quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sei que não vou por aí!

Meditar, reflectir, pensar... as escolhas que se fazem todos os dias, as incertezas e os impulsos, as ideias e os princípios, os ideais e convicções. Alguns devem ser aprofundados, outros levantam questões, mas todos devem ser postos em dúvida, todos os dias, para melhor se poder saber para onde se quer ir e para onde se vai... Fundamental é saber para onde se quer ir... O caminho faz-se caminhando... Com angústias, desilusões e sucessos, mas o que aí vem tem a chama da incerteza, do conflito e da frustração.
Falo especificamente do novo ano que se avizinha, 2012... Desejo a todos passos seguros (gostaram do trocadilho com os nomes do actual primeiro-ministro e do líder do PS?), mas sem medo do risco de tropeçar nas pedras da calçada, porque só tropeça quem anda... a todos um feliz e próspero Ano Novo!
Porque não sou poeta, deixo-vos a tradução perfeita do que acabei de dizer, escrita por um génio das  palavras: José Régio.

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Lamento de Natal

Lamento com 'sôdade' a morte de Cesária Évora, lamento a morte de Vaclav Havel, revolucionário democrata e político de moral superior, lamento pelo povo da Coreia do Norte, que vai continuar  a ter um Kim a reger aquela ditadura Estalinista (aliás, acredito que seja por isso que choram, para não falar das 'carpideiras' pagas com medo, histeria e pânico), lamento...
Lamento que o meu governo acredite que a solução para o desemprego esteja na precariedade, na austeridade, na inconstitucionalidade, na escravidão, na desbaratização (tenho a sensação que esta palavra não existe, e se existe devia pagar imposto), na desmoralização e na emigração... na desregulamentação e discricionariedade (outra que devia pagar imposto) do despedimento, no corte das indemnizações, no alargamento do horário de trabalho, no corte de feriados e férias (aliás, é curioso notar como as principais centrais sindicais e de patrões se uniram contra o ministro da economia e abandonaram a concertação social neste capítulo, é no mínimo inédito), lamento... que queiram vender o país aos chineses, aos alemães e aos angolanos, que sejam mais troikistas que a troika, que não vejam para lá de 2015, que não saibam que sem crescimento não há dívida que possa ser paga, que não cortem nas verdadeiras gorduras mas nos tirem a pele, lamento...

P.S. - Apesar de tudo, a todos um Bom Natal!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Emigrar para a Rússia

A Rússia continua a ser gerida por caciques e senhores feudais, numa promiscuidade entre política e interesses económicos; uma rede de governadores regionais, comités em escolas e fábricas para controlar os trabalhadores, ao melhor estilo do pior que havia no auge do comunismo. Se aliarmos a isto, milhares de relatos de fraude eleitoral nas últimas eleições, sempre em benefício do partido do poder de Putin, o Rússia Unida, e uma  corrupção a toda a escala das empresas estatais dominadas por 'boys' nomeados, marionetas de Putin, podemos afirmar que a Rússia continua com vícios antigos, e que de democracia apenas tem o nome. Se outra coisa não o denunciasse, a dança de cadeiras entre o primeiro-ministro Medvedev e o presidente Putin, que em última análise permitirá a este manter-se no poder por mais 12 anos, não deixa margem para dúvidas da falta de transparência e corrosão do sistema. O populismo de Putin, sempre perigoso, ao nível de outros que por aí grassam e prosperam, chega ao cúmulo de pôr em causa o tratado de redução de armas estratégicas assinado com os EUA, numa lógica nacionalista de angariação de votos.
No nosso país, que ainda é uma democracia (last time i checked), Passos Coelho aconselhou os docentes desempregados a emigrar, porque este país não é para velhos, nem para novos, nem para reformados, e muito menos para desempregados... Se Sócrates pintava o país de rosa, o actual primeiro-ministro apunhala-o pelas costas sempre que pode... Já agora aproveita-se o embalo e deportam-se os restantes desempregados, trabalhadores precários, beneficiários do SNS e do RSI, as putas e os reclusos, os imigrantes e todos os que não dão jeitinho nenhum... para a Rússia talvez Sr. primeiro-ministro?


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Colossal

Miguel Relvas foi a Moçambique participar na colossal inauguração de mais um canal público de televisão daquele país. Logo ele, que quer 'alienar' um canal da RTP, quase como um objectivo de vida, incansável, persistente e colossal. Podia ter enviado a Assunção Cristas, que como não percebe nada de agricultura, ambiente ou ordenamento do território, pelo que também não tem feito, não ficava tão mal na fotografia.
Ainda Miguel Relvas, em entrevista ao 'Expresso' do passado fim-de-semana, onde entre outras coisas, diz que "o governo não tem plano B, ou acerta ou falha"... Espero que alguém pense nisso de uma maneira menos leviana , porque o plano A não está a correr nada bem...
E afinal, o desvio colossal nas contas públicas transformou-se em 6 meses numa folga colossal, e a intrujice é ainda mais colossal...
Paulo Macedo resolveu substituir os gestores hospitalares por boys do PSD e subir de modo colossal as taxas moderadoras, 'só' mais 100%...
Definitivamente, o plano A do governo tem um desvio colossal, principalmente em comparação com o que se dizia/prometia há 6 meses...


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Europa adiada do euro 2012

A Europa outra vez adiada... Desta vez sem a participação do Reino Unido, que também não tem euro nem Shengen, portanto nada de estranhar. O Reino Unido se fica de fora em quase tudo, é uma ilha que não nos interessa. A sua mira está do outro lado do Atlântico, e só se vira para o continente, quando lhe dá jeito, como nas invasões napoleónicas ou na II Grande Guerra. Os alvos eram sempre os ódios de estimação a franceses e alemães, numa Europa com demasiados séculos de história para se poder, de uma penada, unir o que o tempo sempre separou. De facto, é até de estranhar a pretensa parceria franco-alemã.
O acordo alcançado na passada sexta-feira não passa de um adiamento que pode também ficar adiado. As revisões constitucionais limitativas do défice e da dívida pública de cada país, fiscalizadas pelo Tribunal Europeu de Justiça, e com castigos imediatos para futuros prevaricadores, não serão partos fáceis de gerir nos parlamentos nacionais. Porque traduzem a maior perda de soberania até hoje realizada, sem a garantia de qual o passo a dar a seguir. E porque não é um processo que se possa realizar em dois meses. O PS de Seguro não está totalmente convencido, até porque, quem garante que Alemanha e França, que foram os primeiros a violar o pacto de estabilidade, serão castigados como os outros, se ultrapassarem as metas do défice? E as suas contas, serão escrutinadas e previamente aprovadas, como as dos seus parceiros?
Com tudo isto, as agências de notação Moody's e Standard & Poor´s, já ameaçaram baixar o nível de 15 países da UE, bem como o seu fundo de estabilização, e continuam assim a fazer política impunemente, sem que ninguém os tenha eleito.
Esta continua a ser uma Europa sem estratégia e adiada. A única saída neste momento é uma integração fiscal a sério. É tempo de se perguntar se queremos mesmo uma União, com as necessárias perdas de soberania, em passo alargado para o federalismo, ou se queremos continuar a entreter-nos como bons amigos que se juntam de vez em quando para beber uns copos... Ou o federalismo e o euro era só a brincar? Definam-se de uma vez por todas...
2012 será o ano do euro, da moeda, da União, e também de futebol, mas deviam reformular os grupos já sorteados, assim como que uma adjudicação directa, pondo no mesmo grupo Alemanha, França e Inglaterra, noutro grupo podia ficar Portugal, Irlanda e Grécia, noutro juntava-se a Itália com a Espanha e no último o Pai Natal, o coelhinho, o comboio e o circo, para a palhaçada ficar completa.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cuidado com os cães

As cúpulas que dominam a política e a economia de mercado, são por estes dias uma espécie de oligarquia. Reinam à vontade protegidos pelo sistema. A verdade é que tudo tem um preço, e se não for mais alto ou mais baixo, alguém há-de ter um almoço de borla. A política protege a economia, desregulando e afastando o Estado dos centros decisores. Dá liberdade e margem de manobra para as engenharias financeiras poderem operar sem a fiscalização que impediria a agiotagem, especulação e fraude a que se assiste diariamente, e através das privatizações dá de barato os seus centros de decisão e de riqueza, para que outros possam entrar num mercado que antes era uma miragem. A economia devolve os favores com 'luvas', empregos remunerados ao nível de um jogador do Real Madrid (em empresas privadas com capitais públicos ou públicas com capitais privados), e participação em negócios, directa ou indirectamente, com lucro garantido. Assim numa espécie de limbo apaziguador de consciências mais afoitas. Os princípios e valores são os que se vendem nos canais de comunicação social que todos eles controlam, directa ou indirectamente. A justiça é feita ao som do clarim mediático, fazedor de opiniões, de inocentes e de culpados.
A Europa segue ao mesmo ritmo, dominada por conceitos ideológicos de 'troikistas' (não confundir com 'trotskistas') e alemães e franceses com saudades imperiais. Os EUA são os oligarcas por natureza, e onde todos aprenderam a conjugar o verbo especular. A China, o Brasil e Angola estão-se a marimbar para o assunto (até porque só um deles é uma democracia), e compram ao desbarato, já sem vergonha de dizer que querem 'entrar' na Europa.
A oligarquia é um sistema em que o poder político está concentrado num pequeno grupo de pessoas ligadas por laços familiares, empresariais ou de influências. Quando se fala em Estados a oligarquia assume o nome de imperialismo. Austeridade é o nome que se dá à garantia pela qual este grupo continuará a governar. Procurem exemplos por aí, e se conseguirem identificar pelo menos 10 em menos de 30 segundos é porque se calhar a democracia que conhecemos já está subvertida e prestes a ser enterrada...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

