terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O chico-esperto

O Português mais comum do século XXI é um percevejo narcisista e pessimista, que faz do chico-espertismo o seu ideal de conduta.

É cínico, arrogante, ignorante em quase tudo tirando futebol, sabe sempre mais que os outros, não pode ser alvo de críticas a não ser que sejam boas e acha que teve azar porque tinha capacidades para estar no poder e tudo melhorava em 2 dias. Olha para o próprio umbigo sempre, imediatamente antes de criticar o do vizinho, ou quando olha primeiro para o do vizinho tem como missão especial e secreta a de se render ao seu desporto favorito: a inveja. Aproveita sempre que pode uma benesse, uma lacuna, ou uma fuga ao fisco. Nunca é responsável por nada, mesmo que seja chefe ou patrão de várias pessoas, e por muito que a coisa dê para o torto. Ser chefe de qualquer coisa é um fim e não importa o meio de o atingir.
O chico-esperto português acha sempre que tudo vai mal e que dantes é que era. Quando não havia créditos, nem publicidades, nem Europa, nem se calhar televisão. Assim, no Portugal colonial dos escravos, do esbulho e do lenocínio de povos inteiros, no Portugal dos emigrantes que lavavam escadas por essa Europa fora, no Portugal da guerra é que era.
Um país que mesmo há 30 anos atrás tinha taxas de mortalidade infantil ao nível de África, que tinha mais de 50% de analfabetos, onde só havia carros para alguns, assim como electricidade, não se imaginava um Serviço Nacional de Saúde, quanto mais de Educação, o Portugal do FMI dos princípios da década de 80.
Mas, é um facto, também não havia empréstimos, nem desemprego, nem rendimento social de inserção, nem reformas, nem subsídios, nem telemóveis, nem férias, um luxo. Magnífico país...Endividamento zero! Nesse país é que eu gostava de morar.
Curioso ver que essa geração de chico-espertos, tem os políticos que vemos (da esquerda à direita), espelho da sociedade que representam, a geração dos corruptos e dos pedófilos. A geração que olha admirada o Portugal dos Descobrimentos, um Portugal de portugueses extintos há muito. A geração que nos vai fazer pagar os juros durante anos a fio.
A geração que inventa aumentos quando outros têm cortes, que acha que há Portugueses de 1ª e de 2ª e de 3ª, que está acima da lei e que apesar de privilegiados, querem sempre mais, que acha que deve beneficiar enquanto outros pagam a crise que não é nossa, que acha que o trabalho e o emprego é um bem supérfluo que pode ser desbaratado e precarizado, que pimenta no cu dos outros é refresco...e que o FMI nunca mais vem...
Felizmente há excepcões e ainda há em Portugal quem pense de maneira diferente, quem acredite num Estado Social, num mercado com regras, no SNS, na educação para todos e na política de serviço público feita para o Povo e a favor do Povo.
Ainda existe o Português optimista, apesar de estar em vias de extinção.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Presidenciais 2011

Quem sempre achou que Sócrates se devia demitir, ou não se devia ter apresentado a eleições, por causa das suspeitas que sobre ele recaíram nos caso Freeport e PT/TVI, e mesmo assim votar em Cavaco Silva não é coerente e deve muito à honestidade intelectual.

