quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sei que não vou por aí!

Meditar, reflectir, pensar... as escolhas que se fazem todos os dias, as incertezas e os impulsos, as ideias e os princípios, os ideais e convicções. Alguns devem ser aprofundados, outros levantam questões, mas todos devem ser postos em dúvida, todos os dias, para melhor se poder saber para onde se quer ir e para onde se vai... Fundamental é saber para onde se quer ir... O caminho faz-se caminhando... Com angústias, desilusões e sucessos, mas o que aí vem tem a chama da incerteza, do conflito e da frustração.
Falo especificamente do novo ano que se avizinha, 2012... Desejo a todos passos seguros (gostaram do trocadilho com os nomes do actual primeiro-ministro e do líder do PS?), mas sem medo do risco de tropeçar nas pedras da calçada, porque só tropeça quem anda... a todos um feliz e próspero Ano Novo!
Porque não sou poeta, deixo-vos a tradução perfeita do que acabei de dizer, escrita por um génio das  palavras: José Régio.

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Lamento de Natal

Lamento com 'sôdade' a morte de Cesária Évora, lamento a morte de Vaclav Havel, revolucionário democrata e político de moral superior, lamento pelo povo da Coreia do Norte, que vai continuar  a ter um Kim a reger aquela ditadura Estalinista (aliás, acredito que seja por isso que choram, para não falar das 'carpideiras' pagas com medo, histeria e pânico), lamento...
Lamento que o meu governo acredite que a solução para o desemprego esteja na precariedade, na austeridade, na inconstitucionalidade, na escravidão, na desbaratização (tenho a sensação que esta palavra não existe, e se existe devia pagar imposto), na desmoralização e na emigração... na desregulamentação e discricionariedade (outra que devia pagar imposto) do despedimento, no corte das indemnizações, no alargamento do horário de trabalho, no corte de feriados e férias (aliás, é curioso notar como as principais centrais sindicais e de patrões se uniram contra o ministro da economia e abandonaram a concertação social neste capítulo, é no mínimo inédito), lamento... que queiram vender o país aos chineses, aos alemães e aos angolanos, que sejam mais troikistas que a troika, que não vejam para lá de 2015, que não saibam que sem crescimento não há dívida que possa ser paga, que não cortem nas verdadeiras gorduras mas nos tirem a pele, lamento...

P.S. - Apesar de tudo, a todos um Bom Natal!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Emigrar para a Rússia

A Rússia continua a ser gerida por caciques e senhores feudais, numa promiscuidade entre política e interesses económicos; uma rede de governadores regionais, comités em escolas e fábricas para controlar os trabalhadores, ao melhor estilo do pior que havia no auge do comunismo. Se aliarmos a isto, milhares de relatos de fraude eleitoral nas últimas eleições, sempre em benefício do partido do poder de Putin, o Rússia Unida, e uma  corrupção a toda a escala das empresas estatais dominadas por 'boys' nomeados, marionetas de Putin, podemos afirmar que a Rússia continua com vícios antigos, e que de democracia apenas tem o nome. Se outra coisa não o denunciasse, a dança de cadeiras entre o primeiro-ministro Medvedev e o presidente Putin, que em última análise permitirá a este manter-se no poder por mais 12 anos, não deixa margem para dúvidas da falta de transparência e corrosão do sistema. O populismo de Putin, sempre perigoso, ao nível de outros que por aí grassam e prosperam, chega ao cúmulo de pôr em causa o tratado de redução de armas estratégicas assinado com os EUA, numa lógica nacionalista de angariação de votos.
No nosso país, que ainda é uma democracia (last time i checked), Passos Coelho aconselhou os docentes desempregados a emigrar, porque este país não é para velhos, nem para novos, nem para reformados, e muito menos para desempregados... Se Sócrates pintava o país de rosa, o actual primeiro-ministro apunhala-o pelas costas sempre que pode... Já agora aproveita-se o embalo e deportam-se os restantes desempregados, trabalhadores precários, beneficiários do SNS e do RSI, as putas e os reclusos, os imigrantes e todos os que não dão jeitinho nenhum... para a Rússia talvez Sr. primeiro-ministro?


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Colossal

Miguel Relvas foi a Moçambique participar na colossal inauguração de mais um canal público de televisão daquele país. Logo ele, que quer 'alienar' um canal da RTP, quase como um objectivo de vida, incansável, persistente e colossal. Podia ter enviado a Assunção Cristas, que como não percebe nada de agricultura, ambiente ou ordenamento do território, pelo que também não tem feito, não ficava tão mal na fotografia.
Ainda Miguel Relvas, em entrevista ao 'Expresso' do passado fim-de-semana, onde entre outras coisas, diz que "o governo não tem plano B, ou acerta ou falha"... Espero que alguém pense nisso de uma maneira menos leviana , porque o plano A não está a correr nada bem...
E afinal, o desvio colossal nas contas públicas transformou-se em 6 meses numa folga colossal, e a intrujice é ainda mais colossal...
Paulo Macedo resolveu substituir os gestores hospitalares por boys do PSD e subir de modo colossal as taxas moderadoras, 'só' mais 100%...
Definitivamente, o plano A do governo tem um desvio colossal, principalmente em comparação com o que se dizia/prometia há 6 meses...