5 à Sec

Afinal os 2 mil milhões de euros que Passos Coelho diz ter 'a mais' vêm do fundo de pensões da banca e servirá para pagar dívidas do SNS... Será?
Afinal o estripador de Lisboa diz que não é o estripador de Lisboa, segundo uma investigação jornalística à investigação jornalística, tudo não passou de uma brincadeira... Será?
Afinal havia agentes da PSP infiltrados na manifestação de 24 de Novembro com o intuito de provocar quem lá estava pacificamente. O director nacional da PSP diz que ainda vamos ver pior, ao estilo de um Estado policial de outras épocas... Será?
Afinal Duarte Lima também tem negócios obscuros de milhões de euros com o BPN, para 'matar' saudades de Dias Loureiro e companhia ilimitada... Será?
Afinal a família de Sócrates tem um offshore que movimenta milhões de euros... Será?
Afinal a TAP foi considerada a melhor companhia aérea da Europa, por isso é que nos queremos ver livres dela, vendendo os anéis e cortando os dedos... Será?
Afinal Américo Amorim, um simples trabalhador, deve ao fisco 750 mil euros, em viagens dos netos, massagens e cintos de crocodilo, que por 'lapso' foram debitadas na Amorim Holding 2... Será?

Conheço uma empresa (passo a publicidade) que talvez ajudasse na 'roupa suja'...


domingo, 4 de dezembro de 2011

A Europa da austeridade

Mais um Conselho Europeu marcado para o próximo fim de semana. Desta vez, e após as recentes declarações de Merkel estamos perante a iminência de uma união fiscal total.
Portugal teria muito mais a ganhar com a emissão imediata dos 'eurobonds' ou com a transformação do BCE num banco central normal. Ambas as medidas ajudariam num mais rápido e eficaz combate à crise da dívida soberana. Enquanto ela for soberana. A alavancagem daí resultante permitiria que a nossa, como outras dívidas pudessem ser protegidas dos ataques externos dos mercados mais pessimistas e impacientes, por assim dizer. A emissão de moeda por um banco central europeu, ou a emissão de títulos de dívida subscritos por todos os membros do euro permitiria refrear qualquer especulação e credibilizar uma moeda catatónica, vítima de agiotas e da falta de coragem dos líderes medíocres que era suposto protegerem-na.
O BCE teme a inflação e os tratados actuais não permitem que salve um país membro, reduzindo a sua actuação à compra de dívida nos mercados secundários, e a Alemanha teme a bancarrota e a sistematização da falta de responsabilidade dos países prevaricadores. Assim sendo, propõe a união fiscal, e a alteração dos tratados, em troca de castigar com mais austeridade os países que já têm a corda na garganta. Pode ser a solução a longo prazo, pode ser que nos consiga manter no euro, trará mais integração europeia, mas a violência a que nos sujeita nos próximos anos, e que não serão 3 ou 4, causará convulsões de resultado imprevisível, assim como a necessária perda de soberania e a redução do Estado social, na saúde, justiça e educação a meros serviços de gestão, sem qualidade, sem profissionais e sem motivação. Tudo isto num contexto de desemprego e recessão endémica.
Passos Coelho que não tem ideia nenhuma sobre a Europa, faz a vénia a Merkel, como um súbdito bem comportado. Aliás, convém lembrar a sua recente entrevista, em que afirma haver 2 mil milhões de euros para injectar na economia. Como? Não sabemos. Será esta a folga orçamental de que falava Seguro? Será este o dinheiro tirado aos funcionários públicos e aos pensionistas, que agora vai ser dado a empresários para gastar, ninguém sabe como? É que os pensionistas e os funcionários públicos utilizam o dinheiro em consumo, qualquer economista sabe isso, e necessariamente ele irá parar ao comércio e à indústria. Assim, ficamos sem saber. Mas sabemos como funcionam os empréstimos a empresários menos escrupulosos. À semelhança da Grécia e da Itália, ainda vou ver o tecnocrata Vítor Gaspar a substituir Passos Coelho como Primeiro-Ministro, sem recurso a eleições, para garantir que as medidas liberais são bem aplicadas e que a austeridade é só para alguns. Passos Coelho na mesma entrevista já nos avisou que vem aí mais. Mais meia-hora de trabalho escravo, mais desigualdades, mais cortes onde não se deve, mais populismo em que este governo é doutorado, ao estilo da rábula das gravatas, da Vespa que o Ministro da Segurança Social trocou por um Audi de 86 mil euros, do amarfanhar do fundo de pensões da banca, numa engenharia financeira de controlo do défice que tanto criticaram no passado mais recente e dos vôos em económica que João Jardim manda às malvas do alto da sua gabarolice. Estou farto...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Em nome do Fado

Em nome do fado, eleito recentemente pela UNESCO, Património imaterial da Humanidade (repitam para vós mesmos as últimas 4 palavras! e reflictam, nem que seja por 10 segundos o que isso poderá significar), mesmo para quem não goste, deixo-vos um dos meus preferidos... Samaritana.



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Chamem a polícia!

Confesso que me passou um bocado ao lado o mais recente 'derby' lisboeta. Não por qualquer menosprezo de portista orgulhoso, mas porque uma pessoa de 80 cm, 14 kg e 1 ano de idade me mereceu mais atenção. Ele também faz por isso e eu gosto. Tanto assim foi, que apenas domingo me apercebi de  um suposto incêndio nas bancadas do estádio da luz. Vi e revi as imagens e verifiquei que assim era. Enormes labaredas brotavam das últimas filas de uma das bancadas. Reparei no entanto, e mais aliviado, que todas as 'galinhas' já se tinham ido embora e portanto os danos eram só no 'galinheiro'. Felizmente ainda havia luz para os bombeiros.
Só no dia de hoje vi a conferência de imprensa dada após o jogo pelo João Gabriel, e corrijam-me se estiver errado,  que é director de comunicação do SLB... O meu espanto foi total, pois o verdadeiro 'incendiário' estava ali à vista de todos, sobretudo após a referência de muito mau gosto ao fosso de alvalade.
Quando julgava que tudo estava mais ou menos 'apagado', aparece Godinho Lopes com mais um caso no túnel da luz e no acesso aos balneários. Desta vez as acusações pendem sobre Vieira. O túnel... pois!
Pinto da Costa terá insultado e um segurança terá agredido um jornalista da TVI após o jogo do FCPorto com o Braga. Não me revejo em nenhumas das situações aqui apontadas, mas se o jornalista foi o mesmo que relatou o jogo, tenho uma confissão a fazer, fartei-me de o insultar, tal a parcialidade, tanto azedume (suponho que o resultado não lhe agradava) e falta de profissionalismo.
Casos de polícia...?