Falo, das suspeitas que desta vez se abateram sobre Cavaco Silva, e quanto ao 'caso' SLN/BPN remeto para o meu último artigo, resumindo que um 'mísero' professor de economia devia ter desconfiado de um banco que lhe deu 150% de lucros em 2 anos...Ou então já percebo porque é que o país está na situação em que está, apesar de ter um Presidente da República que percebe ou não de economia, e que tanto nos avisou sobre o que aí vinha.
De resto, mais uma trapalhada veio à baila esta semana. O nosso PR, com a ajuda dos seus amigos da SLN e do BPN, fez uma escritura de permuta de uma casa no Algarve. Ora, essa permuta foi feita com uma empresa que era detida por que outra empresa? (ora adivinhem lá)... exactamente! Pela SLN! E Cavaco responde que na altura era um 'mísero professor de economia'. Já percebemos, era mau mesmo. De economia não percebe nada, como ficou visto no 'caso' das ações. Mas já não é admissível que Cavaco se esconda, e não se lembre onde e quando fez essa escritura, nem o que deu em troca na tal permuta. A não ser que se lhe descubram mais 20 casas e aí é desculpável que não se lembre. Já agora, o presidente da empresa que na altura foi a contraente com quem Cavaco fez o negócio da casa do Algarve é lá seu vizinho e pertence à sua comissão de honra. Curioso.
Noutro contexto, Cavaco diz que agora é que vai ter uma magistratura activa...digo eu, por contraste à nulidade passiva do primeiro mandato, do 'promulgo mas não concordo', das escutas em Belém, etc.
E Manuel Alegre? Apoiado pelo BE e pelo PS está preso na sua reconhecida independência, não pode elogiar, nem criticar o Governo, não ferindo as susceptibilidades de quem o apoia. E porque a ele ninguém o cala, fora quando devia estar calado (basicamente desde 2006), por isso a candidatura de Defensor Moura, que foi a lebre que estes partidos encontraram para legitimar o ataque a Cavaco, não dando Alegre o corpo às balas. Lembro que quem chamou à liça o BPN, foi Defensor. Quanto aos outros candidatos, Nobre é pífio, Francisco Lopes é cassete e Coelho é o palhaço de serviço. Têm apesar disso toda a legitimidade de se candidatar à PR. Como é óbvio.
Duas coisas esta campanha provou: o  pobre deserto de ideias, o nulo debate de programas e de respostas, numa eleição que de importante só representa a possibilidade de o novo PR vir ou não a dissolver a Assembleia da República. Provou também que Cavaco tem amigos pouco aconselháveis, tal como Sócrates, que Cavaco tem histórias mal contadas, tal como Sócrates, um queixa-se de campanha negra, o outro diz que ela é suja.
Assim vai o nosso país, dos polítiqueiros, dos 'boys', dos 13740 organismos públicos, dos quais só 1724 apresentam contas e 418 são fiscalizados.
Ainda assim, vou exercer o meu direito/dever de cidadania no próximo dia 23, votando à espera de um país mais Alegre.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O candidato Presidente

É incontornável e não há como fugir ao tema. O caso BPN está a marcar a campanha para as Presidenciais  de 2011.

Como se sabe, o Banco Português de Negócios e o seu fundador Oliveira e Costa, são os clones numa escala e dimensão à portuguesa do Lemahn Brothers e do Madoff americanos. O resto é fácil de imaginar, investimentos com lucros garantidos a percentagens escandalosas, produtos tóxicos e casos de polícia. A única diferença foi que o nosso Governo nacionalizou o BPN, ao contrário do americano, mas ainda assim deixou cair o BPP. Poder-se-á discutir o mérito da decisão, pode-se discutir se não deveria ter nacionalizado também a SLN, sociedade anónima que detinha a maioria do capital do Banco, mas isso fica para outra ocasião, talvez quando Passos Coelho chegar a Primeiro Ministro e já governe como pretende lado a lado com o FMI e Paulo Portas. Aliás, imagino-o a salivar pela entrada do FMI em Portugal, preparando-se a queda do Governo com a ajuda da magistratura activa de Cavaco.
E por falar em Cavaco, o candidato Presidente viu-se confrontado por Defensor Moura, com uma venda de acções que detinha então na SLN. O candidato Presidente, que é político mas diz que não é, o impoluto economista que deu luz verde à nacionalização desse Banco, o autoproclamado arauto da honestidade e que nunca se molha debaixo de chuva, respondeu ao seu interlocutor com a frase "...para ser honesto como eu, tem que se nascer duas vezes". Ora, nesse campo improvável da biologia humana, só encontro Santana Lopes, que já nasceu quatro vezes e continua a andar por aí.
O candidato Presidente que acha que não deve explicações, questionado por Manuel Alegre, outro candidato, chutou para a frente e acusou a actual direcção do Banco de incompetência, esquecendo ou tentando fazer esquecer a anterior direcção criminosa dos seus amigos. 
Confrontado por Francisco Lopes, o candidato do PCP, remeteu para a sua declaração de IRS de então.
De que tem medo o candidato Presidente? Provavelmente não haveria aqui caso político se Cavaco nos brindasse com uma resposta, mas o Senhor Presidente, com a boca a rebentar de bolo rei não consegue responder. E como não responde e a honestidade não se proclama, pratica-se, dúvidas se levantam. Assim, quem o convenceu a investir na SLN? Oliveira e Costa, seu ex-Secretário de Estado, ou Dias Loureiro, seu ex-Ministro e Conselheiro? Porque é que remete para uma declaração de IRS que sabe que  não é pública nem tinha que ser entregue no TC porque nos anos de 2001 a 2003, a que se reportam os factos, Cavaco não exercia funções públicas? Porque comprou as acções a €1 quando outros compravam a mais? Porque remete para uma declaração de 2008 que nada explica?
Eis algumas respostas: o candidato Presidente, a convite dos seus amigos do SLN, investiu e ganhou. Ganhou à volta de €150.000,00 e a sua filha €200.000,00, com ganhos superiores a 75% ao ano. Quem deu ordem de venda dessas acções foi Oliveira e Costa, sabe-se agora. A declaração que fez em Novembro de 2008 diz que nada tinha a ver com o BPN, sabe-se agora que nos estava a atirar poeira para os olhos, não tinha que ver com o BPN, mas sim com a SLN, que controlava o BPN. Honesto?
O candidato da honestidade, acha que é superior a todos os políticos rasteiros e menores, mas se para alguma coisa serviu esta campanha, ela mostra que Cavaco não é o que ele diz que é. E é interessante ouvi-lo falar em campanha negra imaginando o quanto se deve ter rido quando calhou a Sócrates.
O assunto é sujo e o candidato Presidente desta vez molhou-se.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Solidariedade Nacional e Coesão Europeia