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Europa adiada do euro 2012

A Europa outra vez adiada... Desta vez sem a participação do Reino Unido, que também não tem euro nem Shengen, portanto nada de estranhar. O Reino Unido se fica de fora em quase tudo, é uma ilha que não nos interessa. A sua mira está do outro lado do Atlântico, e só se vira para o continente, quando lhe dá jeito, como nas invasões napoleónicas ou na II Grande Guerra. Os alvos eram sempre os ódios de estimação a franceses e alemães, numa Europa com demasiados séculos de história para se poder, de uma penada, unir o que o tempo sempre separou. De facto, é até de estranhar a pretensa parceria franco-alemã.
O acordo alcançado na passada sexta-feira não passa de um adiamento que pode também ficar adiado. As revisões constitucionais limitativas do défice e da dívida pública de cada país, fiscalizadas pelo Tribunal Europeu de Justiça, e com castigos imediatos para futuros prevaricadores, não serão partos fáceis de gerir nos parlamentos nacionais. Porque traduzem a maior perda de soberania até hoje realizada, sem a garantia de qual o passo a dar a seguir. E porque não é um processo que se possa realizar em dois meses. O PS de Seguro não está totalmente convencido, até porque, quem garante que Alemanha e França, que foram os primeiros a violar o pacto de estabilidade, serão castigados como os outros, se ultrapassarem as metas do défice? E as suas contas, serão escrutinadas e previamente aprovadas, como as dos seus parceiros?
Com tudo isto, as agências de notação Moody's e Standard & Poor´s, já ameaçaram baixar o nível de 15 países da UE, bem como o seu fundo de estabilização, e continuam assim a fazer política impunemente, sem que ninguém os tenha eleito.
Esta continua a ser uma Europa sem estratégia e adiada. A única saída neste momento é uma integração fiscal a sério. É tempo de se perguntar se queremos mesmo uma União, com as necessárias perdas de soberania, em passo alargado para o federalismo, ou se queremos continuar a entreter-nos como bons amigos que se juntam de vez em quando para beber uns copos... Ou o federalismo e o euro era só a brincar? Definam-se de uma vez por todas...
2012 será o ano do euro, da moeda, da União, e também de futebol, mas deviam reformular os grupos já sorteados, assim como que uma adjudicação directa, pondo no mesmo grupo Alemanha, França e Inglaterra, noutro grupo podia ficar Portugal, Irlanda e Grécia, noutro juntava-se a Itália com a Espanha e no último o Pai Natal, o coelhinho, o comboio e o circo, para a palhaçada ficar completa.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cuidado com os cães

As cúpulas que dominam a política e a economia de mercado, são por estes dias uma espécie de oligarquia. Reinam à vontade protegidos pelo sistema. A verdade é que tudo tem um preço, e se não for mais alto ou mais baixo, alguém há-de ter um almoço de borla. A política protege a economia, desregulando e afastando o Estado dos centros decisores. Dá liberdade e margem de manobra para as engenharias financeiras poderem operar sem a fiscalização que impediria a agiotagem, especulação e fraude a que se assiste diariamente, e através das privatizações dá de barato os seus centros de decisão e de riqueza, para que outros possam entrar num mercado que antes era uma miragem. A economia devolve os favores com 'luvas', empregos remunerados ao nível de um jogador do Real Madrid (em empresas privadas com capitais públicos ou públicas com capitais privados), e participação em negócios, directa ou indirectamente, com lucro garantido. Assim numa espécie de limbo apaziguador de consciências mais afoitas. Os princípios e valores são os que se vendem nos canais de comunicação social que todos eles controlam, directa ou indirectamente. A justiça é feita ao som do clarim mediático, fazedor de opiniões, de inocentes e de culpados.
A Europa segue ao mesmo ritmo, dominada por conceitos ideológicos de 'troikistas' (não confundir com 'trotskistas') e alemães e franceses com saudades imperiais. Os EUA são os oligarcas por natureza, e onde todos aprenderam a conjugar o verbo especular. A China, o Brasil e Angola estão-se a marimbar para o assunto (até porque só um deles é uma democracia), e compram ao desbarato, já sem vergonha de dizer que querem 'entrar' na Europa.
A oligarquia é um sistema em que o poder político está concentrado num pequeno grupo de pessoas ligadas por laços familiares, empresariais ou de influências. Quando se fala em Estados a oligarquia assume o nome de imperialismo. Austeridade é o nome que se dá à garantia pela qual este grupo continuará a governar. Procurem exemplos por aí, e se conseguirem identificar pelo menos 10 em menos de 30 segundos é porque se calhar a democracia que conhecemos já está subvertida e prestes a ser enterrada...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