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Por falar em Constituição

Estava a ver as imagens da manifestação em frente à Assembleia da República quando fui surpreendido por uma 'indignada' que frequenta o ensino secundário. E logo tentei perceber as razões que poderiam levar a miúda a mostrar-se tão indignada. Provavelmente se lhe perguntassem não saberia indicar nenhuma. Mas a sua boa vontade ilustra bem a confusão que grassa por aí. Faz-me lembrar a manifestação que houve na minha altura do secundário, feita pelos colegas mais velhos contra a defunta PGA. Eu também me juntei a eles, mas não sabia porquê. A inocência ou a ânsia de querer participar não pode, nem deve, ser levada a mal. O que é de criticar é o aproveitamento que se faz de determinadas conotações. A contestação social é até salutar, desde que as fronteiras da legalidade não sejam ultrapassadas. A manifestação e a greve são direitos garantidos na nossa Constituição e de qualquer Estado de Direito que se preze. Fala-se do 'timing' da greve geral. Que este não seria o momento para a convocar. Que se perde muito dinheiro com a greve. Que pode degenerar em tumultos. Alto e pára o baile! A greve é contra a austeridade. A austeridade está aí agora. É contra o desemprego, que também veio para ficar. Perde-se muito mais dinheiro com certas empresas públicas e negócios mais ou menos públicos. E se houver tumultos, os responsáveis serão punidos porque ainda não crescem bananas no nosso quintal. A falsa premissa do medo de tumultos, não pode ser usada como argumento contra o direito inalienável de manifestação ou de greve. Tal como os professores, apesar de há época não concordar com as suas reivindicações.
E por falar em Constituição, que dizer da medida aprovada na Assembleia Regional da Madeira, que permite que 1 deputado do PSD local possa votar por 25? Hum... Manifestação? Tumultos? Neste caso a desobediência civil podia ser necessária para repor a legalidade duma forma encapotada de ditadura. A nossa sorte é ainda termos um Tribunal Constitucional independente do poder político. Acho curioso, no entanto, que isto tenha passado ao de leve na vasta trupe de comentaristas e 'opinion makers'.
E por falar em Constituição, que dizer da mais que provável eliminação de alguns feriados? Bom... Se for nos feriados que está todo o mal da nossa economia, então a solução é acabar com todos. Se não está ou se acham que é só um bocadinho, então eliminem os católicos porque esses são inconstitucionais. Sim, a nossa Constituição diz que o Estado Português é um Estado laico, portanto acabem com a Páscoa que calha sempre ao Domingo, acabem com o Natal (perdoem-me a blasfémia) porque dia 24 de Dezembro há sempre tolerância de ponto e na sua génese está uma celebração pagã, e os residentes em Portugal (portugueses ou não) que não são católicos não têm direito aos feriados das suas crenças. Mas pelo amor da santa, não me tirem o 25 de Abril, nem o 1º de Maio ou o 5 de Outubro. Há coisas que devem ser relembradas, para não serem esquecidas...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Proibido virar à esquerda

Em Espanha a direita está em estado de graça. Tal como cá, chegou ao poder com maioria, castigando a esquerda que lá esteve. Na Alemanha, na França e na Itália a direita sairá do poder assim que houver eleições. A não ser que se substituam os líderes por tecnocratas de cartilha e pasta na mão. Já aconteceu  na Itália. A crise agora também é da democracia.
A esquerda que estava no poder não soube atacar o problema da desregulação financeira, cozinhada desde os anos setenta. Não conseguiu enfrentar o poder económico instalado. Desistiu do contrato social em nome da especulação e da economia de casino, que substituiu a de mercado. Alavancados no eixo franco-alemão, a esquerda democrata soçobrou perante as exigências e a chantagem de quem verdadeiramente usa e abusa do poder político. E quando a direita populista está no poder e existe o perigo de ser substituída, encontra-se a tal solução de substituição tecnocrata, sem que o povo tenha direito a escolher o seu futuro. É que assim, estes 'encartados' vão poder assegurar que se paguem as dívidas, e já agora com juros a contento. O contribuinte é como o mexilhão, no fim é ele que se lixa. A esquerda tem que encontrar novas vias de se impor pelas ideias e sobretudo pela coragem de tomar medidas justas e equitativas, não desprezando o capital, mas não deixando que seja este a comandar as linhas de orientação da justiça e da igualdade. Se assim não suceder, o Povo não confia na esquerda. Os resultados estão à vista. A esquerda deixou-se adormecer e quando quis acordar já era tarde. Quando começou o ataque liberal, a única via foi aumentar a despesa e a resposta pôs em crise toda uma esquerda definhada, conformada e ultrapassada por uma agenda de ataque ao euro e à bolsa dos contribuintes. Não é por acaso que a agulha liberal tomou conta dos novos governos da Europa. A especulação e o capital de risco, comandados pelos mesmos gestores do Lehman Brothers e afins, influenciam assim com a sua 'mão invisível' os novos governos da direita liberal europeia. Os mesmos que coincidentemente, ou talvez não, foram os principais responsáveis pela crise internacional. Os mesmos que se apoderaram da banca e das famigeradas agências de rating. Veja-se a negociata que o nosso governo está a preparar com Angola para tomar conta do BCP.
Mário Soares disse recentemente que a democracia pode estar em causa. Assunção Esteves afirmou que é chegada a altura de o poder político assumir o papel central que perdeu para o poder económico. Ângela Merkel disse na semana passada que é necessário que a Europa reveja os seus Tratados com vista a uma real união económica. Será que finalmente se começam a despertar consciências?
No nosso burgo, Passos Coelho continua amarrado ao ideal que lhe venderam na feira da ladra, e depois de tentar despachar os 'imprestáveis'  Magalhães ao México e à Venezuela (sim, a do Chávez), tenta agora vender as nossas empresas a Angola. Se o nosso crédito é pouco, temo que se o ardil for para a frente, a nossa 'escassa' reputação não passará de um pântano onde se mergulha de tanga... A fama lamacenta de um país feito de capitais obscuros, mergulhará no lodo o resto da reputação que nos resta. Ao mesmo tempo, soube-se ontem que há um erro no Orçamento para 2012 e teremos que dar mais dinheiro à Madeira. O Alberto João veio ao Continente às compras e saiu com um vale postal de uma correcção nas contas e um brinde para poder gastar 3 milhões de euros em iluminações de Natal e queimar em fogo de artifício. Que linda é a Madeira!!!

Post Scriptum - Os 'Gatos Fedorentos' andam distraídos a embolsar uns milhares à pala da PT, e deixam para trás uma oportunidade única de fazer humor inteligente e histórico com fontes inesgotáveis todos os dias...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

FMI

Em 1982!!!, era assim...





"o FMI é só um pretexto vosso, seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora" FMI, José Mário Branco


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Vozes de burro não chegam ao céu

Manuel Pinho anunciou o fim da crise... depois desmentiu-se, simulou um par de cornos na AR e demitiu-se... é esta a história de um dos ex-Ministros da Economia em Portugal.
O Álvaro (como gosta de ser tratado), Ministro da Economia, dos Transportes, Obras públicas, Energia e Turismo, como só às segundas-feiras é que trata da economia, resolveu também ele anunciar o fim da crise para 2012, quando se sabe que vai ser o ano mais recessivo em Portugal desde que vivemos em democracia... Eu até percebo que ele se queira ver livre da economia, coitado, com tanto que fazer, a economia é mesmo uma chatice, uma pedra no sapato.
Seguindo os passos de Pinho também já se desmentiu... vamos ver se não troca o par de cornos de Pinho por um par de orelhas de burro e se põe de costas no fundo da sala, porque alguém que é Ministro de uma das mais importantes pastas dos tempos em que vivemos, numa das maiores crises nacionais e internacionais de sempre, num ano de cortes, desemprego e de recessão profunda, e que copia o mesmo erro colossal de um seu antecessor, ou é burro ou é incompetente... Seja como for, "Você é o elo mais fraco...Adeus!"


domingo, 13 de novembro de 2011

'Trust' é um fundo financeiro

Os liberais já não confiam nos 'amigos', nem neles próprios. Os europeus desconfiam uns dos outros e já se fala à boca cheia de exclusões mais ou menos autoinfligidas, e até de divisões por categorias 'cozinhadas' pelo eixo franco-alemão. Assim, como uma espécie de lª e 2ª divisões ao melhor estilo do 'futebolês'. Uma para os bem comportados, e outra para os mais fracos, sem recursos para poderem subir de divisão, que jogam em campos emprestados e austerizados pelos primo-divisionários, que se esquecem que precisam deles para enriquecer. Até os mercados obrigaram 'Il Cavalieri' a sair de cena. O patrão dos patrões, o populista, o mestre da propaganda. Com amigos destes...
'Eurobonds' ou a mera possibilidade de o BCE poder comprar dívida pública dos seus membros são soluções adiantadas por muitos como as mais razoáveis e eficazes medidas para salvar o euro. A França e a Alemanha não estão interessadas. Os outros deixam. Nós também...
Por cá a banca apanhou-se sem investidores e vai agora ser recapitalizada, através de uma entrada do Estado nos respectivos capitais, com a contrapartida de ter que pagar o que pedir no espaço de três anos, sob pena de ser nacionalizada parcialmente. É assim como que uma 'golden share' suspensiva, em que o Estado pode controlar como é gasto o dinheiro, nomeadamente, nas linhas de crédito para as PME's. O conceito é bom e poderá ser a forma mais eficaz de fiscalização e de assegurar que o Estado não empresta a fundo perdido o dinheiro dos contribuintes. É curioso no entanto, observar como o mesmo Governo que acabou com as 'golden shares', apesar de a isso não ser obrigado, agora, e porque não confia na banca, utiliza um expediente semelhante para a controlar. O mesmo Governo que quer vender o 'país' ao desbarato. O mais liberal de sempre. Curioso e muito irónico.
Passos Coelho falou num ajustamento da dívida... Possivelmente estender o prazo para mais um ou dois anos... Há seis meses era impensável, mas agora a realidade caiu~lhe em cima da cabeça. Bastou, contudo, Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, aterrar em Lisboa na quarta-feira e dizer que Portugal não precisa de mais dinheiro, nem de qualquer reajustamento. Passos Coelho concordou de imediato, porque sabe que ninguém confia em nós.
Confiar é um verbo que não pode ser conjugado com mercado, ou com capital.
Ainda por cá, Miguel Relvas, andou três dias a entreter o menino de coro do PS (A. J. Seguro), com a hipotética almofada dos 900 milhões de euros, e com a esperança de poder devolver um subsídio aos funcionários públicos e aos reformados. Seguro devia ter votado contra o OE. Não por causa da travessura de Miguel Relvas, mas porque estas medidas e muitas outras não estão no memorando que o PS também assinou com a Troika. Porque este Orçamento é restritivo e vai destruir a nossa economia. Porque é injusto e ataca quem trabalha. Porque é irrealista e cego. Apesar de termos pouca margem de manobra, ela existe, como se viu com a Taxa Social Única. Confiou e foi enganado. Pena é que durante três dias houve alguma esperança para muita gente, que depois saiu frustrada. 'Trust' é um fundo financeiro e não passa disso mesmo. A confiança é uma coisa que não lhes assiste.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Anonymous