Já aqui escrevi no último artigo sobre a falta de solidariedade e de coesão nacional que representava a medida de Carlos César de compensar os cortes salariais nos Açores. Também me insurgi contra a falta de ética que representa a existência de um sindicato que represente os Magistrados do Ministério Público e os Juízes, como órgão de soberania e um dos pilares da democracia que são. E para me dar razão, vieram agora os sindicatos do M.P. e dos Juízes anunciar que vão dar entrada em tribunal de acções para travar os cortes salariais. Ora, em última análise, quem julga essas acções são os juízes, fazendo-o assim em causa própria. Mais um exemplo do país solidário e de valores que somos. Não adianta nada a luta contra a crise, com estes portuguesinhos de  terceira. Só espero a entrada do FMI, para que de uma vez por todas este povo ingovernável saiba que o seu voto não adianta de nada porque quem manda é Bruxelas do eixo Franco-Alemão, que de solidário também não tem nada. E então sim, quando os cortes salariais forem de 10% a 20%, quando finalmente os patrões puderem despedir sem justa causa e sem indemnização, com o consequente maior desemprego, talvez  assim andemos de sorriso aberto na rua.
E volta a questão incontornável: como é que os mercados, agências de rating, bancos e afins, responsáveis pela crise, são os mesmos que ditam as regras e tomam as rédeas da suposta recuperação económica e financeira?
Como é que as agências de rating que aconselhavam a comprar créditos incobráveis, que sem quaisquer escrúpulos valorizavam os 'activos tóxicos' dos bancos, e quanto mais o fizessem mais destes recebiam, são agora as mesmas que valorizam ou não as dívidas soberanas dos Estados? Como é que a União Europeia permite que três agências de notação americanas, regulem o mercado e as dívidas europeias?
É simples, a França a reboque da Alemanha, pretendem salvar o coiro, ainda que isso implique a implosão de um ou dois países europeus, ou mesmo de toda a União Europeia. A moeda única sem a união política e sem a coesão que também vai faltando em Portugal, aliadas à crise de valores e de lideranças fortes e corajosas, está a levar ao colo a China não democrática, mas agora capitalista e sem qualquer respeito pelos direitos humanos. Aliás, a mão-de-obra barata chinesa, contrastante com a subida exponencial e pouco criteriosa dos salários da zona euro e em especial de Portugal ao longo dos anos, permite à China neste momento comprar ao desbarato os países da desmembrada União Europeia, comprando o seu silêncio na luta por valores democráticos e de respeito pelos direitos humanos. Os abutres que controlam os mercados continuam a viver á custa dos milhões de contribuintes e de desempregados, á custa dos Estados que permitiram a sua desregulação e agora não têm alternativa a não ser obedecer ao capital e a quem o controla. A crise de ética e de valores veio para ficar, mais tempo que a crise económica e financeira. A ganância capitalista atropela tudo e todos e nós deixamos. A União Europeia perdeu o rumo, e ao mínimo sinal de crise, acabou-se a solidariedade entre estados, o estado-social europeu foi trocado pelo salve-se quem puder, e quem pode salvar-se mandou à fava a integração e os valores sociais que faziam a diferença na Europa. 
2010 foi o ano em que ficou provado que os mercados devem ser regulados pelos Estados, um sem o outro não podem existir, a virtude está no meio.
2011 é o ano em que, ou sabemos o que queremos, ou seremos engolidos pelos charlatães e pelas burlas de mão branca.
Portugal e a Europa precisam mais do que nunca de coesão, solidariedade e  de uma sociedade a rumar para o mesmo lado, separando o trigo e regulando o joio. Precisa de saber quais os seus valores, os que quer seguir, e que com certeza não são os valores da China, da Moody's, da Fitch, da Standard & Poor's, da Goldman Sachs, de Merkel, de Sarkozy e dos mercados capitalistas, gananciosos e desregulados.