o desemprego está nos 18,6%, o défice em 10,6 % e a dívida pública já vai em 127% do PIB. Há dois anos, quando o país estava em bancarrota os mesmos indicadores eram os seguintes: recessão (0,2%), desemprego (12,6%), défice (8,8%) e dívida (107%). É isto que a troika e agora Passos Coelho isolado defendem como 'o bom aluno', 'o caminho certo', 'a consolidação das contas públicas', 'o ajustamento'. Os credores estão-se a marimbar para as pessoas e para o país, desde que lucrem com a nossa crise. Se ela for política, óptimo, mais juros, mais dinheiro. Ora, se o país estava na bancarrota há dois anos, agora, ninguém duvidará de um segundo resgate. Aliás, os juros atingiram 8% esta semana, com as traquinices do Pedro e do Paulo, acima dos 7% que obrigou Sócrates a pedir a intervenção da troika.
Esta semana representou o consumar do colapso e do falhanço de um governo impreparado, incompetente e ligado à máquina de há uns meses a esta parte. E Relvas, nunca se esqueçam de Miguel Relvas. E do Borges e Moedas, da Paula, do Álvaro e afins.
Alguém dará credibilidade a este governo, mesmo se Portas recuar? E Portas terá alguma? E a reforma do Estado que supostamente entregará daqui a quinze dias? A reforma do Estado que provavelmente não soube nem conseguiu fazer. Como o governo até agora não soube e que era por onde devia ter começado.
E Cavaco após aquela humilhação farsante em que se envolveu ao dar posse a uma ministra que não se sabe se estará no cargo segunda feira, tem margem de manobra para quê? O homem que pôs a mão no rabo de Portas e Coelho que terá agora a dizer? Que sempre disse que preferia a estabilidade e agora levou um pontapé no cu e um bofardo na língua? O governo que sair desta  porcaria durará até quando? Até às autárquicas? Ao OE? Ou até ao segundo resgate?
Esta semana serviu também para se poder dizer alto e em bom som: AS ELEIÇÕES FAZEM PARTE DA DEMOCRACIA E NÃO HÁ ARGUMENTOS ECONÓMICOS QUE POSSAM DISSUADIR A SUA REALIZAÇÃO!!! NÃO HÁ CHANTAGEM ALGUMA DOS MERCADOS E DE QUEM QUER QUE SEJA QUE POSSA IMPEDIR O POVO DE SE PRONUNCIAR NAS URNAS! DEITAR ESTES DOIS ANOS PELA BORDA FORA É O MELHOR QUE NOS PODIA ACONTECER. AINDA QUE COM SEGURO AO LEME.
Esta semana esclareceu de uma vez por todas que é preferível eleições a aturar birras de canalha mimada, preocupada com os seus umbigos eleitoralistas, deixando o país suspenso e à deriva. Este governo é, foi e será uma nulidade. Uma farsa e uma calamidade. Os últimos dois anos foram tempo perdido à custa de todos.
Esta semana demonstrou que qualquer alternativa é preferível ao triste espéctaculo de morte assistida do país e do sistema político, repito, com razões válidas de Portas, mas demagógicas, sectárias e caciqueiras como se verá amanhã ou nos próximos dias, quando Portas for ministro da Economia e Macedo das Finanças. Passos Coelho é o maior culpado por todas as razões (principalmente porque teima em levar ao leme o país rumo ao precipício) e Maria Albuquerque será um rodapé no capítulo respeitante aos contratos swaps.
Esta semana foi a maior vergonha, das muitas, a que este governo já nos habituou, tamanha, que é urgente pedir desculpa a Santana Lopes. As suas trapalhadas foram de menino comparadas com as destes fedelhos.