Os Indignados estão a organizar-se... Por essa Europa fora grupos de jovens ou nem tanto protestam contra a falta de emprego e sobretudo contra a falta de ética dos que governam e se governam... A má redistribuição da austeridade bem assim como a sua ascensão meteórica, numa espiral cíclica de recessão, austeridade, mais recessão, mais austeridade, que qualquer estudante mediano de economia percebe que é um fim em si mesmo. Uma austeridade que não serve para redistribuir riqueza, essa sim a verdadeira função dos impostos ou do seu eventual aumento, mas antes para recapitalizar a banca que andou décadas a burlar clientes e a vender empréstimos quase coagidos. Sem crescimento não haverá como pagar dívidas, até porque para este ano Portugal já vai ultrapassar os 100% de endividamento em relação ao PIB, ou seja, devendo mais que aquilo que conseguimos produzir, a austeridade recessiva cíclica levará a uma diminuição do que produzimos e consequentemente a um aumento da dívida. Alguém fez esta semana as contas e só em juros pagaremos 35 mil milhões de euros à Troika. Sempre foi um bom negócio emprestar dinheiro. Deixo só mais um alerta para o que se está a preparar nos bastidores no sector dos transportes, e que é uma privatização encapotada desses serviços públicos essenciais, em mais PPP's que irão beneficiar dois ou três grupos económicos e desfavorecer a todos no geral. Não sou só eu que o digo, o caminho que estamos a trilhar é um daqueles atalhos que só vão trazer trabalhos.
Voltando aos Indignados, apenas para dizer que apesar de não terem uma ideologia comum e linhas gerais universais (de esquerda maioritariamente), isso não pode ser uma causa de menosprezo, porque para além de serem cada vez mais, a sua luta encontra eco na maioria da população, inclusive nos EUA, coisa impensável há uns anos. Para já são pacíficos, e muitos grupos estão espalhados por fóruns na internet, mas alguns como os Anonymous, hackers que lutam pela liberdade de informação e de expressão, com grande intervenção na Primavera Árabe, são anárquicos e cada vez mais organizados... Há quem defenda que serão o próximo Wikileaks, numa escala maior e sem rostos visíveis, com todo o perigo  que daí pode advir, de consciências menos lúcidas ou mais intranquilas. Aliás, a máscara que se vai vendo por todas as manifestações e ocupações de praças, que é a da imagem, é inspirada no anárquico Guy Faukes, e celebrizada no filme V for Vendetta, que por sua vez se baseou na banda desenhada em que um misterioso anárquico tenta destruir o Estado fascista e totalitário ao estilo do de George Orwell em 1984.
Mas, quem não pode deixar de se indignar, ao olhar para o eixo imperial Franco-Alemão, ao assistir ao populismo e à manipulação de Berlusconi, à austeridade como um fim e não como um meio, ainda por cima mal distribuída, ao continuar do fartar-vilanagem nas empresas públicas e nas PPP's, ao assistir à desmontagem ao desbarato do Estado Social, quando o contrário é que seria exigível, ao empobrecimento e insegurança dos trabalhadores por conta de outrem e ao gozo da tolerância de ponto na Madeira e de uma suposta guerra de almofadas no Parlamento para capitalizar simpatias e votos.
Indignem-se pois anónimos...

domingo, 6 de novembro de 2011

Merkozy

"Manda quem paga", a frase de Manuela Ferreira Leite numa célebre sessão da AR nunca esteve tão actual como agora. A Europa que se queria unida foi dotada ao longo dos tempos de centros de decisão, com directivas supostamente comunitárias de integração imediata no ordenamento jurídico dos países membros. 
Parlamento Europeu, Comissão Europeia e Conselho Europeu foram substituídos pela dupla Merkozy, num golpe palaciano silencioso e consentido por todos.
Até rebentar a crise e o capital começar a arder, quais ratos de porão, as soluções convulsas e a conta-gotas adiaram e continuam a adiar a Europa. Sarkozy e Merkel pegaram nas rédeas e mandaram à fava Tratados e Acordos sempre a reboque e sempre calculistas. "Nós pagamos, portanto a democracia vai ter que esperar." É caso para trazer à liça mais uma célebre tirada da mesma Manuela, que apregoava a suspensão da democracia por seis meses. Quando é que o 'acto' de pagar passou a significar 'ditadura bipartida, camuflada de real interesse em resolver a crise?
Um pouco de história só para lembrar de que é estamos a falar. Falamos da Alemanha que só agora acabou de pagar a dívida da 1ª Guerra Mundial, com variados planos de empréstimos, diluídos no tempo, adiados, suspensos e perdoados em muitos milhões. Só do Plano Marshall receberam 1400 milhões de euros nos anos cinquenta. Inflacionando para os tempos de hoje, daria certamente umas dez vezes mais que a ajuda que falta à Grécia.  A Alemanha destruiu a Europa duas vezes no último século... A solidariedade e a ajuda não pode ter um só sentido... A falta de visão é só para fora, porque internamente, Merkel preocupa-se e muito com as eleições e com aquilo que pensam dela os seus contribuintes. Talvez por isso tenha somado derrota atrás de derrota nas eleições regionais.
A Europa nunca pensou a fundo o seu modelo, com uma moeda única sem a preocupação da igualdade fiscal entre membros e consequentemente sem os necessários instrumentos indispensáveis para a sustentar. Com uma relação de forças desequilibrada, instituições iníquas e a troca dos seus valores civilizacionais por uma visão globalizada e monetarista, vendendo-se aos chineses por um punhado de euros.
A crise na Europa é sistémica, endémica, de fraco crescimento, falta de solidariedade e sobretudo de liderança. Mas nem só a Alemanha  e a França são culpadas... Poucos haverão que não tenham a sua dose de culpa. A começar por nós próprios que nos deixamos mercantilizar, e vendemos os nossos valores pela melhor oferta.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Verdades inconvenientes

A verdade inconveniente é aquela que todos sabemos, ou pensamos que sabemos, mas ninguém tem coragem de dizer. Ou porque não queremos ferir susceptibilidades (como gosto desta expressão!), ou porque temos medo das consequências (principalmente se só nós é que sabemos a verdade) e daquilo que possam ficar a pensar sobre nós. Daí a verdade ser muitas vezes inconveniente. Hoje escrevo com a noção de que poderei ser inconveniente.
1- A esperteza saloia que Papandreou utilizou para agradar a gregos e troianos, é um erro brutal e suicida. É de uma irresponsabilidade sem precedentes. É pôr nas mãos dos gregos a decisão de empobrecer sustentadamente ou empobrecer até atingir o nível de um país africano de terceiro mundo. Papandreou lavou as mãos como Pilatos. Tem a virtude de enfrentar os gregos com a realidade. Mas fica a pergunta: porque não houve referendo aquando do primeiro pedido de ajuda externa e só aparece agora que ele é mais fundamental que nunca? A democracia não se compadece com a escolha dos momentos mais oportunos. É que se a Grécia disser que não à pergunta não deixa de ficar a dever dinheiro. Muito pelo contrário. A falência ficará garantida. E a democracia será garantida após isso?
2- Os EUA são chantagistas e anti-democratas. A visão de povo humanitário esfumou-se com Bush e foi banida dos anais da história com o 'flop' Obama. A decisão de cortar o financiamento que davam à UNESCO apenas porque 107 países votaram a favor da entrada como membro nesse organismo da Autoridade Palestiniana, contra apenas 14 votos contra, é um acto chantagista e anti-democrata. Mas não se coibiram através da NATO de financiar a guerra contra Kadhafi, de quem eram amigos, inimigos, amigos, etc., consoante mudava de mãos o poder sobre o ouro negro. Eles e nós que também fazemos parte dessa corja.
3- Kadhafi morreu como matou. Mas a linha que separa quem mata e quem morre está na diferença como mata. O povo líbio não fez justiça a si próprio. A sua libertação não devia ter ficado manchada como ficou. O resto é mais pacífico. Seja em democracia ou em tirania, EUA, Inglaterra e França assegurarão com certeza os seus interesses, e o povo líbio logo se verá. Afinal Kadhafi também foi amigo muito tempo. A prova ficou em muitos bancos por essa Europa fora, incluindo o nosso banco público. Milhões roubados ao povo líbio com a cobertura dos agiotas do costume.
4- Paulo Portas é para mim o melhor ministro deste governo. (ponto!) Gostava de saber o que pensam os arautos da verdade, os defensores da honestidade sobre o facto de o nosso MNE andar a vender computadores Magalhães ao Hugo Chávez. Basta enviarem-me o que escreveram ou disseram quando era Sócrates a fazê-lo. Depois eu julgo a coerência...
5- A igreja veio criticar a cópia portuguesa do 'Código Da Vinci' de Dan Brown, escrita por José Rodrigues dos Santos. Tirando o pormenor de alguma falta de originalidade do autor português, existirá ainda alguém com dois dedos de testa e menos de 60 anos, que acredite em todas!? as patranhas que a igreja nos quer impingir? Mesmo depois de séculos de desmentidos, de escândalos e de mortes em nome da cruz de Cristo?