5 à Sec

Afinal os 2 mil milhões de euros que Passos Coelho diz ter 'a mais' vêm do fundo de pensões da banca e servirá para pagar dívidas do SNS... Será?
Afinal o estripador de Lisboa diz que não é o estripador de Lisboa, segundo uma investigação jornalística à investigação jornalística, tudo não passou de uma brincadeira... Será?
Afinal havia agentes da PSP infiltrados na manifestação de 24 de Novembro com o intuito de provocar quem lá estava pacificamente. O director nacional da PSP diz que ainda vamos ver pior, ao estilo de um Estado policial de outras épocas... Será?
Afinal Duarte Lima também tem negócios obscuros de milhões de euros com o BPN, para 'matar' saudades de Dias Loureiro e companhia ilimitada... Será?
Afinal a família de Sócrates tem um offshore que movimenta milhões de euros... Será?
Afinal a TAP foi considerada a melhor companhia aérea da Europa, por isso é que nos queremos ver livres dela, vendendo os anéis e cortando os dedos... Será?
Afinal Américo Amorim, um simples trabalhador, deve ao fisco 750 mil euros, em viagens dos netos, massagens e cintos de crocodilo, que por 'lapso' foram debitadas na Amorim Holding 2... Será?

Conheço uma empresa (passo a publicidade) que talvez ajudasse na 'roupa suja'...


domingo, 4 de dezembro de 2011

A Europa da austeridade

Mais um Conselho Europeu marcado para o próximo fim de semana. Desta vez, e após as recentes declarações de Merkel estamos perante a iminência de uma união fiscal total.
Portugal teria muito mais a ganhar com a emissão imediata dos 'eurobonds' ou com a transformação do BCE num banco central normal. Ambas as medidas ajudariam num mais rápido e eficaz combate à crise da dívida soberana. Enquanto ela for soberana. A alavancagem daí resultante permitiria que a nossa, como outras dívidas pudessem ser protegidas dos ataques externos dos mercados mais pessimistas e impacientes, por assim dizer. A emissão de moeda por um banco central europeu, ou a emissão de títulos de dívida subscritos por todos os membros do euro permitiria refrear qualquer especulação e credibilizar uma moeda catatónica, vítima de agiotas e da falta de coragem dos líderes medíocres que era suposto protegerem-na.
O BCE teme a inflação e os tratados actuais não permitem que salve um país membro, reduzindo a sua actuação à compra de dívida nos mercados secundários, e a Alemanha teme a bancarrota e a sistematização da falta de responsabilidade dos países prevaricadores. Assim sendo, propõe a união fiscal, e a alteração dos tratados, em troca de castigar com mais austeridade os países que já têm a corda na garganta. Pode ser a solução a longo prazo, pode ser que nos consiga manter no euro, trará mais integração europeia, mas a violência a que nos sujeita nos próximos anos, e que não serão 3 ou 4, causará convulsões de resultado imprevisível, assim como a necessária perda de soberania e a redução do Estado social, na saúde, justiça e educação a meros serviços de gestão, sem qualidade, sem profissionais e sem motivação. Tudo isto num contexto de desemprego e recessão endémica.
Passos Coelho que não tem ideia nenhuma sobre a Europa, faz a vénia a Merkel, como um súbdito bem comportado. Aliás, convém lembrar a sua recente entrevista, em que afirma haver 2 mil milhões de euros para injectar na economia. Como? Não sabemos. Será esta a folga orçamental de que falava Seguro? Será este o dinheiro tirado aos funcionários públicos e aos pensionistas, que agora vai ser dado a empresários para gastar, ninguém sabe como? É que os pensionistas e os funcionários públicos utilizam o dinheiro em consumo, qualquer economista sabe isso, e necessariamente ele irá parar ao comércio e à indústria. Assim, ficamos sem saber. Mas sabemos como funcionam os empréstimos a empresários menos escrupulosos. À semelhança da Grécia e da Itália, ainda vou ver o tecnocrata Vítor Gaspar a substituir Passos Coelho como Primeiro-Ministro, sem recurso a eleições, para garantir que as medidas liberais são bem aplicadas e que a austeridade é só para alguns. Passos Coelho na mesma entrevista já nos avisou que vem aí mais. Mais meia-hora de trabalho escravo, mais desigualdades, mais cortes onde não se deve, mais populismo em que este governo é doutorado, ao estilo da rábula das gravatas, da Vespa que o Ministro da Segurança Social trocou por um Audi de 86 mil euros, do amarfanhar do fundo de pensões da banca, numa engenharia financeira de controlo do défice que tanto criticaram no passado mais recente e dos vôos em económica que João Jardim manda às malvas do alto da sua gabarolice. Estou farto...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Em nome do Fado

Em nome do fado, eleito recentemente pela UNESCO, Património imaterial da Humanidade (repitam para vós mesmos as últimas 4 palavras! e reflictam, nem que seja por 10 segundos o que isso poderá significar), mesmo para quem não goste, deixo-vos um dos meus preferidos... Samaritana.