Espero ter sido muito inconveniente...


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um aperto de direita

O dogma do primado do mercado é finalmente posto em causa pela própria direita. A austeridade a qualquer preço, que representará em 2012 uma recessão de 2,6%, só a mais alta desde que vivemos em democracia e uma taxa de desemprego recorde de 13%, num pacote bem embrulhado de cortes de salários, reformas e subsídios. Um esbulho que irá custar entre 40% a 50% do rendimento disponível até 2013. Um radicalismo cego contra todos os avisos, incluido o de Cavaco, que agora é criticado quando antes era aplaudido. Porque é que o nosso plano de ajustamento não pode ir até 2015, como o da Irlanda?
A estratégia falaciosa da austeridade, com o consequente crescimento das desigualdades sociais, não leva a mais eficiência, mas a uma desagregação que seria catastrófica. Não quero parecer demasiado pessimista, mas o caminho que isto segue é o da destruição completa da nossa economia.
A direita mundial, após o fracasso do 'mercado livre', começa agora a reconhecer a importância do Estado-providência, mais intervencionista, moderador de desigualdades e zelador das igualdades. O dogma de que todos podíamos enriquecer pelo risco e pelo capital, tornou-se a quinta das galinhas dos ovos de ouro para meia dúzia de empresários e especuladores. Está à vista de todos que só alguns enriqueceram, e só esses poderão enriquecer ainda mais. Os outros que se seguem, são afilhados e protegidos pelo sistema. Os que sobram são contribuintes e indigentes. Os que pagam para que tudo fique na mesma.
A esquerda moderada não quer acabar com o capitalismo, não quer um socialismo soviético, quer um capitalismo com regras. A direita começa a reconhecer que um capitalismo selvagem sem regras, caminha a passos largos para a sua derrota.
O populismo do discurso liberal, é aproveitado pelos poderosos para manterem os seus privilégios. Se se fala na falta de fiscalização para pôr ou tirar uma dúzia de rendimentos sociais de inserção, já aos salários e mordomias de políticos e empresários salafrários, escrutinados todos os dias, nada acontece. E a diferença entre uns e outros é de milhões de euros no que aos cofres públicos concerne. Como me dizia um amigo meu, nem 8 nem 80.
A diferença está pois no que o sistema político faz assim que chega ao poder. Entre a esquerda e a direita, ainda ninguém conseguiu governar contra o grande capital, que oferece empregos de administração pagos principescamente a quem sai do governo e deu uma mãozinha. Note-se que o capital e o património continuam a não ser tributados à medida da subida dos impostos sobre o rendimento e o consumo.
Tanta falta de visão, tanta austeridade suicida, tantos cortes, uma desvalorização salarial fortíssima, acompanhada de facilitismo de despedimentos e quebras de investimento e de consumo como não se viam desde os anos 80, e teremos uma economia competitiva do género da China na Europa, mas só à base de mão-de-obra barata e de um Estado pequenino, sem centros de decisão e vendido pela oferta mais baixa a quem quiser comprar.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

O combate do século

Pedro Passos Coelho é um desportista fantástico, um atleta profissional de alto gabarito, com uma direita poderosa e um estilo moderno e liberal, não é nada fácil de derrubar. O boxe que pratica é de alto rigor técnico, transformando-o num dos melhores da actualidade na sua categoria.
Aliado a isso, ter como agente Miguel Relvas, que lhe assegura uma estratégia de combates mais ou menos fáceis, intercalados com um ou outro do seu nível, permitiram-lhe assegurar a posição de imbatível nos dois últimos anos. O treinador, Ângelo Correia, é uma raposa velha, habituado à lide, ex-boxeador e levou o seu pupilo ao colo até ser o primeiro. O saco que utiliza é da marca Vítor Gaspar. Muito resistente e maleável.
No combate com Ferreira Leite, Passos nem precisou de 2 rounds, basicamente a estratégia do seu agente e do seu treinador garantiram-lhe a vitória.
O combate com Sócrates, foi o mais difícil da carreira até ao momento, mas mais uma vez a estratégia dos seus homens-sombra foi fundamental. Negaram a Sócrates o combate até este estar desgastado... Deixaram que Sócrates combatesse primeiro com os canhotos, Jerónimo e Louçã. Aproveitando o momento, num combate assente em falsas premissas (o combate ficou para a história como o PEC IV), Passos derrubou um Sócrates visivelmente desgastado ao terceiro round.
Passos Coelho chegava a primeiro, após uma intensa preparação de anos a fio. O seu treinador finalmente tinha um número um.
A seguir veio o murro no estômago que levou Passos ao tapete pela primeira vez. A agência de rating Moody's é um opositor feroz, que já tinha derrotado Sócrates, mas desta vez o promotor e ex-boxeador Cavaco ajudou Passos a voltar ao ringue, mais feroz que nunca.
A seguir veio a segunda ida ao tapete. João Jardim, um veterano, experiente e sabido atacou o ponto fraco de Passos, o estômago, mas Passos conseguiu recuperar. Copiando o estilo de Cavaco, conseguiu passar incólume, deixando a João Jardim o título regional.
Foi então que os homens de Passos lhe arranjaram um combate mais fraco, no entanto muito mediático, para Passos voltar à ribalta. Seria contra a classe média portuguesa. E ao fim do primeiro round já Passos tinha dado três murros no estômago e um gancho de direita bem no meio do nariz da indefesa e descuidada classe média. A mesma que até tinha apoiado Passos no combate contra Sócrates.
Vem aí no entanto, um combate bem mais duro, o Povo. A princípio diziam que era brando, mas isso revelou-se um logro, mais uma estratégia para o tentar diminuir. No entanto, o Povo começa a ganhar músculo, inteligência e já não se deixará enganar pelos ganchos de direita de Passos. Os próximos combates do Povo, contra a Troika e contra Passos serão decisivos. Ou o Povo regressa a número um onde já esteve, ou é derrotado e termina a carreira. Eu aposto no Povo. Mas aposto pouco.





quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Justiça que temos é a que nos dão

A Justiça em Portugal é um dos maiores problemas que urge resolver/reformar. Tudo o que foi feito após 25 de Abril de 1974 foram catadupas de remendos que se tornaram banais. É como uma ferida que não sara e sobre a qual é aposta penso sobre penso, às vezes retirando um usado e colocando outro, como um cartão de sócio de um qualquer clube, em que se colam quotas sobre quotas, sem remover as anteriores. Preguiça, comodismo. Acrescente-se à Justiça a falta de visão, por tal não ser o caso do exemplo do inocente cartão de sócio.
Á amálgama (orgias para usar uma expressão muito em voga) de legislação diária, juntam-se os interesses de quem não quer que o sistema mude. Assim, o legislador vive do expediente diário da vida política, o tapar de buracos (outra expressão da moda) é o dia-a-dia de qualquer deputado, assessor ou governante. A falta de uma visão estratégica para vigorar 30 ou 40 anos. A falta de coragem e o populismo imediato que impede uma verdadeira reforma contra os interesses instalados mas a favor do cidadão. O remendo usa-se para durar uns meses e quem vier a seguir que feche a porta.
O Ministério Público refugia-se no sindicato, e os Juízes no Conselho Superior. Nenhum deles cumpre prazos porque a isso não são obrigados. São independentes e acima de qualquer suspeita. São cidadãos com uma auréola de verdadeiros deuses. Não todos como é evidente. Os Advogados usam de manobras dilatórias para atrasar os processos? Sim, às vezes. Mas só quando a lei ou o Juiz permitem. Se não o permitirem, a dilação não pega nem pode ser usada.
Tudo isto a propósito do caso Isaltino Morais. A lei permite mais dois 'recursos'. Não lhe pode ser humanamente exigível que não os utilize. Os juízes têm prazo para julgar os recursos? Não. Já devia estar preso há muito tempo? Provavelmente. Foi detido indevidamente há uma semana? Vergonhosamente. Tudo a fazer lembrar outros casos do passado e em que se prova que ninguém aprende nada neste país. Num país pequenino de egos enormes, tudo é feito ao sabor do imediatismo mediático, dos minutinhos de fama, dos donos da verdade, e das almas preenchidas de atenções vazias de sentido.
A Justiça em Portugal é assim, ao sabor do vento, das classes e corporações, do mediatismo, do déspota que tudo sabe, do chico-esperto que tudo fura, e da justiça aplicada a metro.
Esta semana já ouvi e li a Ministra da Justiça actual e uma outra anterior falar da urgência de acabar com as manobras dilatórias na Justiça. Tudo a reboque do presidente de Oeiras. Obviamente que o fundo da questão é o medo, o perigo, o terror, o papão chamado prescrição criminal.
Quando se fala em prescrição de crime, é preciso saber que tal é uma garantia Constitucional. Os fins das penas, de prevenção, e de punição, apenas se justificam num espaço temporal em que a sociedade e o meio façam depender que um qualquer individuo prevaricador seja punido. Não se justifica que alguém seja punido por um crime de furto ocorrido há mais de 30 anos, quando na altura até só tinha 18. Já foi esquecido, e a pessoa também já não é a mesma. Já um caso de homicídio será diferente, mas por isso é que os prazos de prescrição também variam. Sem contar com as interrupções e suspensões da prescrição que agora seria maçador tentar explicar, para mim e para quem eventualmente estiver a ler.
O que verdadeiramente enerva é que uma já lá esteve e nada fez, falo de Celeste Cardona, a outra nunca se teria lembrado de tal, como não se lembrou durante a campanha ou no programa do governo, se não viesse a reboque de um caso mediático. Se fosse um caso parecido, mas em que o arguido se chamasse Zé Sempre em Pé, ninguém falava em manobras dilatórias por estes dias. Aposto 10/1 em como nada será feito também nesta legislatura.
Muito mais ficou por dizer, nomeadamente da promiscuidade entre o MP e o Juiz, que quase trabalham juntos, e partilham muitas vezes o mesmo espaço. Não defendo o sistema americano, mas aqui eles têm toda a razão. Fica para outra oportunidade.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A diplomacia cobarde da Palestina

A história dos dias é muito comprida, mas vou tentar resumir em poucas linhas séculos de história, com todas as óbvias imprecisões que daí possam resultar.
As raízes do conflito Israelo-Palestino remontam aos fins do século XIX quando colonos judeus começaram a migrar para a região da Palestina. Sendo os judeus um dos povos do mundo que não tinham um Estado próprio, tendo sempre sofrido por isso várias perseguições, puseram em marcha o projecto sionista - cujo objectivo era refundar na Palestina um estado judeu onde antigamente ficava o reino de Israel, conquistado pelo império Otomano. Entretanto, a Palestina já era habitada há séculos por uma maioria árabe. Com a chegada dos judeus, as tensões começaram a surgir. Após vários Acordos e Conferências, em 1922 a Liga das Nações atribuiu a soberania da região ao Reino Unido, que, por sua vez em 1947, não sabendo e não querendo resolver o conflito que continuava latente com massacres e atentados dos dois lados, abandonou a região.
Em 1947, a recém criada ONU, através da resolução 181, propôs a criação de dois Estados independentes na Palestina. Em 1948, a Agência Judaica proclamou a independência de Israel. Nesse mesmo ano, a Síria, o Egipto, o Iraque, a Jordânia e o Líbano invadem a Palestina, com o argumento de que as populações são na sua maioria árabes e que o Estado de Israel é ilegal, assim como a resolução da ONU. Com o fim da luta armada, Israel passa a controlar metade da Palestina, a Jordânia controla a Cisjordânia e a Faixa de Gaza é controlada pelo Egipto. Até 1967... em seis dias, (daí a Guerra dos Seis Dias) Israel invade a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, os Montes Golã e Jerusalém oriental, alargando e reocupando esses territórios, resultando daí milhares de refugiados. Nasce então a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), todos se lembram de Arafat e da Autoridade Palestiniana, das intifadas, das resoluções da ONU constantemente violadas por Israel, de Rabin, Netanyahu  e Sharon e dos inúmeros acordos e negociações de paz, falhados.
Na semana passada, a Fatah reclamou nas Nações Unidas um Estado para a Palestina. Só que para isso ser solução precisa de um Governo legítimo e legitimado nas urnas, tribunais independentes e imprensa livre. A Fatah e o Hamas estarão em condições de o garantir? Duvido. Israel tem direito à sua defesa e segurança? Tem. Mas o sistema de defesa de Israel, assente na colonização da Faixa de Gaza e da Cisjordânia não facilita o processo.
Portugal foi eleito para o Conselho de Segurança da ONU, eleito em grande parte pelos países árabes e com o voto contra de Israel. Quisemos lá estar para podermos ter influência e voto na matéria, certo? Portas e Passos Coelho disseram nim ao processo. Ou seja, Estado da Palestina sim, desde que negociado com Israel, ou seja nas condições que eles impuserem. Os americanos assim o disseram, os cordeiros vão atrás. Israel impõe mais uns quantos colonatos, e já têm base para negociações por mais 40 anos. O único Estado palestino que Israel reconhecerá será um território de 50 Km2, na faixa de Gaza, rodeado por um muro de 30 metros de altura e cercado por canhões. Se a Palestina não tem direito a Estado na sua própria terra são o quê? Apátridas? Obama recuou, e com ele toda a margem de negociação ficou limitada à vontade de Israel. Os EUA continuam a ter uma visão mercantilista do conflito, apoiando Israel no controlo do Médio Oriente e claro do petróleo que lhe está subjacente. O lóbi pró judaico-americano continua também a ditar regras sobre todos os presidentes norte-americanos, e ainda não houve nenhum que não se acobardasse. As generosas contribuições dos judeus nas campanhas eleitorais americanas assim o ditam. Judeus e cristãos fanáticos que acreditam que Israel é a linha da frente do combate contra o Islão. A UE continua a não ter uma voz única e influente, distraída com as tiradas económico-colonialistas de Merkel. Se acha que Estados europeus deviam perder soberania, muito menos aceitará atribui-la à Palestina. A nova Alemanha com vícios antigos...
A resolução do conflito só se fará quando os EUA quiserem, ou quando a UE tiver voz respeitada e influente. Com dois Estados independentes na região. Não será no meu tempo...



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A dieta Thatcher

1- O Estado obeso é a imagem caricaturada que se nos apresenta como meio de justificar os tão apregoados cortes na despesa, SNS, escola pública e no sector empresarial do Estado. O corte nas gorduras do Estado, como um qualquer concorrente do programa da SIC 'Peso Pesado', deveria implicar exercício físico aliado a uma saudável dieta. Ao mesmo tempo que se reduzia na alimentação sem regra, substituindo-a por outra mais saudável e rica, punha-se o Estado a correr e a ganhar músculo. Ora, a receita que nos apresentam, como cura milagrosa, é nada mais, nada menos, que uma lipoaspiração.
A orientação ideológica de Passos Coelho e seus pares, escudada num acordo com a Troika, visa a fragilização do trabalho, ainda que com medidas que possam inclusivamente atropelar a Constituição, vejam-se as novas medidas anunciadas para acrescentar à licitude do despedimento individual (incumprimento de objectivos e quebra de produtividade). Estas medidas a serem aprovadas, de tão genéricas e discricionárias que são, fragilizam as relações laborais e flexibilizam os despedimentos.
Os dividendos, os juros e o capital não são taxados, em primeiro lugar por uma questão ideológica, em segundo lugar porque é mais fácil ir buscar receita ao trabalho da classe média que trabalha por conta de outrem. Os arautos da economia discutiram até à exaustão a famosa taxa Buffet, para eventualmente poder ser aplicada em Portugal, não chegando a conclusão nenhuma, porque a cientificidade empírica do imposto sobre o património era muito difícil de alcançar. Amorim é um assalariado, Berardo tem um empréstimo de 360 milhões na CGD, que pediu para tomar conta da direcção do BCP, amortizável em acções que não valem um rebuçado, e os cortes que nos impingem são feitos nas prestações e nos apoios sociais, na educação, na saúde e na cultura.
A política de privatizações, em vez de fortalecer o Estado, onde ele é mesmo necessário, vende ao desbarato, numa política cega de terra queimada, sem qualquer estratégia, deixando o Estado afastado dos centros de decisão e indefeso do ponto de vista económico. Ex: se venderem a TAP a Espanha, o tráfego para África será feito a partir de Madrid. Ora, África é precisamente para onde Portugal exporta mais. Sem me alongar mais, Águas de Portugal, GALP, REN, e outros case study de um modelo Thatcheriano aplicado 30 anos depois, irão desmoronar qualquer castelo de esperança e atirar-nos para uma profunda recessão endémica, comparticipada a galope do desemprego, da especulação e da crise das dívidas soberanas, que entraram pelo buraco aberto pelos nossos próprios erros e falhas.
Com tudo isto, teremos um Estado balofo, com menos peso é certo, mas sem músculo, deixando a sociedade abandonada à sua sorte, sem confiança nas instituições, porque tudo o que é público, ou não existe ou não tem qualidade. A iniciativa privada terá então a missão de fazer renascer das cinzas um Portugal amordaçado. A fé irracional neste sistema irá desagregar e desestruturar toda a construção conquistada em democracia de um Estado Social mais justo e eficaz. Até porque já se sabe que o nosso tecido empresarial, não é suficiente nem forte, para poder competir com a especulação financeira e com o impasse negligente e a incapacidade da Europa.

2- O dr. João Jardim escondeu deliberadamente as contas. O dr. João Jardim apela ao separatismo e à desordem. O dr. Jardim goza com a cara de toda a gente e ainda se vangloria em orgias de vinho e inaugurações. Se outros deveriam ser responsabilizados criminalmente como ouvi dizer há uns meses, o dr. João 'cratera' Jardim devia ser extraditado para a Venezuela ou para o Irão...
Passos Coelho na entrevista dada à RTP, para além de não ter ideia nenhuma de dinamização da economia, admitiu uma renegociação da dívida com a Troika. Em Junho isso era uma blasfémia... Cavaco continua sereno e calado como habitualmente. Terá engolido algum sapo com sabor a banana?

3- O reality-show da TVI 'Casa dos Segredos 2', é talvez o pior lixo televisivo a que tive «oportunidade» de assistir (sim, consegui perder 5 minutos), feito à base de pessoas semi-nuas em estado de morte cerebral.




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Carta aberta



Ministério da Justiça
Praça do Comércio
1149-009 Lisboa


Exma. Sra. Ministra da Justiça do Governo do Estado de Portugal

Assunto: Débito/Apoio Judiciário
                 
Exma. Senhora,
Os meus cumprimentos.
Como bem sabe V. Exa., permanece em dívida o valor de 29.770.917,59€, a que acrescem juros vencidos e vincendos que se liquidarão em momento posterior, referente a defesas oficiosas por parte de quase 10.000 advogados portugueses, quantia que V. Exa. se comprometeu a liquidar, o que, todavia, não sucedeu, até ao presente momento.
Com efeito, por várias vezes, contactaram com V. Exa., com vista à resolução extrajudicial do assunto, mas não  se obteve qualquer êxito.
Atento todo o exposto, fico a aguardar o contacto de V. Exa., no prazo máximo de 5 dias a contar da recepção desta carta, para liquidar a quantia supra referida, acrescida dos juros de mora, entretanto, vencidos.
Caso contrário, ver-me-ei forçado a intentar, de imediato, acção judicial contra V. Exas., para cobrança coerciva da quantia em débito, com os inerentes encargos e custos para ambas as partes, sem no entanto prescindir do direito de retenção a que alude o artigo 795º e ss. do Código Civil. Neste caso, reserva-se o direito de não liquidar os impostos devidos até V. Exa. liquidar a dívida supra referida.
Sem outro assunto de momento, reitero os meus cumprimentos e subscrevo-me.

                                               Atentamente,



P.S. Dispõe o artigo 795º do Código Civil: 'O devedor que disponha de um crédito contra o seu credor goza de direito de retenção da coisa que deva entregar se o seu crédito resultar de despesas feitas por causa dela ou de danos por ela causados.'

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O mundo em mudança

Onde estava no 11 de Setembro de 2001? O que mudou no 11 de Setembro de 2001? São por estes dias as perguntas mais repetidas. No meu caso, à primeira pergunta, pouco interesse terá a sua resposta. Quanto à segunda pergunta, a sua resposta já poderá ser mais pertinente. Sendo assim, o que mudou no 11 de Setembro de 2001? Resposta: nada ou quase nada. Senão vejamos. Os EUA invadiram dois países, Iraque e Afeganistão, afinal de contas tinham a desculpa perfeita. Lembram-se das armas de destruição massiva? 10 anos volvidos, o bodybuilding americano está feito, não fora a crise económica. O petróleo está mais ou menos controlado, e a indústria de armamento está refeita e próspera. Pelo meio, mataram Bin Laden, aliado de outros tempos, quando dava jeito armá-lo contra a invasão russa do Afeganistão, e mataram também Saddam Hussein, à segunda, porque na primeira guerra do golfo não deu jeito. Ambos executados sem julgamento.
É certo que o 11 de Setembro foi um duro golpe, ou se quiserem, murro no estômago, no orgulho bacoco dos EUA. É certo que morreram muitos inocentes. Morreram muitos mais a seguir.
O que verdadeiramente mudou o mundo foi a crise internacional de 2008. Que começou nos EUA. Coincidência ou talvez não. O que mudou foram as economias emergentes que transformaram o mundo bipolar. A China, o Brasil, a Índia transformaram-se em potências económicas à custa da UE, dos EUA e da Rússia.
O que mudou foi a 'primavera Árabe' de 2011. O despertar da democracia, do diálogo e do respeito. Da tolerância e da liberdade. A demonstração cabal de que é possível ser muçulmano e viver em democracia, como o provam a Turquia, a Malásia e a Indonésia. Aliás a jihad e a Al-Qaeda só agora perderam a guerra, com a rejeição das extensas camadas populares a que se dirige. O terrorismo existirá sempre, mas nunca mais da mesma forma.
O que não mudou foi a política sectária, de interesses e de controlo de recursos. Se a NATO, a ONU e os próprios EUA nada tiveram a dizer na Tunísia, pouco fizeram no Egipto. Já na Líbia, quando o 'amigo do petróleo' Kadafi, ficou em risco de não poder controlar o ouro negro e os seus negócios, o bombardeamento da NATO é uma vergonha só comparável ao silêncio castrador do conflito Israel-Palestina. É só reparar na diferença de tratamento e na atenção dispensadas à Síria. É ver as imagens da visita de Cameron e Sarkozy à nova Líbia e as imagens da visita que não fizeram à Tunísia e ao Egipto.
O mundo não mudou no 11 de Setembro de 2001. Mudou uns anos mais tarde.
Os tempos que vivemos, embora difíceis, são extraordinários. Desde a 'primavera Árabe' e os desenvolvimentos que daí possam surgir (com o impacto que terá na Palestina), passando pelo sim ou sopas da UE, em que assistiremos ou ao seu desmoronamento ou ao seu federalismo, terminando numa nova ordem mundial de capitalismo de estado, com a ascensão da China e do Brasil, e a viragem à esquerda da Europa (ontem na Dinamarca, amanhã na Itália, na França e na Alemanha).
O mundo está a mudar hoje, é preciso saber acompanhá-lo...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O técnico - parte 2

Paulo Macedo é um técnico e é independente, ou seja, está fora do âmbito da política de carreira. Não que isso tenha qualquer significado pejorativo, mas as pessoas têm tendência para olhar de soslaio para quem faz da política profissão. Aliás, esquecendo-se por vezes, que todos fazemos política de cada vez que a discutimos. E que sem ela a democracia não funciona. Deve sim, criticar-se a politiquice de supermercado, demagógica e populista, assim como aqueles que se servem da política para prossecução de fins pessoais em vez do serviço público.
Continuando, Paulo Macedo foi director geral das contribuições e impostos no governo de Sócrates onde teve óptimos resultados na eficiência dos serviços e por conseguinte, na maior capacidade de cobrança de impostos e melhorias significativas no combate à evasão e fraude fiscais. Até aqui tudo bem. O problema surge, quando se põe um técnico à frente do Ministério da Saúde. Já na pasta das finanças, o técnico é benvindo, se for equilibrado, claro está. Mas na Saúde, as pessoas não podem ser vistas como números. Concordo que se combata o desperdício, que se organize o SNS, para uma melhor eficiência e qualidade dos serviços. Não concordo que se desbarate e destrua o SNS com cortes cegos que irão levar à atrofia da maior conquista da democracia portuguesa. A universalidade do nosso SNS é o mais bem sucedido serviço público de toda a Europa. A agenda liberal do PSD já deixou claro querer acabar com o acesso universal e tendencialmente gratuito, o que implica o pagamento por parte dos cidadãos no momento em que mais necessitarem de cuidados de saúde.
O técnico que só vê números e não pessoas, corta nos subsídios, nas subvenções, nas comparticipações dos medicamentos (os pobres já não podem ter filhos, porque só as vacinas obrigatórias, mais a da meningite vão passar a custar um salário mínimo nacional), aumenta as taxas moderadoras sem distinguir quem pode pagar e quem não pode, e reduz as isenções. O técnico esquece que os acordos e parcerias do SNS com os privados equivalem a 43% do dinheiro gasto com o mesmo. O técnico fecha urgências, corta no transporte de doentes e nos exames de diagnóstico, e corta 50% nos incentivos para a recolha de órgãos para transplantes, sem se importar que Portugal faz parte do top 10 mundial de transplantes e de recolha de órgãos, e sem se importar com o custo que poderá ter em vidas humanas. O técnico não se importa com a destruição do SNS, deixado para os pobres e indigentes, com cada vez menos qualidade e com a fuga para o privado dos melhores médicos a quem o público não consegue pagar salários concorrenciais. O técnico quer e exige resultados. As pessoas vêm a seguir. Não tarda nada, e não sei se não será esse o objectivo, quem tem dinheiro vai ao privado, quem não tem morre no público. Descapitalizar o SNS significa um serviço público de segunda para os mais desfavorecidos, e um serviço privado de primeira, pago pelo Estado, para os mais ricos. Acaba-se com a universalidade de um bom serviço público e financia-se o privado à custa de vidas humanas. Devem ser estes os cortes na despesa que este governo já fez.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O técnico

O novo Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, é um técnico. A expressão utiliza-se quando se quer fazer a distinção para os políticos. Ser político por esta altura poderá não ser um emprego muito popular. Daí que os técnicos independentes sejam à partida uma mais-valia para qualquer governo. Principalmente se estiver a coordenar a 'tentadora' pasta das finanças. Ele aumenta os impostos quase todos os dias, ainda não tomou nenhuma medida de corte na despesa, mas como é um técnico ele é que percebe. É sempre bom ter um técnico a gerir as finanças. Se fosse um político poderia confundir-se com o partido, ou com interesses instalados e agarrados ao poder. Assim um técnico pode usar de uma independência que só a sua qualidade como tal pode ousar exercer. Sucede que, como tudo na vida, poderão existir alguns handycaps. Nomeadamente não perceber nada dos bastidores da política, o que é um claro elogio ao técnico, só que o técnico pode não gostar de dar entrevistas, ou porque não tem a veia propagandista do político, ou porque simplesmente não gosta de estar a explicar verdades insofismáveis aos leigos que o poderão estar a ouvir, ou então porque é simplesmente uma chatice e uma perda de tempo. Poderá também surgir a situação desagradável de dizer aquilo que não convém. Assim, a entrevista que o técnico Vítor Gaspar deu aqui há tempos a um canal televisivo foi confrangedora e embaraçosa, porque o técnico 'não gosta nem tem jeito para dar entrevistas'. Ontem, disse que a situação da Madeira é insustentável. Ora, se fosse político, jamais poria em causa a estratégia de um peso pesado do partido que sustenta o governo. Se fosse político diria que havia um desvio colossal nas contas públicas, mas escondia que um quarto desse desvio vem da Madeira, propriedade do dr. Alberto João.
Senão, veja-se a diferença. O que disse o visado, quando confrontado com um buraco de 500 milhões de euros?
"O que se está a passar foi aquilo que já avisei o povo madeirense: é mobilizar-se a comunicação social do continente, mobilizar-se, agora, até neste caso, os próprios sectores da União Europeia que são afectos à Internacional Socialista e que estão a trabalhar neste grupo da 'troika', a Maçonaria mobilizou tudo quanto podia em termos de utilizar este período para atacar a Madeira".
Aqui temos o exemplo de um político que não é técnico, mas que atira para tudo o que mexe. Assim, mete-se ao barulho a Internacional Socialista e os Maçons, e pode ser que as pessoas se confundam, aproveitando para dar uma facada na esquerda. Confesso que me confundiu com aquela da maçonaria. Se é certo que a troika e as suas medidas são tudo menos de esquerda, a maçonaria não sei quem são, nem o que fazem. Outra explicação é a normal, endividou-se para fazer face à política do Sócrates. Há quem se endivide por necessidade, por desleixo ou por ganância. O dr. Alberto endividou-se, a ele e a nós, porque tem o mundo contra ele, principalmente se for de esquerda. O dr. Alberto não é com certeza um técnico, e o dr. Gaspar não é de certeza um político. Mas o buraco lá está, à espera que os do costume o tapem. Agora, se me dão licença, vou só ali ao banco contrair um empréstimo para alguém pagar.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sinais dos tempos

1- É costume dizer-se que só existem duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Quanto à primeira vou abster-me de comentários, é certa, imprevisível e quase sempre injusta. Curiosamente os impostos têm mais ou menos as mesmas características. Para além de certos, para quem trabalha como é óbvio, a sua imprevisibilidade tem sido uma constante nos últimos tempos, o que gera instabilidade e desconfiança. Até porque sabemos que vêm aí mais, só não sabemos é como e quando. E na grande esmagadora maioria dos casos são sempre para os mesmos. Os mesmos que os pagam descontando do produto do seu trabalho. A injustiça esconde-se na forma como são cobrados, distribuídos e aplicados. É já bem conhecido de todos a forma como se taxa cegamente neste país, quer através de impostos extraordinários sobre o trabalho, deixando de fora o capital, aumenta-se o IVA na electricidade e no gás, sem qualquer preocupação social, aumentam-se as taxas moderadoras indiscriminadamente e de forma uniforme, sem olhar às diferenças entre quem pode pagá-las ou não, baixa-se a Taxa Social Única, entregando às empresas o dinheiro dos trabalhadores, aumentando o desemprego em vez de o diminuir como se aponta em todo o lado. Taxa esta que iremos pagar com o mais cego dos impostos: o aumento de pelo menos 2% no escalão máximo do IVA. Sim, outra vez. Dão-se isenções fiscais aos patrões e à banca, que já pagam menos que todos os outros juntos, e por fim liberaliza-se o despedimento e desbaratam-se as respectivas indemnizações. A aplicação e a distribuição do resultado da cobrança desses impostos é para pagar a quem devemos e para recapitalizar a banca. É triste mas é verdade o nosso fado. Sinais dos tempos. 
E pensar que na Madeira, onde a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres é das maiores entre todas as regiões europeias, destino turístico onde pululam caciques e abençoados pelo Governo Regional, onde alguns têm um paraíso fiscal e os outros ou são alinhados ou são filhos da puta, onde a censura não tem vergonha, tem um desvio colossal de 277 milhões de euros para uma população de 267 mil habitantes. Se fosse no continente equivaleria em proporção a mais ou menos 13 mil milhões de euros. Coisa pouca. 

2- Mira Amaral lá conseguiu através da Sonangol ficar com a presidência do BPN, num negócio ruinoso e mal explicado, e que mais uma vez vai ser pago com os impostos dos suspeitos do costume. Parafraseando Miguel Sousa Tavares no Expresso: '...muito conveniente para arquivar o passado comprometedor da confraria bancária do cavaquismo’. Não diria melhor. 
A mesma Sonangol que através de negócios obscuros e num consórcio de raízes duvidosas, a China Sonangol, com sede em Hong Kong, é responsável pela exportação de mais de 20 mil milhões de euros anuais para a China em petróleo e diamantes, com o respectivo branqueamento de capitais e o produto dessas exportações a serem canalizadas para contas privadas, com graves conflitos de interesses entre o governo angolano e empresários chineses, onde se fala de roubo ao estado angolano e portanto não admira que José Eduardo dos Santos compre mansões no algarve por 14 milhões de euros e a filha compre bancos e aquilo quer quer cada vez que cá vem. Pode ser que a primavera do jasmim chegue a Angola. A Líbia já está, venha a Síria e o Irão e estarão criadas as bases para a democracia imperar em todo o continente africano. Para mais informação sobre os negócios secretos e obscuros entre Angola e a China vejam o 'The Economist', aqui.

3- Warren Buffett, americano e terceiro mais rico do mundo, veio a público dizer que devia pagar mais impostos porque tem isenções a mais. Porque paga menos, comparando proporcionalmente com os seus trabalhadores. Porque é tempo de os governos deixarem de apaparicar os ricos. A reboque deste, vieram dizer os 16 mais ricos franceses que querem participar no esforço da crise e propuseram um imposto extraordinário para o efeito. Se os mercados funcionassem assim, com exemplos destes, até podia ser que funcionassem bem. O problema é de quem governa e deste capitalismo de casino que inventou esta crise  geradora de greves e tensões sociais, que não soube gerir, nem quis solucionar. Não sou contra os ricos, sou contra os pobres (no sentido de que desejava que não existissem pobres, bem entendido). Por cá Américo Amorim diz que não é rico. Tem razão. Afinal não há ricos em Portugal. Resumidamente, sem um sistema fiscal justo e equitativo, sem pessoas sérias e corajosas, sem líderes, a gestão da crise será feita nas ruas, quer eles queiram quer não. Alguns dos mais remediados, por assim dizer, começam a abrir os olhos em defesa das suas posses, porque também sabem que este tipo de capitalismo não prospera com tensões sociais. Sinais dos tempos.

P.S.- Só uma pequena nota para dizer que o que se passa entre Angola e a China nada tem a ver com capitalismo, apenas com roubo e ditadura.